Não podemos sofismar filosoficamente sobre as tragédias humanas, especialmente sobre tragédias do nível desta que ocorre em Brumadinho/Minas Gerais.
No entanto, o conceito do trágico é debatido pelos filósofos não somente em relação com a forma de arte que é a tragédia, mas também em relação à vida humana, em geral. A definição antiga de tragédia é, para Aristóteles, a imitação de acontecimentos que provocam piedade e terror e que dão início à purificação destas emoções. As situaçãoes que provocam “piedade e terror” são aquelas em que a vida ou a felicidade de pessoas inocentes é posta em perigo, ou em que os conflitos não são resolvidos ou são resolvidos de modo a determinar “piedade e terror “ nos expecatadores.
As tragédias humanas, milenarmente, nos trazem sofrimento. Filosoficamente, sofremos quando nos são tirados os prazeres, sejam os naturais e necessários (comer, beber água, dormir, etc.) sejam os naturais não necessários com suas variações supérfluas; sejam os naturais e vãos, como as riquezas e o poder.
A tragédia, alguém já disse, é a representação da vida no seu aspecto terrificante. A dor sem nome, a pena da humanidade, o triunfo da perfídia, a escarnecedora senhoria do acaso e o fatal precipício dos justos e dos inocentes nos são apresentados por ela; de modo que a tragédia constitui um sinal significativo da natureza do mundo e do ser. Esse conceito de tragédia se apõe muito bem as guerras, entre povos ou nações, que desgraçadamente nunca cessam. As motivações dessa irracionalidade sejam na guerra entre Israel e a Palestina ou em qualquer outro lugar do Planeta Terra, são ambições hegemônicas. Guerreiam num dado momento, para “resistir à brutalidade de um ditador.” Em outro, em favor duma agenda mulçumana, detentora de regras e cânones reacionários. Mas, no fundo querem a supremacia política e religiosa. A tragédia humana deste confronto irracional é que o inocente tem que pagar por uma culpa que outros cometeram.
Outra tragédia humana é a violência urbana que se apresenta, cada dia que passa, de forma mais insidiosas, mais cínicas, num grau de refinamento que provavelmente supera em muito os períodos mais cruéis da história da humanidade. Genocídios e torturas “cientificamente” organizados; perseguições de todos os matizes, depurações raciais e “limpezas étnicas”; êxodo forçado de populações inteiras e grupos sociais indefesos; terrorismo em formas inumanas; segregação e/ou exclusão econômica, racial e religiosa, todos são comportamentos individuais e coletivos que traduzem nada mais, nada menos, do que o simples e cruel desejo de destruir o outro. A violência nossa de cada dia é sintomática; é como um câncer, com suas metástases, levando o homem a um estado terminal.
Não menos trágico é constatar que o homem deixou, em sua maioria, de ser consciente de si e dos outros. Não tem capacidade de reflexão e de reconhecer a existência do próximo como sujeito ético igual a ele. Perdemos a consciência moral, trocamos a verdade pela mentira. Podemos dizer a verdade, contudo preferimos a mentira. É assim aqui, ali ou em qualquer outro lugar nos quadrantes da terra.
O pior de tudo é que, em sã consciência, o homem não tem a menor idéia do que ainda virá no campo das tragédias humanas!