Em resposta à minha coluna da semana passada, recebi algumas (muitas – que bom!) mensagens. Eram depoimentos, perguntas, comentário, descontentamentos. Dentre elas, uma em particular chamou a minha atenção. Faço aqui a reprodução exata do e-mail enviado da Austrália (embora este texto não seja publicado por lá, há alguém nos lendo de longe – novamente, que bom!):
Roberta
Minha vida é ótima. Família. Trabalho. Amores. Até conta bancária. Gosto de mim. Gosto de tudo. Gosto. Não mudaria uma vírgula. Ainda assim quero fazer análise. Quero começar já. Se possível hoje. Estou louco?*
Meu trecho preferidoé, sem nenhuma dúvida, o “Na verdade não mudaria uma vírgula”. Por que? Porque no e-mail inteiro, nenhuma vírgula foi usada. Nem umazinha. Um e-mail enviado para alguém que não vive sem vírgulas, parênteses, travessões, dois pontos, reticências – muitas reticências. Para alguém que não vive sem pausas, idas e voltas em um discurso que não cansa de se pensar, de se revisar, de se visitar.
Pontos finais (como usou 12 vezes meu interlocutor de terras distantes em um e-mail de 35 palavras – quase 3 por palavra) são marcas de certeza, de fechamento de raciocínio. Já vírgulas são janelas. Abrem possibilidades, abrem novos pontos de vista, furam convicções.
Na menção de uma vírgula inexistente esta posta a oportunidade para todo e qualquer tipo de sinal de pontuação. Na menção da grande dúvida que finaliza o texto, está posta a oportunidade de questionamentos outros (tantos). Sobre o já e o hoje falamos outro dia. Cada um, eu inclusive, a seu tempo. Boa semana queridos.
* Como sempre gosto de lembrar, o remetente desta mensagem foi consultado para autorizar a publicação do seu conteúdo.
* Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessàveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
E-mail: robertadalbuquerque@gmail.com
https://www.facebook.com/roberta.dalbuquerque
https://www.instagram.com/robertadalbuquerque/