A Polícia Federal do Acre deflagrou nesta sexta-feira, 19, a Operação Democracia. O objetivo é combater a prática de crimes eleitorais de compra de votos, transporte irregular de eleitores, uso ilegal de instalações públicas para fins eleitorais, peculato, entre outros.
O esquema de crimes eleitorais ocorria no Instituto de Terras do Acre (Iteracre). O diretor-presidente Nil Figueiredo, candidato a deputado estadual nas Eleições 2018, utilizou durante o período eleitoral instalações públicas, inclusive uma escola, veículos oficiais e até pagamento de diárias a servidores para custeio de viagens que não eram realizadas.
Durante a ação foram cumpridos oito mandados de prisão, 22 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de condução coercitiva de testemunhas.
Segundo o delegado responsável pelas investigações, Eduardo Maneta, o grupo cometeu diversos outros crimes eleitorais como transporte irregular de eleitores desviando combustível do órgão para benefício eleitoral, além de oferecer vantagens indevidas em troca de votos.
“A investigação continua para identificar o prejuízo ao erário cometido por esse grupo, comandado pelo Nil Figueiredo. Todos os servidores envolvidos foram cabos eleitorais do Nil durante as eleições e se valeram de dependências públicas e combustível do órgão.”
Apesar de não informar o valor do prejuízo ao erário, o delegado destaca que a quantidade de combustível utilizado no mês de setembro deste ano supera o total usado durante todo ano de 2017.
“Somente ao final do inquérito vamos determinar um valor estimado do prejuízo, mas somente em setembro o Iteracre gastou um valor maior que todo o ano de 2017, somando todo o gráfico de combustível do órgão. O que já dá pra analisar o quanto foi desviado.”
Para se ter uma noção da quantidade de combustível desviado, o grupo montou um reservatório na casa da mãe de uma servidora do órgão. O local tinha capacidade para armazenar cerca de mil litros de combustível.
Entre os envolvidos, estão servidores públicos e ocupantes de cargo em comissão do órgão. Todos os envolvidos foram afastados de suas funções pelo governador Tião Viana até que a denúncia seja esclarecida.
Em nota, o porta-voz do governo, Leonildo Rosas, enfatizou que, ao longo dos dois mandatos, Tião Viana determinou tolerância zero em caso de corrupção.
Conforme o delegado, os envolvidos irão responder pelos crimes de peculato, uso ilegal de órgãos públicos e veículos oficiais, crimes eleitorais, como compra de votos e transporte de eleitores, além de associação criminosa. “Somadas todas as penas máximas pode atingir um total de 30 anos”, concluiu.
PF divulga áudios
Um áudio divulgado pela PF-AC mostra uma conversa entre Figueiredo e um cabo eleitoral sobre a compra de dez votos. No diálogo, o cabo informa que já entregou o dinheiro aos eleitores.
“Maravilha. Manda bala, manda bala. Tem que ganhar, não pode perder não, meu irmão. Tu é doido?”, responde o diretor-presidente do órgão.
Há também outro áudio entre uma servidora e um cabo eleitoral em que ela afirma que todos os carros estão indo abastecer no reservatório ilegal. A mulher que, segundo a polícia, já ocupou o cargo de chefe de gabinete da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Proteção Familiar (Seaprof), estaria com medo de descobrirem o esquema.
“É porque tem que tirar tudo hoje, porque estão com medo”, diz a servidora. Em seguida, o cabo eleitoral pergunta se tem pessoas “de olho” na esquina e acrescenta que a casa não deve ter adesivos do candidato.