Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Diretor-superintendente fala sobre o legado de seu quadriênio no Sebrae/Acre

Quem olha o moderno prédio da nova sede do Sebrae na Avenida Ceará acredita que esta é a maior realização da diretoria da instituição no quadriênio 2015/2018. Mas, para o diretor superintendente do Sebrae no Acre, Mâncio Cordeiro, sua mais importante obra é a mudança da cultura de seus colaboradores e até do público externo formado por clientes e fornecedores.

“Creio que se trata de um legado mais sutil, pouco aparente ou mensurável, mas, em nossa visão, não menos relevante para o futuro de nossa organização. Esse legado está principalmente no campo da cultura da organização, a soma total de tudo que aprendemos ao lidarmos com o ambiente externo e buscarmos nossa integração interna. Nessa dimensão é que esperamos deixar nossa mais intensa e duradoura contribuição para o Sebrae no Acre e para o próprio Estado”, afirma Mâncio Cordeiro.

 O que mudou nos procedimentos desta diretoria?

Até 2015 o Sebrae/AC manteve a prática regular de fóruns anuais de planejamento para alinhar suas ações ao planejamento do Sebrae Nacional. No primeiro semestre de 2015, ao planejar mais uma rodada de revisão estratégica, resolvemos buscar algo mais. Tendo como pano de fundo o planejamento Nacional, concentramos nossa energia em conectá-lo muito profundamente com a realidade local, absolutamente peculiar e única, mas sem perder a essência do sistema Sebrae e manter sua identidade e alinhamento com as propostas do Sebrae Nacional.  Paralelamente focamos intensamente nossa criatividade e esforço para resgatar e fortalecer a crença e confiança de nossos colaboradores no potencial de nossa região, de nossa organização e no seu próprio potencial individual para fazer a diferença. Sabíamos que não haveria evolução da organização sem que houvesse a evolução de cada um de seus colaboradores. E precisávamos contemplar muito bem isso em nossos planos.

 

Quais foram os recursos utilizados para montar este planejamento?

Para desenvolver soluções inovadoras para esse duplo desafio buscamos o apoio da Amana-Key, uma empresa brasileira reconhecida por sua atuação inovadora e participativa na área de estratégia. Por meio de workshops altamente interativos e abertos, construímos em conjunto o novo mapa estratégico do Sebrae/AC, que além dos desafios da realidade local, focou na maior valorização dos colaboradores, acreditando mais no potencial de cada um. Afirmamos uma visão de humanização, sentimento e prosperidade, além do próprio desenvolvimento de negócios.

 

Como são notados os efeitos destas ações?

A mudança de postura refletiu no Programa Sebrae de Excelência da Gestão – PSEG, por meio do qual metas extremamente ousadas foram atingidas a partir de 2016, o que reforçou a crença dos colaboradores em relação ao seu próprio potencial. Ano após ano, metas mais realistas e desafiadoras foram superadas. Desde então, o planejamento estratégico tornou-se uma atividade central da instituição, construído sempre por múltiplos atores de diferentes instâncias e com a contribuição de parceiros, fornecedores, sociedade, colaboradores entre outros. Em 2018, nossos principais eixos de atuação foram revisitados, vários desafios e propostas de atuação foram avaliadas e redimensionadas. Focamos nossa visão de futuro em 2023 e a partir dela elaboramos nosso mapa estratégico para o período. Os participantes foram estimulados por referenciais desafiadores e convidados a se posicionar em relação aos temas mais relevantes para o futuro do Sebrae no Acre. Suas considerações foram capturadas e compiladas para a criação de um mapa estratégico detalhado.

 

De que forma a crise econômica influenciou nos resultados?

As projeções macroeconômicas negativas para o país no ano de 2018 e a redução substancial do cenário de receitas do Sistema Sebrae fizeram com que o Sebrae Nacional estabelecesse novas diretrizes para a construção do plano e orçamento de cada Sebrae nas Unidades da Federação. Consequentemente foram necessárias medidas de redução dos recursos em projetos, gerando novas estratégias para a execução das ações. O Sebrae/AC adotou medidas de redução de despesas nas tipologias de suporte e gestão operacional, diminuição das despesas de viagens, entre outras medidas necessárias frente ao novo cenário. Mesmo assim, conseguiu atingir as metas estabelecidas, buscou potencializar as ações em busca de eficácia, eficiência e efetividade, tendo como base o planejamento estratégico, a visão da cadeia de valor e dos processos de trabalho, além das boas práticas da gestão de projetos.

 

O aperto não atingiu o ânimo dos colaboradores?

Nossa gestão continuou a valorizar os colaboradores, mantendo a progressão de carreiras dentro da instituição, compartilhando responsabilidades, estimulando-os a atingirem as metas estabelecidas e valorizando o seu desempenho e resultados. Por meio desse processo, mais do que criar planos específicos, buscamos estabelecer condições favoráveis para um fluxo contínuo de inovações estratégicas originadas em várias partes de nossa organização e em diferentes momentos. Porém coordenadas e sistemicamente integradas. Os “planos estratégicos” tornaram-se documentos vivos, que direcionaram e integraram sistemicamente iniciativas de nossos colaboradores de modo que o Sebrae/AC pudesse aproveitar ao máximo o potencial criativo de seus colaboradores, tornar-se estrategicamente ágil e fazer o uso mais efetivo e eficaz de seus recursos.

 Quais foram os principais resultados deste quadriênio?

Nosso primeiro grande teste veio logo após a posse efetiva em 2015. As enchentes ocorridas entre fevereiro e março de 2015 em todo o Estado foram um dos piores desastres climatológicos das últimas décadas. Empresas atingidas tiveram suas atividades prejudicadas e tiveram que demitir funcionários – o que provocou arrefecimento da economia local. Nesse contexto de crise, o que mais nos norteou e energizou foi o senso de propósito de nossa instituição. Movidos por ele, implantamos o projeto S.O.S Empresas do Acre para contribuir para a recuperação dos negócios atingidos. Em linha com nossa identificação com a causa do empreendedor e da pequena empresa lançamos uma cartilha com linguagem direta e didática, que chegasse a todo nosso público e fizesse a diferença naquele momento tão difícil.  Nosso cuidado e preocupação com o propósito da instituição estiveram no centro de tudo que fizemos, sobretudo nos momentos em que revisamos nossa estratégia e nossos planos para a criação das condições ideais para realização de nossa visão de futuro. Manter a chama do propósito sempre acesa e viva em nosso dia a dia é um dos legados importantes que esperamos ter deixado.

 

Como foi o processo de conscientização sobre as peculiaridades regionais?

Até mesmo naquele primeiro momento de crise, cuidamos de nunca deixar de lado aquilo que torna nosso Estado e nossa região únicos no Brasil e no mundo. Na publicação que fizemos na época das enchentes, abordamos a importância do respeito ao meio ambiente e fizemos recomendações de práticas sustentáveis, que não só ajudam a natureza, como também contribuem para o melhor aproveitamento dos recursos. Nas revisões estratégicas que realizamos em 2015 e 2018, bem como em todas as ações para execução desses planos, nos orientamos pela premissa de que as empresas têm mais chances de sobrevivência quando atuam coletivamente e geram benefícios para a comunidade onde estão inseridas, inclusive o ecossistema do qual fazem parte.

 

Quais empreendimentos se alinham a este propósito?

Estimulamos a descoberta e o uso de ativos da biodiversidade e da cultura acreanas, unindo ciência e conhecimento tradicional à geração de oportunidades. Perseguimos estratégias na área de ecologia industrial e na formação de arranjos produtivos com mínimo impacto ambiental e máxima inclusão. Buscamos estimular a criação de empreendimentos socialmente justos e ambientalmente responsáveis. Nos esforçamos por estimular e apoiar empreendedores que pensem não apenas na preservação do meio ambiente como também na sua recuperação, com vistas a assegurar o futuro das próximas gerações. Trabalhamos por uma comunidade de pequenos negócios única no país e no mundo, que dissemine tecnologias verdes, de baixo impacto ambiental, uso responsável dos recursos, próxima de todas as comunidades e contributiva para a elevação dos padrões educacionais e da qualidade de vida de todas as pessoas.

 

De que forma os colaboradores do Sebrae contribuem com a estratégia?

Desde o início enfatizamos, em nossa gestão, a importância do mais amplo e profundo envolvimento e engajamento de todos os colaboradores no desenvolvimento de nossa organização. As revisões estratégicas de 2015 e 2018 foram feitas com participação de todos os colaboradores da organização, conselheiros e outros representantes de públicos interessados, que puderam manifestar livremente seus pontos de vista e compartilhar suas ideias. Um trabalho meticuloso de mediação e conciliação de visões levou a documentos estratégicos robustos, que buscaram espelhar ao máximo as crenças e conhecimentos de todos os colaboradores e parceiros.

 

O público externo também participa destas ações?

As revisões da estratégia abarcaram a própria cultura da organização, buscando estabelecer valores e princípios organizacionais alinhados com as convicções e inclinações reveladas pelas pessoas que formam a equipe. Dentre esses valores, consta explicitamente a própria integração, expressa como o compromisso de tomar sempre a iniciativa de cooperar, trabalhar em conjunto e criar relacionamentos internos e externos ganha-ganha. Essa postura de alta integração e participação foi além das fronteiras da própria instituição. Durante a gestão nos empenhamos em construir e fortalecer redes com diversos parceiros privados e públicos. Um bom exemplo é o Fórum Permanente de Desenvolvimento do Estado do Acre, que envolve todo setor produtivo, acadêmicos, governo e prefeituras. Nossa atuação pautou-se bastante por estratégias de criação, formação e fortalecimento de redes de relacionamento com base na crença de que parceiros locais é que têm conhecimento mais específico e qualificado sobre as vocações e ativos únicos e distintivos de cada região bem como das necessidades dos empreendedores locais. Por essa estratégia buscamos a capilaridade, a escala e a qualificação necessárias para realizarmos plenamente nosso propósito.

 

Os colaboradores têm incentivo para a progressão profissional?

Sempre afirmamos que não acreditávamos na evolução da organização sem a evolução das pessoas que a compõem. Estimulamos e apoiamos todos os colaboradores a ingressarem em um processo permanente de autodesenvolvimento de tudo que precisavam para elevar sua contribuição para o Sebrae e sobretudo para nossos clientes. Ao mesmo tempo, buscamos uma melhoria contínua nas práticas ligadas à gestão de carreiras e ao desenvolvimento de competências. Inovamos nas atividades de avaliação, progressão, responsabilização individual e outras, tendo como objetivo elevar continuamente o valor adicionado por cada colaborador à organização e, ao mesmo tempo, o senso individual de crescimento profissional de cada um.  Ao apresentarmos a todos os colaboradores nossa nova equipe gerencial no início de 2015 fizemos questão de afirmar que todos que estavam naquele auditório poderiam e teriam a capacidade de gerirem uma Unidade da instituição. Essa crença no potencial das pessoas foi reafirmada diversas vezes durante nossa gestão. Sempre acompanhada do incentivo e do estímulo para que as pessoas assumissem a dianteira por seu autodesenvolvimento para realizarem plenamente todo o seu potencial. Nada detém uma equipe em que todos buscam natural e autonomamente aprender e evoluir a cada dia. Esse é um legado fundamental.

 

De que forma o Sebrae se alinha às inovações do Século XXI?

Ao preparamos nossa primeira revisão estratégica, em 2015, orientamos nossa criatividade por uma questão desafiadora: “como seria o Sebrae no Acre se pudéssemos desenhá-lo a partir de uma folha em branco, considerando toda a experiência do grupo que o constitui e conhecimentos disponíveis hoje em pleno século XXI?”. Essa disposição para pensar o futuro sem amarras, reinventar o que fosse necessário, ousar e inovar foi permanente. Estimulamos todos a dialogar e se posicionar quanto aos principais desafios externos que percebiam para a organização a curto, médio e longo prazos (2 anos, 4 anos, 10 anos e até 35 anos!). E a aplicar os mesmos horizontes de tempo para o próprio legado da instituição para os pequenos empreendimentos e o próprio Estado.  Essa disposição a enxergar o futuro e preparar-se para chegar a ele sempre a tempo, da melhor maneira possível, foi uma tônica em nossa gestão. Como um exemplo dentre vários destacamos a criação do SebraeLab na Universidade Federal do Acre, o primeiro laboratório de inovação dentro de uma universidade pública federal.

 

Como foi a receptividade às novas tecnologias?

Em nossa relação com a tecnologia sempre cuidamos de honrar a intenção muitas vezes expressa por nossos colaboradores de preservar relações humanizadas e respeitosas, interna e externamente. Mas ao mesmo tempo sempre desafiamos todos a conhecerem e abraçarem novas tecnologias, inclusive para viabilizar essa intenção.Em nossa revisão estratégica de 2018 demos um passo além, acolhendo as visões oriundas de nossos próprios colaboradores em relação às possibilidades de plataformas e recursos digitais para orientação, networking, facilitação e automação de transações. E, ao mesmo tempo, em relação à nossa responsabilidade por ações para ampla difusão das soluções tecnológicas oferecidas pelo Sebrae e sua disponibilização à sociedade e ao mercado. Buscamos plantar as sementes para a evolução natural e eficaz do Sebrae rumo a novas tecnologias digitais e outras tantas que venham a surgir, trazidas por avanços científicos e comportamentais, locais e globais.

 

Qual foi o processo que levou o Sebrae do Acre ao grupo dos cinco melhores do Brasil?

Desde o primeiro momento, nossa gestão procurou se manter muito consciente dos desafios e adversidades típicos de um Estado e uma região ainda distantes do ideal em diversas dimensões básicas. Mas esse realismo nunca nos afastou de uma visão muito elevada de ideal, de sonhos ousados, mas que jamais consideramos impossíveis. Muitas vezes tivemos que lutar contra o ceticismo e a descrença, compreensíveis. Mas, em nossa visão, inadmissíveis frente à nossa responsabilidade e ao nosso poder de contribuição.  Nossa primeira fonte de mobilização contra essas barreiras mais sutis foi a plena conscientização de todos quanto ao propósito maior da organização e o significado de seu trabalho. Trabalhamos para avançar em todos a compreensão e a internalização de princípios para a adoção de novos comportamentos e hábitos que ajudassem o Sebrae no Acre a avançar na realização de seu propósito.

 

Na prática, como foram distribuídas as missões?

Envolvemos ao máximo nossos colaboradores e parceiros na concepção e desenvolvimento de estratégias que acelerassem a realização desse propósito organizacional. Orientamos revisões do desenho organizacional para reinvenções ou ajustes que criassem as melhores condições organizacionais para a execução das estratégias concebidas. Buscamos e aportamos novos conhecimentos e competências relevantes, visando equipar a estrutura com a expertise ideal para a realização efetiva das estratégias. E por fim nos debruçamos sobre a revisão de processos de fazer acontecer visando o desenho e implantação de jeitos de trabalhar que otimizassem o uso dos recursos e permitissem à organização realizar seu propósito de forma cada vez mais eficiente, fazendo o melhor uso possível dos recursos.

 

Quais foram os resultados deste esforço?

Nossa fé inabalável nessas possibilidades nos ajudou a colher reconhecimentos. O Sebrae no Acre tornou-se referência no Sistema Sebrae pelo avanço no modelo de gestão da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), mudando de faixa dois ciclos seguidos, alcançando a faixa 5 no ciclo 2015-2016 e faixa 6 no ciclo 2016-2017.  Por conta de uma mudança na metodologia de apuração do programa nos afastamos da faixa 7 no ciclo de 2018 – mas ainda assim a faixa foi mantida e o Sebrae no Acre foi uma das poucas unidades do Sistema a aumentar a pontuação.

 

De todas as realizações, qual é a mais importante?

Independentemente de todas evidências e reconhecimentos exteriores, estamos convictos que nosso maior legado está efetivamente nos pontos mais sutis que destacamos aqui. Senso de propósito, valorização da sustentabilidade em sua acepção mais ampla, alta integração e participação de todos, postura inovadora, crença na evolução contínua e empenho inquebrantável na realização da utopia, em sua acepção mais positiva. Esperamos que tenham sido estas as nossas principais contribuições: valores e posturas que sejam transmitidos às próximas gerações como o fundamento para realizações cada vez mais elevadas e benéficas do Sebrae para o nosso Estado, nossa região e nosso país. Agradecemos com emoção a todos colaboradores e parceiros dessa incrível jornada.

Sair da versão mobile