Em sequência à série de entrevistas com os secretários de Estado do governo Gladson Cameli, A GAZETA conversou com o secretário de Produção e Agronegócio, Paulo Guilherme Salvador Wadt. Ele falou dos desafios para alavancar a produção rural no Acre. Dentre as barreiras, ele cita a burocrática legislação ambiental para a retirada de licenças e a falta de assistência técnica ao homem do campo.
Paulo Wadt comentou sobre as ações da Secretaria, que visam buscar parcerias para melhorar a assistência técnica no Acre, além do apoio das instituições bancárias no sentido de permitir que o produtor tenha acesso ao crédito.
A GAZETA – O governador Gladson Cameli, em visita a Rondônia, disse: “quem quiser investir em nosso Estado, será muito bem-vindo”. Como atrair esses investidores para o Acre?
Paulo Wadt – Do ponto de vista físico, de recursos naturais, o Acre já tem uma grande área de pastagem de baixa produtividade, por exemplo. Uma quantidade enorme. E grande parte dela está localizada na região Leste do Estado com relevo favorável. Então, já existem essas condições necessárias sem necessidade de desmatamento. A gente está com a ponte do Rio Madeira sendo concluída este ano, até agosto, ou setembro. Assim, o escoamento da produção aqui vai ser facilitado também e essa facilidade é levar o produto até o porto de Porto Velho/RO. São várias empresas que atuam lá. O mercado comprador está na nossa porta, mais perto que o produtor do sul de Rondônia.
Por que não vem pra cá, o que impede? É a nossa legislação ambiental que tem uma visão distorcida. Na tentativa de se proteger a floresta, se matou o produtor. Hoje você não tem condições de fazer um licenciamento, sem muito gasto, sem muito papel, sem muita burocracia. Então, isso desgasta. Existem tipos de licenciamentos que podem exigir mais de 100 documentos diferentes, quando cinco ou seis documentos necessários resolveriam. Isso precisa mudar.
Existe uma coisa muito mais importante no agronegócio que é o produtor familiar. Ele que vai ser a grande mudança do jogo. Quando conseguirmos fazer com que o pequeno produtor tenha acesso ao crédito, porque aí a quantidade de dinheiro que vai entrar no Acre não vai ser R$ 10, R$ 20 ou R$ 30 milhões em projetos. Será 100 vezes isso. Serão R$ 800 milhões, R$ 900 milhões, ou mais.
A GAZETA – Sabemos que o Acre tem 87% do território coberto por florestas. Como aumentar a produção rural sem o desmatamento de novas áreas?
P.W – Isso não tem dificuldade nenhuma. Na verdade, temos uma quantidade de terras enormes disponíveis. Se você andar na zona rural, vai ver terras sem serem aproveitadas, terras abertas, sem florestas, mas que não estão produzindo nada. Então, você não precisa fazer nada. Precisa apenas fazer com que essa terra, que já está aberta, produza. Como se faz isso? Dando crédito e assistência técnica. Para o produtor plantar, ele precisa de dinheiro e no mundo inteiro onde já têm cidades ricas, estados ricos, precisa-se do dinheiro do fomento para fazer a agricultura. Por que em um Estado pobre não vai precisar também? O que o Estado tem que fazer é deixar de querer produzir e fazer com que as pessoas que estão na terra possam produzir. Temos que deixar de fazer besteiras.
A GAZETA – O senhor já conversou com os bancos sobre isso?
P.W – Já estamos. Na realidade, se você for hoje falar com qualquer gerente de banco ele vai dizer a mesma coisa: o banco tem dinheiro para emprestar. Por exemplo, agora em Sena Madureira, se não me engano, o Banco da Amazônia tinha R$ 10 milhões para emprestar para custeio agrícola. Sabe quanto ele emprestou: R$ 300 mil. É porque não tinha produtor que não queria dinheiro? Não. É porque tinha produtor que não tinha as licenças ambientais todas regularizadas, e são licenças que não é de produtor que está desmatando. Ele tem a terra, está assentando. Só que não consegue porque os entraves são muito grandes.
A GAZETA – A Secretaria já definiu com o governo um pacote de ajustes na legislação ambiental para ser encaminhado à Assembleia Legislativa?
P.W – O governador Gladson gosta de cobrar, então, ele estabeleceu pra gente como meta nesses primeiros 100 dias de governo elaborar um plano que chama de ‘Licença Fácil’ para a gente rever todos esses procedimentos. Mas isso hoje está mais na mão da Secretaria de Meio Ambiente e da Procuradoria-Geral. Nós estamos apoiando mais do ponto de vista técnico. É um processo que não está na mão da nossa Secretaria.
A GAZETA – Como a Secretaria vai trabalhar essa questão das cadeias produtivas no Estado?
P.W – Isso já é uma visão errada. Existe a produção dentro da porteira e do lado de fora da porteira. Dentro da porteira, teoricamente, é fácil. É fácil você produzir e ter a produção, o difícil é você levar ela da porteira até o consumidor. Hoje, o fácil não conseguimos fazer porque o Estado interfere. O Estado quer dizer quando plantar, o que plantar, onde plantar. Isso não funciona. Então, estamos discutindo agora: todos os projetos que estão sendo feitos, o produtor decida o que ele quer fazer. Quando ele decidir o que quer fazer, que ele vá tomar o empréstimo no banco. E nós vamos tentar facilitar isso para todas as classes, desde o pequeno até o grande, apesar que o grande é muito mais fácil. Facilitando o empréstimo, o banco vai determinar se aquele produto vai ter mercado. O banco vai querer garantia de comercialização. E como vai se construir isso? À medida que você tem incremento na produção, vêm pessoas comprarem, vêm pessoas se organizarem. A indústria no Acre não cresce é porque não tem produção. Esse é o problema. Se produzirmos arroz, vai ter uma indústria de arroz aqui. Se o café se fortalecer, vai vir. Primeiro porque temos um mercado consumidor interno grande. Nem precisava às vezes ter muito mais indústrias, mas, no momento que se for vender pra fora, ele já vai vir.
A GAZETA – Qual o montante disponível para a Secretaria trabalhar em 2019?
P.W – A Secretaria hoje tem em torno de R$ 67 milhões. Se eu pudesse, não gastaria nem 10% disso porque a maior parte desse dinheiro é mal gasto. Nós precisamos refazer a Secretaria, voltar com que ela faça assistência técnica e extensão rural. Nós queremos trocar a política de compra de votos por produção. A política que estava colocada até hoje era uma política voltada para a compra de votos. Isso que era feito. Os beneficiários de todos os programas eram escolhidos de acordo com a suas filiações partidárias. Isso acabou! Secretários e diretores não têm mais poderes sobre a equipe técnica. A equipe técnica está sendo cobrada agora para ter resultados. Eles vão ter que fazer os planos que gerem resultados. O secretário não tem condição de fazer. Quem vai fazer é a equipe técnica. Estamos invertendo isso. Não é dinheiro que vai dar o nosso sucesso. O que vai dar o nosso sucesso é a liberdade para que o produtor possa fazer o que ele precisa fazer, e a gente ter pernas para fazer assistência técnica. Mas o Estado não vai ser suficiente para fazer sozinho. Então, vamos apoiar a iniciativa privada também, empresas de projetivas, agrônomos aí formados que queiram se cadastrar no banco. Vamos trabalhar com os bancos para que eles possam trabalhar a assistência técnica, e eles [agrônomos] possam trabalhar de forma autônoma ou como microempresários e possam ser prestadores de serviços.
A GAZETA – A reativação de colégios agrícolas tem sido pensada? Como está essa questão?
P.W – Isso aí nós precisamos da Educação. Temos conversado com alguns colégios, tentando abrir diálogo com alguns diretores de escolas. Nesse momento, ainda não focamos nisso. Mas nós temos a possibilidade de reforçar a nossa assistência técnica com estagiários e recém-formados. Estamos de olho nisso, sim. Só que agora o meu foco não é a Educação, e sim reforçar a assistência técnica.
A GAZETA – Para finalizar, o que o produtor pode esperar do novo secretário de Agricultura e Produção?
P.W – Vamos trabalhar muito. Vamos acabar com o assistencialismo e vamos ser transparentes nas ações. E, se Deus quiser, vamos zerar a corrupção que tem dentro da Secretaria.