O deputado estadual diplomado Fagner Calegário (PV) comentou a respeito da composição da nova Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Acre. Ele defende a construção de uma chapa alternativa para a Presidência da Aleac. O parlamentar entende que o nome do deputado Nicolau Júnior (Progressistas) é uma interferência clara do Palácio Rio Branco no Legislativo acreano. Ele aponta que Nicolau Júnior tem ligação direta com o governador Gladson Cameli, que são cunhados, o que, segundo ele, compromete a relação de independência entre os poderes.
Quanto à eleição para primeiro-secretário, Fagner Calegário avalia que, para ele, isso é ponto pacificado em relação ao nome do emedebista Roberto Duarte Júnior. Embora, acredite que Duarte terá uma eleição dura pela frente.
Calegário fez uma avaliação ainda com relação aos 23 dias da gestão de Gladson Cameli e Jair Bolsonaro, na condução do Acre e do Brasil, respectivamente. Ele pontuou que no Acre o critério técnico não foi levado a fundo como pregado em campanha. Em relação a Brasília, ele afirma que Bolsonaro poderá ser prejudicado com o escândalo que envolve o filho, o senador eleito Flávio Bolsonaro.
A GAZETA – O senhor foi eleito com 3.731 votos. Destes, 2.959 foram em Rio Branco. A que se deve essa votação expressiva?
Fagner Calegário – Acredito que o fato de residir e de ter algumas atividades aqui dentro da Capital. Pouca gente conhece, mas a gente tem um clube esportivo, que é um time de handebol e que hoje é o mais vitorioso, o mais premiado do momento. A gente foi campeão estadual no ano passado diante da AABB, que já é um time consolidado. Acabamos envolvendo muitas pessoas. E também tem o fato de eu estar à frente do Sindicato dos Terceirizados, das empresas terceirizadas. Lá, eu tenho militado em prol de dar assistência, o amparo para o trabalhador terceirizado e à empresa que o governo, na última gestão, causou bastante sofrimento com a falta de pagamento. Acredito que todo esse envolvimento foi o que trouxe o sucesso dessa votação dentro de Rio Branco.
A GAZETA – Quais as suas propostas, as suas bandeiras de lutas, na Aleac?
F.C. – É muito complicado dizer isso, mas assim é. Eu vou lutar e defender tudo aquilo que for benéfico para o Acre e aquilo que não violar ou não for contra os meus princípios, o que não se sobrepor à Lei. Aquilo que violar a questão da legalidade por mim não passa. Mas, costumo sempre dizer que não passa por mim, só que tem mais 23 deputados que aí podem externar o seu posicionamento.
A GAZETA – O senhor reforça o time da oposição ao governo Gladson. Como será o seu comportamento nas discussões de debates no Parlamento?
F.C. – Eu gosto sempre de frisar que eu sou oposição, mas sou aquela oposição consciente. Aquilo que eu julgar que é correto, que é bom… Não tem que me opor a isso. Eu tenho que me opor àquilo que venha de repente prejudicar ou aquilo que não seja bom para o futuro do Acre. Aí vou me posicionar na tribuna.
A GAZETA – Houve alguma conversa para formação de bloco?
F.C. – Não. Não houve. A presidente do meu partido, que é a Shirley Torres, nesse ponto ela me deixou bem à vontade. Não fomos procurados, que eu saiba, para integrar bloco nenhum e por mais que o Partido tenha interesse em compor algum bloco, eu costumo dizer que eu sou independente. Eu vou defender aquilo que eu acredito que é correto, certo e justo.
A GAZETA – Como o senhor avalia os 23 dias do governador Gladson Cameli e do presidente da República, Jair Bolsonaro?
F.C. – Os dois estão um pouco atrapalhados, mas o Gladson está conseguindo, descontruindo tudo aquilo que ele pregou em época de campanha. Indicações técnicas, a gente pode ver que não houve. O que existiu, de verdade, foi um fatiamento do Estado em prol de apoio, inclusive dentro da Aleac. É por isso que eu estou muito preocupado com a questão da independência daquela Casa. Esses grupos ficam subservientes aos desejos do Executivo. Do Bolsonaro é sempre um pouco mais complicado comentar sobre isso porque a gente não está tão perto. Tivemos algumas trapalhadas e também o envolvimento do filho, o Flávio. Eu acredito que esse problema que o filho está passando tem mostrado que não é tão republicana a vida da família Bolsonaro. E aqui o que mais preocupa é a questão das indicações e sobre essa questão da ‘despetização’. O que tem que existir, para mim, são pessoas técnicas, aptas para poder tocar a máquina pra frente. O Dória trouxe ministro do governo Temer para o Estado de São Paulo e ele foi muito feliz na fala dele: ‘São Paulo é um Brasil e eu preciso de pessoas capacitadas para poder lidar com São Paulo’. E é o que eu esperava do Gladson: aquilo que ele falava na campanha.
A GAZETA – Quanto às discussões a respeito da Mesa Diretora da Assembleia, o senhor pretende formar uma chapa para a Presidência?
F.C. – Tudo caminha para que haja um consenso. Pelo que se tem conversado, pelo que eu tenho observado, tudo caminha para um consenso, inclusive, indo de encontro com a campanha que eu estou encabeçando, que é da independência dos poderes. Pode ser uma luta em vão? Pode ser. Mas, se eu acredito, eu não desisto. Vou continuar dizendo que não pode ser o cunhado do governador o presidente da Casa. Eu também não estou dizendo que não possa ser outra pessoa do Partido do governador. Mas, esse vínculo que existe entre eles, de família, é o que mais me assombra nesse momento. Aquilo que eu encabecei, eu vou lutar, mas respeitando os 23 deputados.
A GAZETA – A deputada Meire Serafim (MDB) poderia encabeçar essa chapa, uma vez que ela foi a mais votada? Obteve mais de 10 mil votos nas urnas.
F.C. – Com certeza. Como é que o Gladson perde a pessoa, campeã de votos, a deputada que mais teve votos dentro desse Estado, assim de graça? Está faltando habilidade política aí. Eu consigo perceber que o Executivo sempre que teve preferência por alguém, conseguiu fazer essa pessoa presidente. O que é contrário agora. A Meire foi a mais votada. Isso credenciava ela, com certeza, para ter um cargo de destaque na Mesa. No entanto, o governador quer uma pessoa do seu partido. Além de ser do seu partido, ainda é seu cunhado. Entendeu?
A GAZETA – A gente sabe que a eleição da Mesa Diretora é distinta para os cargos. Há eleição para presidente e secretários. Os cargos mais disputados são de presidente e primeiro-secretário. Como está essa questão da Primeira-Secretaria?
F.C. – Não tenho cerimônia em dizer que eu conversei com o Roberto Duarte e declarei apoio para ele. Sempre defendi dentro do grupo ao qual pertenço o nome do Roberto para a Primeira-Secretaria. No entanto, tivemos uma reunião ontem, 23, pela manhã, e o grupo a qual pertenço tem simpatia pelo nome do Luiz Gonzaga. E como está tudo caminhando para um consenso, acredito que o Wendy não vai emplacar e que o Luiz Gonzaga será o primeiro-secretário. Mas, também, como dizem né: política se dorme de um jeito e acorda-se de outro. A princípio, nesse momento, vem caminhando para acontecer.