“A sociedade humana, especialmente a sociedade urbana, deixou de ser gente. Não estamos mais enquadrados na definição final de pessoas, indivíduos. Agora, somos CONSUMIDORES!”
Modernos cientistas sociais, alguns bastante pessimistas, empregam extensiva abordagem em emitir juízos de valor a respeito das condições sociais em vigência nos quadrantes do Planeta Terra. Quase todos concordam que os valores são arquitetados a partir da experiência humana, embora continuem sujeitos ao juízo de “melhor e pior”. São avaliações morais, éticas e religiosas a respeito das condições da sociedade, dos atos pessoais e coletivos. Alguns desses julgamentos partem, por exemplo, da lei que faz os juízos de valor tornarem-se oficiais e obrigatórios para uma sociedade. As religiões, também, estão envolvidas até o pescoço, nessa questão de fazer juízos de valor; são regras e normas para todo lado, num dogmatismo implacável. Naturalmente um juízo de valor, com freqüência é algo subjetivo, condicionado pela cultura em que uma pessoa foi criada. Ademais, é necessário declinar alguns termos úteis relacionados à teoria de valores: A sociedade humana, especialmente a sociedade urbana, deixou de ser gente. Não estamos mais enquadrados na definição final de pessoas, sujeitos, indivíduos, cidadãos de bem ou quem sabe, do mau. Agora, somos CONSUMIDORES! Por exemplo: Uma empresa estatal, dessas que vivem a espoliar vergonhosamente os parcos recursos do povo, quando envia uma carta ou sua fatura ao cliente, trata-o como “Senhor Consumidor”. E mais: “é direito do CONSUMIDOR, etc. e tal!” Até o PROCON, que se diz defensor da gente, nos trata como consumidores. Aliás, a sigla PROCON quer dizer: Proteção e Defesa do CONSUMIDOR. Tudo cai no “colo” do consumidor. O ápice desse ajuizamento acontece a cada aumento dos derivados de petróleo, trazendo como conseqüência a majoração de tudo o que é útil e inútil no mercado. Todavia, o preço final sobra sempre para o CONSUMIDOR!
Deixando de lado, o meu “gueto” particular, a realidade é que o mundo entrou numa onda perigosa de consumismo exagerado. Tão perigosa quanto o tão badalado aquecimento da Terra. É inegável que a inclinação do homem da sociedade hodierna tem sido a satisfação imediata dos seus desejos. A começar pela televisão, o mais digno representante dessa filosofia de consumo exacerbado, onde com um controle muda-se para o canal que se deseja, numa verdadeira paranóia, passando pelo fantástico mundo da Internet, temos todos, a nossa disposição, ofertas que nos são oferecidas exaustivamente pela mídia, munição para todos os “nossos” desejos serem satisfeitos.
O homem tornou-se um voraz CONSUMIDOR! Sem escrúpulos, vale ressaltar!
Agora, no presente momento, a classe política nos corteja. Afinal, temos a moeda necessária, para elevar uns poucos as benesses do poder político. O Brasil todo, investe alto no consumo dos votos. Não há nada mais valorizado, na presente hora, do que o voto. Por um momento, ou momentaneamente, estamos “novamente” valorizados, por uma minoria de CONSUMIDORES ávidos pelo poder! O trágico é que alguns vão entregar seus valiosos votos, por cifras tão irrisórias! Vendem o voto e a própria dignidade! Fecha pano!
Torna-se, portanto, necessário perguntar qual é a principal preocupação que polariza, atualmente, nossa vida, e o que colocamos acima de tudo, nesta fase quase trágica da existência humana? Ou numa introspecção, me perguntar, o que, atualmente, me empurra a viver, além do CONSUMISMO. O que centraliza o meu existir e dá sentido a tudo o que eu faço? Como posso saber se os valores que acato e respeito são verdadeiramente valores corretos? Será que o que eu penso, acato, digo e vivo não atenta contra algum aspecto da dignidade humana?
*Francisco Assis dos Santos é HUMANISTA.
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