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Uma conversa imaginária com um E.T. sobre um problema real: a deterioração da biosfera

Como radioamador light, de vez em quando ligo o meu rádio para tentar falar com com outros radioamadores na Amazônia, mas o sol está numa fase quieta que limita comunicações.   Uma noite estava frustrado e decidi brincar com informações que li sobre o universo e fiz uma chamada geral de “PT8ZFB – Foster, do planeta Terra, Sistema Solar, Segmento Orion, Galáxia Via Láctea, Grupo Local, Agrupamento Local, Cluster Viro,  Laniakea.”  Esperei alguns segundos, quando uma voz profunda respondeu, “Finalmente alguém sabe o seu próprio endereço. Não saia da sua casa, vou visitar você.”

Em choquepor ter tido uma resposta, fui à sala de espera para pensar. Levantando a minha cabeça, percebi que o ar começou a brilhar e apareceu uma figura baixinha com pele verde que poderia ser alguém fantasiado de Carnaval, exceto pelas quatro orelhas, duas de cada lado.   “Foster PT8ZFB, imagino”, ele me disse.

Aliás, foram os conceitos que apareceram na minha cabeça, ele estava usando telepatia.  “Não se preocupe, somos de uma civilização com uma política não interventista. Só observamos se as civilizações jovens conseguem sobreviver a si mesmas. Nesta parte da galáxia Via Láctea, no último milhão de anos somente três civilizações sobreviveram a sua fase de adolescência. A grande maioria se autodestruiu, algo que alguns de seus cientistas na Terra acham que explica o Paradoxo de Fermi, ou seja, o porque tem tão poucas indicações de vida inteligente na galáxia”.

Observamos a Terra,desde vocês emitindo ondas de rádio, cerca de 120 anos atrás, mas estamos confusos sobre a dissonância entre as ações e as palavrasdosseres humanos.   O seu planeta é o único com vida por cerca de 500anos-luz.  E esta vida conjunta – que vocês chamam a biosfera – produz o oxigênio que respiram e regula a temperatura do seu planeta.  Aparentemente vocês sabem disto, mas estão degradandosua biosfera rapidamente.”

Ele falou a verdade e eu lembrei de alguns artigos que mostraram que agora temos somente um quinto ou menos da biomassa de mamíferos selvagens do que existiam algumas centenas de anos atrás.Temos sinais de colapsos de populações de insetose menos do que a metade de florestas tropicais continua em pé. Por outro lado, humanos expandiram até 7,6 bilhões, com previsão de chegar a quase 11 bilhões até 2080.  Atualmente gado e porcos pesam mais do que dez vezes a quantidade de mamíferos selvagens.

O extraterrestre, E.T., continuoucom suas observações.  “Parece que vocês sabem da importância da vida e suas interaçõesparamanter o planeta viável, masconhecem apenasum décimo dos tipos de vida que tem no seu planeta.”   Eu tive que concordar.   Somos dependentes de algo que mal conhecemos.  Um grupo de autores estimaram que desconhecemos cerca de 90% das espécies na Terra.

O E.T. me olhou e perguntou, “Por que vocês continuam a destruir algo de que dependem e pouco conhecem?”  Eu não tive uma resposta.  “Notamos que vocês estão também alterando a composição da atmosfera do seu planeta”, ele adicionou.   Desde que Marconi e Padre brasileiro Roberto Landell de Moura transmitiram mensagens via ondas de rádio, a concentração de CO2 aumentou mais de 110 partes por milhão, ouseja, um terço do seu valor em 1900, algo inédito em cerca de 800.000 anos.  Este gás afeta a capacidade da Terra de reter calor e está alterando o balanço energético da atmosfera, além de estar acidificando os oceanos.

Não pude decifrar bem o rosto de alguém verde com orelhas em lugares estranhos e decidi pedir conselhos.  “O que você recomenda que façamos?” eu perguntei.

O E.T. respondeu, “Vocês têm um planeta incrível, cheia de vida que apoia a sua existência, mas não o cuidam. Estão no caminho de fazer parte da grande maioria dascivilizações no seu setor da galáxia que se autodestruíram.  No seu sistema solar as opções são ruins:  Marte não tem oxigênio e Vênus é um forno. Vocês são inteligentes, mas não são sábios. Sem sabedoria, vocês vão conseguir pouco e destruir muito.”  Com esta frase, o ar brilhou novamente e o E.T. sumiu.

Bem, decidi compartilhar esta experiência imaginária para que possamos pensar em como usar a nossa inteligência coletivaenos tornarmos sábios no cuidado com o nosso planeta. As mudanças estão acelerando e o tempo de agir é agora se quisermos evitar ser uma explicação do paradoxo de Fermi.

Foster Brown é pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente da Pós-graduação e pesquisador do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre.  Coordenador do Projeto MAP-Resiliência.

Fabiano Azevedo: