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“Ele tentou me beijar”, diz passageira do Uber assediada por motorista na Capital

Uma mulher de 20 anos chamou um carro do Uber para conseguir chegar a tempo na aula da faculdade na qual estuda, em Rio Branco. Ela optou pelo uso do aplicativo por que estava atrasada e achou que chegaria mais rápido do que se fosse esperar pelo ônibus.

Ao entrar no veículo a jovem começou a ser importunada pelo motorista que fez várias perguntas e elogios a estudante.

“Ele veio, viu minha localização e perguntou qual curso eu fazia. E eu falei por que eu converso, é questão de educação. Mas sabe quando você se sente incomodada com a pessoa te olhando pelo retrovisor? Eu estava sentada no banco de trás e me senti incomodada com aquilo”, relatou a estudante que preferiu não ter o nome divulgado por medo.

A estudante conta que o motorista chegou a perguntar se ela “era aberta a elogios” e, mais uma vez, elogiou sua beleza, inclusive o formato de sua boca.

“Ele começou com elogios dizendo que eu era muito bonita, que tinha lábios bonitos e foi assim que eu percebi o assédio. Ele perguntou se eu era aberta a elogios e ainda falou que hoje em dia não pode nem elogiar uma mulher por essa questão do assédio. Aí eu falei que tinha que prestar muita atenção no que vai falar”, recordou.

No momento em que a jovem chegou ao seu destino, em frente à faculdade, o motorista a puxou pelo braço e tentou beijá-la.

“Na hora que chegamos à faculdade eu fui pagar e ele me puxou pelo braço e tentou me beijar. Falou que eu era muito bonita, perguntou por que eu não tinha sentado no banco da frente, pediu um selinho de amigo e eu disse que não éramos amigos. Pedi por favor pra ele deixar eu sair”.

Questionada se registrou um boletim de ocorrência, ela negou e disse que teve medo de encontrar o autor do crime de novo.

“Me senti péssima, pois essa não foi a primeira vez que sofri assédio”, conta, acrescentando que tentou denunciar o motorista à empresa, através do aplicativo, mas não conseguiu.

O caso da mulher não é o único em Rio Branco. Ao contar para as amigas da faculdade, a jovem afirma que ouviu diversos relatos parecidos, porém, assim como ela, nenhuma das mulheres registrou o crime na delegacia.

Denunciar é o jeito mais fácil de combater

O medo de diversas mulheres se reflete no número desse tipo de caso registrado na Delegacia da Mulher do Acre: zero.

Segundo a coordenadora da Deam, a delegada Juliana D’Angelis, não há registro de crimes de assédio sexual ou importunação sexual por parte de motoristas de aplicativos de transportes no Acre.

“É importante que faça o registro de ocorrência para que possamos poder responsabilizar esses motoristas, porque se a pessoa não registra com certeza ele vai fazer novas vítimas. Nós temos como identificar o motorista para que ele responda criminalmente pelo crime praticado”.

No caso relatado à reportagem, a delegada explica que houve um crime de importunação sexual e orientou a jovem a registrar o boletim de ocorrência. “Infelizmente, ainda tem muito homem que acha que isso é normal e não vê que isso é um crime”.

A recomendação da delegada é conferir, antes de entrar no veículo, se a placa e o motorista são os que aparecem no aplicativo. Outra dica é compartilhar a viagem por meio do aplicativo com uma pessoa de confiança.

“Em caso de identificar que não está na rota que foi selecionada, a mulher deve acionar o 190. Também é importante comunicar para alguém da sua confiança quando acionar o carro, informar a rota, se já embarcou, porque se por ventura ela não chegar no tempo estimado, alguém está sendo informado”.

Os casos de assédio contra a mulher crescem assustadoramente no Brasil. Conforme levantamento feito em fevereiro pelo Datafolha e encomendado pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), nos últimos doze meses 22 milhões de mulheres brasileiras passaram por algum tipo de assédio, sendo que 1,6 milhão foram espancadas ou sofreram algum tipo de tentativa de estrangulamento. Mais da metade das mulheres não denunciou o agressor ou procurou ajuda.

 

 

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