O relato a seguir é de uma mulher que por anos sofreu com violência doméstica. Ela preferiu não se identificar, mas aqui será chamada de Ana. A vítima abriu o coração, relatou traumas e comentou que as estatísticas não revelam a realidade do problema.
Durante quase cinco anos, Ana viveu com um homem que rotineiramente a agredia. “A primeira agressão foi um empurrão. O motivo? Porque tinha ido à mercearia no próprio bairro e não o avisei porque ele estava dormindo. Quando voltei, o mundo caiu na minha cabeça”, relembrou.
Após o primeiro episódio, Ana pensou e até tentou deixar o homem. “Além de depender dele financeiramente, eu o amava. Tinha esperança de que ele melhorasse. Vivi um verdadeiro inferno. Hoje eu vejo que era um amor que não valia à pena. Mas, precisei passar por tudo isso para dar valor a cada conquista minha”, destacou ela.
Para sair desse relacionamento abusivo, ela precisou da lei para garantir sua segurança. “Depois que sofri a pior das agressões. Eu tirei força nem sei da onde e procurei a polícia. Foi muito difícil, mas consegui. Porém, quantas mulheres sofrem violência doméstica e psicológica caladas e sozinhas?”, indagou Ana.
Hoje, ela está solteira, trabalha e vive um dia de cada vez. “Depois dele, não entrei mais em relacionamento amoroso. Acho que tenho um certo trauma. Só quem passa por uma situação como essa sabe. Mas, hoje estou feliz, mesmo solteira”, comentou Ana emocionada.
Histórias como a de Ana não são tão difíceis de encontrar. Ela mesma comenta que as estatísticas não correspondem à realidade.
Nesta terça-feira, 7, comemorou-se o aniversário da Lei Maria da Penha sancionada em 2006 e reforçada em 2015 pela Lei do Feminicídio. E, juntas, elas representam avanços no combate à violência doméstica e de gênero.
Em pouco mais de uma década de vigência, a Lei motivou o aumento das denúncias de casos de violação de direitos. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos (MDH), que administra a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, o Ligue 180, foram registradas no primeiro semestre deste ano quase 73 mil denúncias.
O resultado é bem maior do que o registrado (12 mil) em 2006, primeiro ano de funcionamento da Central. No Acre, de acordo com a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam), uma média de quatro mulheres sofreram violência doméstica por dia, em Rio Branco, nos seis primeiros meses de 2018.
O recente balanço mostra que foram instaurados 882 inquéritos por injúria, ameaças, calúnia, vias de fato, lesão corporal, perturbação da tranquilidade e outros. Além desses casos de violência doméstica, a delegacia atendeu 28 casos de estupro no primeiro semestre do ano.
Conforme o balanço, os números são menores do que os casos registrados em 2017, quando foram registrados 979 casos de violência doméstica e 13 de estupro, totalizando 992 inquéritos instaurados.
Em 2018, o número de mulheres agredidas pelos companheiros, namorados e maridos, entre outros, reduziu para 882. Porém, os casos de estupro aumentaram para 28. O crime mais registrado contra as mulheres é o de ameaça.
A Deam atendeu 370 mulheres ameaçadas no primeiro semestre desse ano. Logo em seguida aparece o crime de lesão corporal, com 284 casos.