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O papel dos cristãos nas eleições

Estamos nos aproximando de mais uma eleição de segundo. Neste período, é comum que surjam alguns questionamentos do tipo: “Em qual candidato devo votar nesta eleição?”, “Aliás, será que devo votar?”, “Como escolher um candidato?”, “Até que ponto o cristão deve se intrometer na política?”

Este talvez seja o momento de invertermos o nosso pensamento com relação aos políticos e colaborar para que os outros também mudem. Entramos em um ponto importante da questão e que deve ser levado em conta na hora de escolher o candidato. Tome muito cuidado com os partidos e candidatos que representam ideologias condenadas tão contundentemente pela Igreja Católica. A esse respeito, quero apresentar, por exemplo, o pensamento de alguns Papas sobre as ideologias de origem liberais e marxista: comunismo, socialismo, gramscismo (marxismo cultural).

            Acerca do liberalismo (ideologia do capitalismo), Paulo VI escreve: “Este liberalismo sem freio conduziu à ditadura denunciada com razão por Pio XI, como geradora do ‘imperialismo internacional do dinheiro’. Nunca será demasiado reprovar tais abusos, lembrando, mais uma vez, solenemente, que a economia está ao serviço do homem. Mas se é verdade que um certo capitalismo foi a fonte de tantos sofrimentos, injustiças e lutas fratricidas com efeitos ainda duráveis […]”. Nesse trecho, já podemos tirar uma preciosa lição, o dinheiro, o capital, a economia nunca deve estar à frente da ética ou da moral.

A política precisa ser levada a sério. Para isso, é preciso buscar uma formação pessoal em cultura política também de forma séria. E, não se engane, essa formação não cairá do céu. No Brasil, essa cultura, infelizmente, não existe. A iniciativa precisa ser sua.

Sobre o comunismo, o Papa Pio XI escreveu: “Vós, sem dúvida, já percebestes de que perigo ameaçador falamos: é do comunismo, que se propõe como fim peculiar revolucionar radicalmente a ordem social e subverter os próprios fundamentos da civilização cristã”. “O comunismo é intrinsecamente perverso e não se pode admitir em campo nenhum a colaboração com ele”.

Em discurso ao presidente da Romênia, São João Paulo II disse: “Quarenta anos de comunismo ateu deixaram vestígios e cicatrizes na carne e na memória do vosso povo, e instauraram um clima de desconfiança; tudo isso não pode desaparecer sem um concreto esforço de conversão da parte dos cidadãos na sua vida pessoal e nas suas relações com o conjunto da comunidade nacional”.

A dica já foi dada, mas quero a retomar de forma mais direta: cuidado com partidos e candidatos mergulhados em pensamentos ideológicos condenados pela Igreja.

Uma das atitudes mais reprováveis em um candidato é a falta de clareza em suas posições. O que mais se tem observado nos discursos dos atuais candidatos, seja qual for o cargo pretendido, é uma falta de clareza e de posicionamento. Vivem em cima do muro e, quando se sujeitam a tratar dos assuntos mais polêmicos, o tratam de maneira tão prolixa e evasiva, que não deixa clara o seu posicionamento. Exercitam, e muito bem, a arte dos sofismas.

Quando são perguntados, por exemplo, se são a favor do aborto, raramente responderão “sim – e ponto final”, ou “não – e ponto final”. Ou iniciarão com o previsibilíssimo clichê “mas é obvio que ninguém é a favor do aborto…”, para, então, justificar o apoio a esse crime de assassinato, ou transmitirão a responsabilidade por esta decisão para a justiça ou para o povo por meio de plebiscito. Tome cuidado com os candidatos que não se posicionam de maneira clara, principalmente acerca dos valores morais.

O conhecido ditado: “quem não deve, não teme” pode ser muito bem empregado nessa situação. Busque saber qual a posição do candidato a respeito das drogas, da família, da ideologia de gênero, da doutrinação nas escolas, do respeito à propriedade privada, da livre manifestação religiosa. Investigue se ele já esteve de conspiração ou subordinado a pequenos e barulhentos grupos cheio de interesses que não representam a maioria.

Se, somos realmente cristãos, precisamos ter bem sedimentados em nós alguns ensinamentos tirados de um importantíssimo documento elaborado pela Pontifícia Comissão Bíblica, chamado “Bíblia e Moral: raízes bíblicas do Agir Cristão”. Esse documento pode ser encontrado no site da Santa Sé. Vale apena lê-lo.

Um dos ensinamentos que esse documento traz é o seguinte: “sem Deus não se pode construir nenhuma ética”. Ele também afirma que o ponto de referência da moral cristã encontra-se na Sagrada Escritura. Nela, os cristãos se defrontam com indicações e normas para o reto agir. Dessa maneira, percebe-se que a moral cristã é muito mais que um código de comportamentos e atitudes, ela apresenta-se “como um ‘caminho’ revelado”. Por sua vez, esse “‘caminho’ moral não chega sem preparação”. Você, cristão, é responsável por preparar este caminho.

Usar o dinheiro público, por exemplo, para apoiar “artes” com forte apelo ao sexo é moralmente condenável. Refiro-me às exposições de quadros em galerias de arte, peças de teatro absurdamente agressivas à consciência cristã, filmes, shows, gravações de clipes, CDs ou Dvds. Tudo isso representa um forte abuso à consciência de uma população majoritariamente cristã. Cerca de 86% dos brasileiros se dizem cristãos.

O Compendio da Doutrina Social da Igreja afirma que, “afastando-se da lei moral, o homem atenta contra a sua própria liberdade, agrilhoa-se a si mesmo, quebra os laços de fraternidade com os seus semelhantes e rebela-se contra a verdade divina”. Caro irmão, não se esqueça de que o cristão católico não está com a “direita”, nem com a “esquerda” (acaso realmente existam), o cristão católico está, acima de tudo, com o Evangelho.

Tendo em vista a liberdade dada por Deus ao ser humano, ele é chamado ao discernimento moral, à escolha e à decisão. Esta posição de comando que Deus confiou ao ser humano implica responsabilidade, empenho de gestão e administração. Dessa forma, foi dada ao homem a capacidade de fazer extraordinários progressos científicos e tecnológicos, respeitando sempre o limite dado pelo Criador.

Para finalizar, eu gostaria de relembrar um pensamento do filósofo Aristóteles, pois, para ele, o governo deveria ser composto pelos melhores, pelos mais sábios e virtuosos. Na democracia, temos a possibilidade de exercitar esta salutar atividade. Contudo, é preciso que você saiba de uma coisa: votar nulo ou em branco não significa votar em ninguém, mas significa eleger o pior. Bom voto. Boa eleição no próximo Domingo.

Deus abençoe você e até a próxima!

Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.

Pároco da Paróquia de Bom Jesus do Abunã em Plácido de Castro – Acre.

Assistente Espiritual do Núcleo em Formação da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular – OFS, encontro todo 3º domingo do mês, na Paróquia Santa Inês, às 7 horas.

Fabiano Azevedo: