“O Natal é uma luz que irrompe na terra dos homens maus, minimizando, pelo menos por algumas horas, a escuridão social em que estamos metido”
O mundo terráqueo visto de cima, seja nas lentes poderosas do “Mundo Visto de Cima” (Globosat Play) ou na visão de Cipriano, Bispo de Cartago, num passado longínquo, à sombra duma videira, é um mundo que parece fantasticamente feliz. Entretanto, se penetrarmos as entranhas dos quadrantes desta terra, constata-se que é um mundo mau. Um mundo incrivelmente mau. Há muita miséria, egoísmo e ódio!
Durante séculos, legislaturas e parlamentos têm tentado assegurar a paz. Em tempos idos, líderes como os Césares, Constantino, Carlos Magno, Napoleão, os “czares” do oriente, e os reis do ocidente, todos, cada um em sua época, prometeram paz duradoura. No entanto, todos falharam. Por décadas se proclamam audaciosos planos de unidade e irmandade global: Bruxelas, Nova York, Genebra, Tóquio e Washington, D.C., foram sedes, ao longo dos anos, de movimentos em prol da paz. Entretanto, não existe paz universal, e o mundo se cansa de promessas vazias.
Hoje, apesar de tantos anos de aprendizado, os homens continuam tão ou mais cruéis, em relação ao seu próximo, do que os bárbaros mongóis medievais, que sem dó nem piedade e fúria pertinaz, matavam, destruíam e saqueavam sem misericórdia. Estamos criando um sistema maligno que tende a nos escravizar perpetuamente. Somos lobos uns dos outros, resultado duma atitude egoísta e fator responsável pelas guerras, pelos conflitos e situações prejudiciais a todos. O mundo está num caos tão desesperador, durante tão grande parte de tempo, que cada um de nós se pergunta: Seria a paz uma mera ilusão?
Em um mundo assim, caótico e quase sem nenhuma paz, eis que surge o magnetismo do advento natalino. O Natal do menino Jesus, mais tarde o Cristo, além de envolver a humanidade de diferentes culturas, numa teia de acontecimentos de amor ao próximo sem precedentes, transcende toda e qualquer falsa esperança e a tudo o que é passageiro, excede até mesmo ao generoso, gordo, bonachão e barbudo Papai Noel.
O Natal é uma luz que irrompe na terra dos homens maus, minimizando pelo menos por algumas horas a escuridão social em que estamos metidos. Sociedade: que a cada dia se afasta dos contratos sociais; que vive distante das comunidades vitais e aquém da comunidade jurídica e; carente duma fraternidade movida pelo amor.
O Natal nos mostra que somos propensos a emoções; somos sensíveis aos apelos oriundos das tradições que nos concitem a amar, a ter paz e a exercer a irmandade universal.
Caso exemplar é o fenomenal acontecimento conhecido como “Trégua de Natal”. Termo usado para descrever o armistício (suspensão das hostilidades entre beligerantes como resultado de uma convenção, sem, contudo pôr fim à guerra). Este armistício espontâneo aconteceu na Frente Ocidental, em meio duma estupidez denominada de Primeira Guerra Mundial, numa manhã de Natal de 1914. Um dos relatos conhecidos é do Capitão C. I. Stockwel, do exercito britânico: “Às 8h30, eu disparei três tiros para o ar, ergui a bandeira com os dizeres ‘Merry Christmas’ e subi a trincheira. Os alemães levantaram uma placa com os dizeres ‘Thank you’ e capitão deles apareceu no alto da trincheira. Saudamo-nos e retornamos às trincheiras”. Depois de meses de combates sangrentos, tudo parou sob a força inexplicável do magnetismo natalino!
O Natal se radicaliza em Jesus Cristo, a verdadeira esperança duma verdadeira paz. Afinal, diria Blaise Pascal (1623-1662): “Fora de Jesus Cristo não sabemos o que é a vida, o que é a morte, nem o que é Deus, nem o que somos nós mesmos!”
É Natal!
Feliz Natal!
Francisco Assis dos Santos é humanista
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