Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Esquecidos em um poço

“Nossos jovens estão morrendo antes

mesmo de crescer, de se formar, de ter

um emprego ou família”

 

O que muito se temia enfim acabou acontecendo. O medo está em todos os lugares. A violência e a insegurança são a nova realidade na vida do acreano. E não vou mentir que talvez não tenhamos chegado ao ápice dessa forte crise na segurança pública.
Quem tem adolescente, irmão, criança em casa deve saber bem a sensação de terror ao pensar que algo ruim pode acontecer a eles em atividades simples como ir e voltar da escola. Alguns amigos já dizem que seus filhos estão proibidos de irem ao portão sozinhos. Não dá para confiar em nada e em ninguém.
E como poderia ser diferente? Nossos jovens estão morrendo antes mesmo de crescer, de se formar, de ter um emprego ou família. Eles não têm chance. Alguns são aliciados, outros mortos por engano ou por vingança. Os crimes são cruéis e nos fazem lembrar do tempo obscuro do Esquadrão da Morte em que saiam estampados em alguns jornais anúncios da lista dos ameaçados para morrer.
Com o auge das redes sociais, os membros de facção exibem poder. E diante disso, não devíamos nos sentir tão desamparados, mas estamos.
A polícia trabalha e muito. Ela tem feito a sua parte, mas o Acre precisa de mais. Precisa de mais efetivo de agentes, precisa fechar as fronteiras e controlá-las, precisa de opção e educação para que o crime não pareça tão atraente aos jovens.
Contudo, enquanto nos viramos nos trinta tentando sobreviver às balas perdidas, às ameaças e ao medo de sermos os próximos nessa guerra entre facções, vem a ministra Cármen Lúcia declarar surpresa com a situação dos presídios no Acre. Como se o que vem acontecendo no estado fosse novidade.
O povo acreano não quer expressões impactadas, nem a comoção vazia das autoridades. O povo quer medidas práticas, eficazes e urgentes para controlar a violência.
Caso o Brasil não acorde para o que está, infelizmente, acontecendo aqui, muitos outros jovens como Isabelle e Vitor morrerão. De fato, todos nós estamos um pouco esquecidos no fundo de um poço.

 

* Brenna Amâncio é jornalista.
E-mail: brenna.amancio@gmail.com

Sair da versão mobile