Uma coisa é preciso admitir, a habilidade que o governo Bolsonaro tem de nos surpreender, negativamente, é indiscutível. O absurdo da vez foi protagonizado por Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, que durante o programa Roda Viva questionou: “que diferença faz quem é o Chico Mendes nesse momento? ”.
A frase dá margem a uma série de interpretações, tendo em vista que Salles faz questão de endossar que esse é o posicionamento do atual governo – “nesse momento”. Entretanto, o que não cabe é a ignorância do ministro sobre a Amazônia, seus povos, cultura e, em especial, sobre um dos maiores líderes ambientalistas do mundo: Chico Mendes.
Chico nasceu e viveu no interior do Acre, em Xapuri, onde foi assassinado por pessoas que, assim como Salles, eram contrarias as suas bandeiras de luta. As ideias revolucionárias desse humanista e ambientalista acreano são a base das políticas públicas de desenvolvimento sustentável no mundo.
O movimento que Chico Mendes liderou com outros companheiros e companheiras na década de 80 resultou na criação das reservas extrativistas no Brasil, entre outras conquistas.
Sua relevância e contribuição para o planeta é tamanha que em dezembro do ano passado, ambientalistas do mundo inteiro reuniram-se no Acre para celebrar e rememorar o seu legado e história. Do encontro nasceu a Carta Xapuri – manifesto construído coletivamente para reafirmar o compromisso com a defesa da Amazônia, das populações que nela vivem e impulsionar o pacto de gerações entre as lideranças do ontem, hoje e do amanhã.
Chico, o mundo conhece! E o ministro, quem é? É um advogado, ex-secretário de Estado de São Paulo, condenado por improbidade administrativa devido fralde no Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê. É o ministro de um governo que defende o fim da demarcação de Terras Indígenas e é a favor da flexibilização do licenciamento ambiental, mesmo diante de crimes como o de Mariana e Brumadinho.
Chico vive!
Maria Meirelles é jornalista e feminista*