Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Dia da Amazônia: conscientização e a busca pela proteção do meio ambiente

A importância do projeto para o aprendizado – FOTO CEDIDA

O Dia da Amazônia, 5 de setembro, muitas vezes passa ofuscado pela proximidade no calendário com o Dia da Independência do Brasil, 7 de setembro. A data foi criada para conscientizar as pessoas sobre a importância da floresta que é considerada o ‘pulmão’ do mundo, maior reserva natural da humanidade. Para reforçar tal mensagem diante da sociedade acreana, um grupo de acadêmicos de Direito da Faculdade da Amazônia Ocidental (Faao) deu início ao projeto “Meio Ambiente: Educar para Viver”.

A iniciativa tem por objetivo induzir à reflexão sobre os rumos que a sociedade tem tomado referente aos cuidados com o meio ambiente. A preocupação com o desmatamento e fazer o alerta para práticas cotidianas nocivas a essa grande riqueza levou os acadêmicos ao esforço voltado para a valorização da educação ambiental.

O grupo é composto por Brenna Amâncio, Clécia Karen, Nicole Cordeiro e Tiago Maia. A ideia partiu do professor e advogado Igor Clem, que recebeu todo o apoio da Faao e da coordenação do curso de Direito desta Instituição. Juntos e com a orientação da professora e mestre em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais pela Universidade Federal do Acre (UFAC), Iracema Moll, os componentes pretendem publicar ainda este ano um relatório com dados atuais do desmatamento e poluição no Acre e práticas alternativas. O projeto deve resultar em uma atividade dinâmica, com palestra, para alunos de uma escola pública.

“A educação ambiental deve ser inserida na vida da pessoa desde a infância. Por isso, nós escolhemos levar essa atividade aos alunos do ensino fundamental. O meio ambiente precisa ser protegido e devemos, sim, ensinar às nossas crianças valores culturais benéficos para o bem de todos”, explica a acadêmica Brenna Amâncio.

O projeto “Meio Ambiente: Educar para Viver” começa a partir deste Dia da Amazônia e estenderá suas atividades até o Dia do Meio Ambiente (comemorado no dia 5 de junho) do próximo ano. O ato final será a apresentação para estudantes do ensino fundamental.

Por sua vez, a professora Iracema Moll destaca que a biodiversidade é decisiva para a vida humana. “Elapermeia tudo, pois precisamos de alimentos, de qualidade no ar e na água, serviços ambientais que temos de graça e, acima de tudo, é preciso saber que o ser humano faz parte. Daí a necessidade de reconectar as pessoas à natureza! Queremos mais uma geração que só explora os recursos naturais? Precisamos mudar padrões de consumo, renovar essa geração, para que a próxima, quem sabe, quebre esse ciclo. Educação ambiental na educação formal é o melhor caminho, mas não só como um tema a mais, mas como tema principal. É a nossa vida, fazemos parte do meio ambiente”.

 Relatório sobre o desmatamento

O relatório, que já está pronto, destaca os principais crimes ambientais praticados no Acre. Entre eles, segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia), destacam-se a poluição dos rios, a poluição sonora e do solo, a disposição inadequada de resíduos, atividades não licenciadas e corte de árvores. As queimadas aparecem na liderança do ranking dos maiores problemas no Estado.

Segundo uma pesquisa realizada no site INPE e BDQ (Banco de Queimadas), entre o dia 1º de julho até 31 de agosto de 2018, o Acre teve mais de 7.500 focos de incêndio, sendo os municípios que mais queimam Feijó e Tarauacá, distribuídos entre zona urbana, zona rural e terras indígenas. Ao queimar a terra para o preparo do plantio, o solo perde diversos nutrientes que são essenciais às novas plantas que ali crescerão, além de liberar gases tóxicos à atmosfera e prejudicar a saúde humana. A soma da fumaça causada pelas queimadas, a poluição do ar e o alto nível de umidade no estado, causam graves problemas respiratórios à população local.

No Acre, o Instituto de Meio Ambiente (Imac) conta com a Divisão de Educação e Difusão Ambiental que tem justamente o objetivo de transformar essa realidade por meio do conhecimento.

O Imac licencia, monitora, e fiscaliza a exploração dos recursos ambientais do Acre. Contudo, antes disso está a educação ambiental, aponta Raimundo Escócio, coordenador da Divisão de Educação e Difusão Ambiental.

A queimada, do ponto de vista do coordenador, é a mais nefasta prática nociva à Amazônia e, em especial, ao Acre. Contudo, existem na região muitas outras que comprometem o futuro do meio ambiente.

“Para falar sobre as piores práticas, a gente vai ter que falar de danos ambientais, de impactos. Contudo, a questão de impactos ambientais vai variar em épocas do ano, de estado, de município, de região. Nesta época agora os piores impactos são as queimadas clandestinas, já tem outra época que é a extração ilegal de madeira. Na época de enchente a preocupação é a poluição dos rios”.

O Imac, segundo Escócio, leva noções de educação ambiental também aos projetos de assentamento explicando como funciona, o que diz a Constituição Federal. Afinal, é preciso mudar a forma de pensar das pessoas para que, de fato, a realidade comece a melhorar.

Algumas décadas atrás, recorda Escócio, quem não queimava e não derrubava era tido como preguiçoso. Quando alguns donos de terras passavam por uma área cheia de árvore e vegetação diziam que o dono daquele lugar era preguiçoso. “Isso passa de geração para geração, aliado a uma política que ainda não chegou à mecanização. Então é isso aí que temos que começar a trabalhar: mudar os valores culturais das pessoas, dizer que não se pode mais fazer daquela forma. Há jeitos melhores”, defende.

 A importância do projeto para o aprendizado

O projeto “Meio Ambiente: Educar para Viver” é uma via de mão dupla para a conscientização ambiental e para a troca de experiências. O aprendizado será proporcionado não só aos estudantes que vão receber a palestra na sua escola, como também aos acadêmicos da Faao que vão incorporar suas pesquisas e coleta de dados para a realização de tal atividade. É colocar em prática a máxima de que não se existe técnica de estudo que fixe melhor os conteúdos aprendidos do que o desafio de ensinar.

“É uma iniciativa que será um diferencial para a nossa formação acadêmica. Participar de uma ação como essa é se conectar com uma nobre causa para melhorar a nossa sociedade e assumir um compromisso com o futuro. No Direito, muitas vezes nos focamos apenas na lei em si, na sua aplicação, trâmites, penas e multas, e esquecemos dos princípios e valores que elas defendem. O que está ali sendo protegido. Certamente só tem a nos fazer profissionais melhores no amanhã. E tenho certeza que vamos aprender muito, tanto quanto o que levaremos na apresentação às crianças”, disse o acadêmico Tiago Maia.

A acadêmica Nicole Cordeirocompletou afirmando que a educação é a maior esperança para a redução da poluição e demais práticas que põem em risco o futuro do meio ambiente.  “Da mesma forma que quando criança aprendemos como nos comportar, o que fazer ou não, é de extrema importância que a criança tenha contato com educação ambiental. Saber o valor que o meio ambiente tem para a humanidade e que é algo que deve ser preservado sempre, deve ser repassado desde a primeira infância até que a criança tenha consciência do valor e transmita isso adiante”.

Clécia Karen, que também compõe o grupo de acadêmicos e professores do projeto, declara que discutir o tema pode até não resolver os problemas existentes ou salvar o planeta das diversas dificuldades que o país enfrenta, contudo, refletir irá propiciar a visão e o respeito que todos devem ter. “Junto com esse respeito nasce o desejo de proteger e cuidar do meio ambiente para que ele seja propício para as futuras gerações. Formar a consciência crítica e transmitir valores relativos ao conhecimento do meio ambiente é permitir a preservação deste. É o reconhecimento do seu real valor”.

Sair da versão mobile