“Eu sou de lá da ponta do Brasil onde o vento faz a curva. O açaí é a uva das bandas de lá. Do Brasil, sou um curumim apaixonado, Nauasakiri brasileiramente dobrado”. O trecho da música acima, de Alberan Moraes mostra bem a importância do açaí na vida do homem da Amazônia acreana.
Nesse sentido, é inconcebível que, durante todo esse tempo, as autoridades municipal, estadual e federal não tomaram providências para fazer com que a cadeia produtiva do fruto fosse explorada de forma segura, dentro dos padrões da Vigilância Sanitária com o intuito de resguardar a saúde de quem toma o produto.
Não sou biólogo, mas percebe-se que o ‘barbeiro’ é um inseto que vive na natureza e se alimenta do sangue de mamíferos. Até aí tudo bem, mas como esse inseto chega ao açaí? Um estudo da Universidade Federal do Pará, coordenado pelo professor Hervé Rogez, da Faculdade de Engenharia de Alimentos, revela que assim como nos animais mamíferos, o barbeiro é atraído pelo calor liberado dos frutos após a debulha dos cachos. “O fruto respira, usa o oxigênio e, logo depois, ele fermenta. O barbeiro detecta o paneiro de açaí por essa produção de calor e de CO2”, diz o pesquisador Hervé Rogez.
Ora, se o processo de contaminação está na armazenagem do produto é preciso que armazenamento passe por um processo de adequação. O que não pode é dizer: o açaí vendido nos mercados é ilegal, e agora vamos punir. Se essa medida for implementada vai punir apenas os pequenos. É preciso definir regras pra isso.
Não é uma medida fiscalizatória que irá resolver. Talvez, a solução passe pela organização de cooperativas de produtores de açaí, pela liberação de crédito para investimento em pequenas agroindústrias… São saídas que precisam ser estudadas. O açaí tem potencial econômico pra isso. Em grandes cidades como Goiânia e São Paulo, o produto é vendido a preços incalculáveis, então existe mercado sim para esse cultivo, que, diga-se de passagem, é ecológico.
Em 2013, o Pará já se preocupava com essa cadeia produtiva e uma Instrução Normativa deu as diretrizes sobre o armazenamento, industrialização e comercialização. O Acre precisa seguir esse caminho. O que não pode é em um Estado pobre como o nosso em receitas, mas rico ambientalmente, falando para essa cultura perder dividendos e geração de riquezas, sem que nada seja feito. Não se pode ficar jogando responsabilidades de um órgão para o outro, mas sim que haja união de todos. Registro aqui a coragem da Prefeitura de Rio Branco em dizer: temos um problema que precisa ser equacionado. Não jogou para debaixo do tapete, afinal o leite foi derramado. É preciso, tampar o buraco da panela agora.