No programa “Conversa com Bial”, da rede Globo, Clóvis Rossi, jornalista e colunista da Folha de São Paulo, disse que nas propostas dos atuais candidatos a presidente do Brasil, falta utopia! Concordo, em parte com o jornalista, pois no discurso dos candidatos, por sinal candidaturas frágeis, sobra beligerância (aquele que faz guerra, ou está em guerra) e ressente-se de mensagens de esperança, de utopias, sonhos ou quimeras, como instrumento de ação, é verdade, que só vale se produz efeitos práticos.
O irônico é que a política e seus mais dignos representantes apresentam a política como a “arte de tornar os sonhos reais”. Mas, na prática, os que têm e estão no poder parece que desaprenderam a sonhar. Vivem, hoje, dos recorrentes apelos aos “novos” modelos e sistemas de convívio e sobrevivência social.
O grande paradoxo é que a política deveria ser a ciência da felicidade coletiva, não essa porfia, com bafo de perversidade, que se agiganta cada vez mais em grau mais elevado. Ao invés de fomentar esperança, a política atual, e seus mais dignos representantes, mostra uma postura extremamente egoísta e desonesta, produto da busca desenfreada do homem pelo poder, prazer e realização pessoal desmedido, nem que para isso tenha que esfolar, nessa corrida louca, o seu semelhante. Alias, tenho dito por aqui: bom político é aquele que vende a própria mãe para se eleger.
“Nesse caso, já que eles pararam de sonhar, sonhemos nós, os sem poder!”
Seja dito de passagem, que num passado, não muito remoto, os políticos davam as boas novas para o povo, enquanto os médicos as más notícias. Hoje, a situação é inversa: os médicos dão esperança, e os políticos protagonizam e anunciam as crises existenciais
Mas, isso era na Grécia Clássica, em que o conceito grego de política buscava como esfera de realização o bem comum da cidade. Hoje, há um novo conceito de política, foi o que dissemos, outro dia, aqui mesmo neste espaço. Política é PODER! E o poder, alguém já disse, acaba com os sonhos, com as utopias. Por quê? Porque, dizem os espertos, os sonhos são impotentes e, portanto, estão na contramão do poder!
Nesse caso, já que eles pararam de sonhar, sonhemos nós, os sem poder. O povo, que vive de esperança em esperança, sem fim, porque destituídos de poder, só pode mesmo sonhar com melhores dias, com novos tempos! Diga-se a propósito, que essas quimeras, essa pitada de utopia, só são possíveis num sistema democrático. Em sistemas totalitários, pode-se até sonhar, contudo sem esperança de liberdade de enunciação do pensamento por meio de gestos ou palavras escritas ou faladas.
Sei, entretanto, que a desilusão generalizada conspira com as esperanças, até aqui hipotéticas, duma saída que atenda os anseios da sociedade. Exigindo, da parte dos que dirigem este país, muito mais do que quimeras ou promessa descabidas. Atitudes sérias na condução da coisa pública, pois estamos todos, sem exceção, no limite da nossa paciência.
Contudo, mesmo diante desse quadro “nefasto” o povo precisa acreditar em utopias, enquanto aspirações possíveis, uma vez que os sonhos não se sobrepõem à realidade duríssima que assola o país.
Francisco Assis dos Santos é humanista.
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