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Caro educador

Sou criança, a vida pulsa em mim com força. Por isso amo a festa e ainda sei o que você talvez tenha esquecido: viver só faz sentido se for uma celebração. Então, que a alegria seja a nossa bandeira! A nossa conselheira de todas as horas. Assim, respeite o meu brincar, que brincar é sagrado. É a minha meditação, a educação primeira destes tenros anos que são o alicerce da minha felicidade.

Atreva-se a confiar na inteligência da vida e reverencie a minha pedagogia natural. Constate que o conhecimento já está em mim, e sua função é me ajudar a descortiná-lo. Para tal, fomente a criatividade e a liberdade, cultive o contato com as artes e a natureza, também a autoridade amorosa, a única possível e necessária. Cúmplices, faremos forte e bem-aventurado o nosso vínculo. Afinal, precisaremos dele para enfrentar o desequilíbrio do mundo, que está fazendo de tudo para espoliar minha inocência cada vez mais cedo.

Fique alerta, não me entregue à loucura humana, aceitando resignadamente seus valores rotos, suas convenções inescrupulosas. Tenha a coragem de me proteger, educador! Reflita, a cada ação: a que serve isto? E não atribua a responsabilidade de seus procedimentos a superiores. “Superior” deve ser a sua consciência. Assuma pessoalmente o que você faz e diz.

Mais: não me corrompa, incitando-me ao consumismo. Seu papel é prover-me de condições para perceber que nada que me realize está à venda, mas à espera de ser resgatado. Incentive-me, portanto, a ser o conquistador de mim. Provisione-me de ferramentas éticas e práticas para avaliar, e então pagarei – o preço justo – apenas por aquilo de que necessito.

“Brincar é sagrado”

Não me entorpeça com dados, que têm sido muitos e fúteis, não embote com bobagens formais o meu canal direto com o saber: o meu voo é mais alto. E é tão singelo que você não pode conceber, a menos que me ame: quero poder rir e chorar, sentir e imaginar. Também você flua, em vez de estabelecer condutas inflexíveis para nós. Porque isso é um desperdício de vitalidade, e gera tédio e infelicidade para todos.

Ainda, resista ao automatismo de me responder “não”. Mas não deixe de pronunciá-lo e fazê-lo valer quando meu desejo ou comportamento representar prejuízo para mim ou para os demais seres vivos.

E, por falar em “outros”, educador, compreenda que essa mania de competição é uma ideia obtusa que destrói o afeto e o planeta! Ora, por que escolher alguns, se todos temos valor? A vitória particular é uma circunstância diminuta diante do que temos a capacidade de realizar juntos. Instigue-me a dar o meu melhor, para mim mesmo e para o mundo. Quem se esforça e compartilha sua gema preciosa sempre brilha!

Por fim, observe cuidadosamente que alternativa de vida você elege todos os dias e visualize a sua realidade como o resultado das opções que você faz.

Ah, educador, eu tenho um sonho. Que a escola não seja um lugar, mas uma dimensão do meu ser. Ali mergulharei na formidável aventura do saber, que apresentará envolventes e infinitas respostas para a pergunta fundamental: quem sou eu?

Onides Bonaccorsi Queiroz é jornalista, escritora e autora do blog verbodeligacao.wordpress.com

E-mail: onides.queiroz@gmail.com

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