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Dias perigosos para a juventude

A descoberta dos ossos supostamente da terceira jovem do trio que desapareceu desde o dia 5 deste mês, após sair da Expoacre, apagou a esperança de que um dos desaparecidos pudesse estar vivo. Falta a perícia concluir o laudo atestando a confirmação do corpo. Só que a família da jovem já dá como certa de que seria mesmo ela, após reconhecerem uma peça de roupa. São indícios de que o caso se encaminha para um fim. O final de mais uma trágica história.

Por incrível que pareça, o caso dos três adolescentes nos lembra que os dias de hoje, marcados por uma disputa cada vez menos oculta por território entre grupos criminosos organizados no submundo, não são fáceis para alguém ser jovem. É difícil conceber a ideia de que ser jovem é ruim. Muitos dariam tudo para reviver seus anos de glória. Ter um exagero de disposição, e se livrar daquelas dores incômodas. A ansiedade saudável de ter uma vida inteira pela frente.

É exatamente este último ponto que nossos jovens de hoje estão perdendo. É gritante, em meio às vítimas destes números de homicídios que se divulgam o tempo inteiro, no Acre ou em qualquer lugar do Brasil, o fato de a maioria ser meninos, meninas como esse trio recente, de 13, 14 anos, e que já selaram seu encontro fatal com o destino. Nem descobriram o que é viver direito, e já perderam tamanha dádiva divina, iludidos pelos riscos de uma época vil.

 

“Não são só os jovens que precisam mudar o mundo. Somos nós. É nossa culpa também.”

 

 

Daí, eu pergunto: o que vale mais, a juventude, ou o risco de perder a vida?

Eu lembro bem como era ser adolescente, antigamente. E não faz muito tempo não. Era o início dos anos 2000, o despertar de um novo século. Tudo eram gírias relacionadas à internet, “surfar na rede”, “gigabytes”, “mundo digital” e agradecimentos pelo mundo não ter acabado na virada do milênio. A sensação era de grandes descobertas, do potencial das oportunidades que o futuro nos reservava e a boa expectativa dos frutos que nossa geração traria.

Ser jovem hoje é bem mais complicado. Não há segurança. A vida perdeu muito do seu valor. O mundo andou rápido demais, num ritmo que não sobra emprego e esperança para todos (em breve, vão faltar recursos também). As desigualdades que antes eram grandes se transformaram em abismais. Talvez estejamos chegando a um ponto em que elas começam a ser irreversíveis. Nossa juventude começa a se sentir impotente, perdida, vulnerável, ociosa, tentada a ir por caminhos mais fáceis.

Isso precisa mudar. Não são só os jovens que precisam mudar o mundo. Somos nós. É nossa culpa também. Eles estão recebendo o mundo que estamos deixando, e a herança não é das melhores. Passe a mão na sua consciência e reveja os valores que você está deixando aos seus sucessores. Nunca é tarde para começar a fazer diferente, a fazer o certo.

 

TIAGO MARTINELLO  Jornalista  

Fabiano Azevedo: