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Engenheira descobre talento para costura e artesanato e abre ateliê em Rio Branco

Natural do Paraná, Araceli Vogel, de 40 anos, é engenheira civil por formação e empreendedora por vocação. Especialista em produzir enxovais para bebês, seu talento reflete nas peças extremamente delicadas e com acabamento impecável. Seus produtos já foram enviados para mais de 15 estados brasileiros.

Mas o que poucas pessoas sabem é como a engenheira civil tornou-se artista. Em 2001, após se formar em engenharia, Araceli foi trabalhar com seu pai na administração das quatro empresas da família. Dois anos mais tarde, com a morte de seu pai, a família precisou tomar conta dos negócios.

“Eu trabalhei de 2003 até 2017 nessa empresa. Com a crise econômica que começou há dois anos, nós fomos enxugando as empresas. De quatro ficamos com apenas uma. Nosso trabalho, naquela área, era muito estressante. Nós trabalhávamos com meta e a realidade do mundo não era a do Brasil, estávamos em recessão”.

Paralelo ao trabalho da empresa da família, Araceli fazia projetos para uma empresa de engenharia, afinal, sempre foi um sonho atuar na sua área.

“Quando eu comecei a fechar as lojas eu já vinha procurando meu mercado de trabalho e trabalhando em uma empresa paralelamente numa empresa de engenharia, fazendo projetos. Mas a empresa faliu, a recessão fez com que a empresa fechasse. E o mercado de trabalho de engenharia civil está complicado, não está admitindo e nem conseguindo absolver a demanda de profissionais que estão se formando”.

Vendendo a arte

A história do ateliê começou com uma brincadeira, quase uma reprodução do meme em que uma estudante diz que “quer vender sua arte na praia”. Araceli e seu marido, que é dono de uma autopeças especializada em conserto de motos e quadricilos, viajavam pelo nordeste quando surgiu a ideia de sair do Acre para morar em Jericoacoara.

“Nós estávamos em Jericoacoara quando uma pessoa comentou com a gente que lá tinha mais de 400 quadricilos, e perguntou se ele não tinha vontade de morar lá. Meu marido disse que sim, olhou pra mim e perguntou o que eu iria fazer. Estávamos passando e eu vi uma loja de artesanato e disse: artesanato! Mas assim, foi uma brincadeira”, recordou.

Ainda sem saber das suas habilidades com o trabalho manual, a engenheira seguiu viagem de volta para o estado. Pouco tempo depois, mais uma vez, a ideia de produzir suas próprias peças bateu a sua porta.

Dessa vez, o desafio era encontrar um porta-bolsa para o quarto de sua filha. “Minha filha nunca foi dessas meninas que queriam tudo rosa, por exemplo, a cor dela sempre foi azul tiffany. E ela me pediu um porta-bolsa azul tiffany, eu rodei a cidade toda, todas as lojas de decoração e nada com azul tiffany. Foi quando uma amiga chegou pra mim e disse: porque você não faz?”.

Dito e feito. Sem opções prontas na capital acreana, Araceli foi em busca de lojas especializadas na venda de produtos para artesanato. Em um dos estabelecimentos ela conheceu a proprietária, que também ministrava cursos de artesanato.

“Desde a primeira aula eu nunca mais parei por que eu fiz um quadro pra ela, e já me pediram pra fazer outra coisa. A própria professora disse que eu tinha um dom, que nenhuma das alunas dela tinha feito uma coisa tão rápida e tão bem feita. A partir daí tudo foi se encaminhado, comecei a fazer aulas e mais aulas”.

Ateliê Araceli Vogel

Desde o primeiro dia de curso de artesanato a produção de Araceli não parou. Mas, aos poucos, ela foi encontrando o seu público. Até então, ela confeccionava porta-trecos, porta-joias, quadros, espelhos, artigos de decoração em geral, entre outros.

Após fazer um curso de costura de três meses, a engenheira descobriu qual seria o carro chefe do seu ateliê: enxovais completos para bebês. Desde setembro de 2017, a empreendedora confecciona e envia enxovais para todo o Brasil.

A produção de um enxoval dura em média dez dias. Araceli trabalha cerca de oito horas por dia, mas já chegou a virar noites de trabalho para atender toda a demanda. Toda a matéria-prima utilizada por ela vem de fora do estado.

Além das peças para bebês, ela também produz cabanas infantis de tecido. Difícil não querer voltar a ser criança para brincar de casinha.

“São as cabanas para as crianças brincar, desenvolvidas para resgatar um pouco da infância que nós tínhamos. Na nossa época, sempre brincamos muito de fazer cabana com lençol, chamar as amigas, aquela tradição de crianças brincarem com outras crianças em casa, que foi algo que foi se perdendo. Hoje as crianças só ficam em tablets, celular, vídeo game”, explica.

Datas comemorativas também inspiram a artista, que já produziu árvores de natal de tecido e peças decorativas para a Páscoa.

Empreendedorismo

Empreender é de família, mas para Araceli representa algo a mais. Para ela, trata-se de trabalhar por amor.

“Costumo dizer que o ateliê é meu filho mais novo, quero muito dar continuidade. Fico imaginando no futuro, com várias funcionárias, como vou delegar. O bacana do ateliê é que é uma coisa de conhecimento próprio e não precisa ser fixo, então eu posso ir pra qualquer lugar. Hoje, com toda a venda através da internet você tem um pouco de estabilidade, por exemplo, se meu marido precisar ir pra outro estado eu continuo com a minha empresa por que eu a levo junto comigo, isso é uma das coisas que eu mais gosto”.

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