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Tarde demais

Quando você tem menos de 18 anos, dirigir parece o máximo. O carro vira o objeto maior do desejo da juventude. É como um símbolo de liberdade para o ingresso na vida adulta. Ir para aonde se quer, na hora em que se quer ir.

Já vivi esse momento. Sei bem como é a sensação. A ansiedade de contar os dias no calendário para chegar o grande dia. A expectativa de fazer as provas para tirar a 1ª habilitação e, enfim, estar habilitado para ser um motora. Tudo se cumpriu.

Só que aí entra o outro lado. Os anos se passaram e os compromissos e obrigações da maioridade chegaram como que um furacão na minha pacata vida de ‘não mais adolescente’. Aquele gostinho da liberdade foi passando, e deu vez a muito stress com engarrafamentos, batidas acidentais (minhas e dos outros), uma barbeiragem aqui, outra acolá, muitas despesas para pagar. Foi questão de tempo até a atividade de dirigir se tornar só mais uma no dia-a-dia.

Aquele sonho de se atingir uma finalidade maior de liberdade se transformou em apenas um meio para se alcançar vários fins necessários do cotidiano.

 

“Nunca acreditamos que aquele mínimo de probabilidade pode nos tornar a próxima vítima fatal do trânsito”

 

E quando o ato de dirigir se torna assim, só mais um, perdemos a noção do quanto ele pode ser perigoso. Não só pra nós, mas para o próximo. Muitas vezes parece até que ligamos o botão do piloto automático em nossas cabeças, ao sentarmos na cadeira do motorista. Aí, dirigir começa a ficar monótono e perigoso. E não importa quantas horas se tenha ao volante, a imperícia e a falta de cautela sua e dos demais condutores a sua volta somam-se para causar acidentes.

Números são apenas matemática fria e chata para as pessoas. Algo distante. Já a vida, essa é diferente. É mais valiosa, mais real. Todavia, às vezes esses números contam vidas. Vidas que não são as nossas, mas são de outras pessoas que, assim como nós, tinham sonhos, amores, planos. Subitamente, tudo mudou para elas. A morte no trânsito as impediu de experimentar o que a vida ainda lhes reservava. Um pai, uma mãe, um filho ou uma filha a menos no mundo.

Mas o pior de tudo: basta apenas um descuido, uma eventualidade do destino para que aquele mesmo número que tomou tudo de alguém faça o mesmo com você. Nunca acreditamos que aquele mínimo de probabilidade pode nos tornar a próxima vítima fatal do trânsito. O número a mais na estatística. Só que pode. E toda vez que entramos no trânsito, seja em qualquer condição (pedestre, passageiro, motorista, motociclista, ciclista, etc), esse risco é maior.

A prevenção é a única coisa que podemos fazer para nos afastarmos dessas probabilidades nefastas. Toda vez que você for entrar em um carro, antes de fazer uma manobra precipitada, de pisar sem moderação no acelerador, de entrar em uma situação no trânsito à qual você não tenha 100% de controle, pense bem nisso. Certamente, muitas pessoas gostariam de voltar no tempo para ter essa chance de se precaver que você tem hoje. Não se torne uma delas.

TIAGO MARTINELLO Jornalista

Fabiano Azevedo: