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Pacientes sofrem com superlotação e falta de medicamentos no Huerb; diretor aponta dificuldades de logística para o Acre

FOTO/A GAZETA

Quem conhece a atual situação do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), torce para não ficar doente e precisar de atendimento na unidade. Os problemas de superlotação, falta de medicamentos e insumos, déficit de profissionais e estrutura precária, não são novos. Pacientes e acompanhantes relatam que faltam seringas, medicamentos como tramal e até frascos para dieta enteral, que são destinados a pacientes que se alimentam por sonda.

A reportagem do Jornal A GAZETA foi até a unidade conferir a situação que os pacientes e profissionais enfrentam diariamente. E conversou, também, com o diretor do Huerb, Welber Lima, que enfatizou a dificuldade em fazer pedidos céleres, devido a questões de demora na logística para o Acre. Ele frisou, ainda, que a questão da superlotação é agravada por falhas no atendimento nas unidades básicas de saúde do Município.

A acompanhante de uma paciente que está na enfermaria há mais de dois meses relata que já gastou mais de R$ 200 com remédios. Segundo ela, a paciente se alimenta por sonda e, na sexta-feira, 22, o frasco para a dieta está em falta no hospital.

“Os remédios faltam direto e nós temos que comprar. Faltou seringa e agora está faltando os potes de alimentação para quem está com sonda. Também não tem tramal para dor. A gente tem que se virar para comprar. É um absurdo. Se ela não tivesse o benefício dela, como eu iria comprar?”.

A mulher acompanha a rotina do hospital nesses dois meses. Ela conta que há dias em que a observação está lotada, inclusive com pacientes no corredor, enquanto as enfermarias estão com leitos vagos.

“Tem leito vago aqui na enfermaria e ainda querem levar minha mãe de volta pra observação. Tentaram transferir ela para a Upa, mas disseram que não tinha suporte”, relata.

Um enfermeiro confirmou a situação caótica na unidade e afirmou que faltam medicamentos básicos e insumos.

“Geralmente está faltando seringas, medicação como gastrogel, losartana, que é um remédio para a pressão e que o Pronto socorro tinha que ter. Hoje, estamos trabalhando com captopril, e muita gente é alérgica. São remédios de urgência que faltam. A medicação que temos que fazer com seringa de 20mg, fazemos com a de 5mg, e ela perde a finalidade dela, e passa a não valer pra nada”.

“A gente tem que se virar para comprar. É um absurdo”

 

Quando o amor pela profissão esfria por falta de valorização

Outro problema já conhecido é o déficit de profissionais de saúde não só no Pronto Socorro, mas em todas as unidades da rede pública. A situação sobrecarrega enfermeiros e técnicos e prejudica o atendimento aos pacientes.

“O quadro está totalmente defasado, assim como nossos salários. Hoje, no mínimo, o governo teria que contratar uns 3 mil técnicos de enfermagem pra suprir a necessidade do Pronto Socorro, Upas e do Hospital de Base. Se for para suprir a demanda de todo o Estado, seria para mais de 4 mil funcionários”, disse o enfermeiro.

O enfermeiro denuncia, ainda, a falta de materiais de segurança para os profissionais. Além disso, os servidores estariam adoecendo por causa da sobrecarga de trabalho e estresse diário.

“Nós estamos doentes, mais pelo excesso de carga em cima da gente. Tenho colegas com pressão alta, colegas que surtaram no trabalho. Não temos nenhuma assistência, nenhum apoio, não temos nada. Desde o ano passado, eu estou tendo problema de pressão alta, e eu nunca tive isso antes”.

Apesar de ser apaixonado pelo seu trabalho, o servidor relata que toda a categoria está desanimada e trabalhando apenas para sobreviver.

“Tenho o maior amor pelo o que faço. Mas hoje muitos funcionários, talvez eu até seja um deles, estão indo trabalhar por obrigação. Não estamos indo trabalhar por amor. É porque se não formos, a gente leva falta e, se levarmos falta, é descontado do salário, que já é pouco. E é aí onde está o perigo, quando o funcionário vai trabalhar por obrigação”.

A situação no Pronto Socorro pode piorar já que os servidores da saúde deflagraram greve a partir do próximo dia dois de abril. Associado a esse cenário, está o fim do convênio do Estado com o Hospital Santa Juliana, além das demissões dos servidores do Pró-saúde, ambos marcados para o final deste mês.

“Se não tomarem uma providência agora, vai ser difícil. Vai virar um caos. Onde eu trabalho, nós usamos duas caixas de seringa de 7h às 19h. Hoje, o Pronto Socorro já está no limite, mas é por que as outras unidades não funcionam. Se chegar 100 caixas de seringas para um mês, não chega a isso porque não dá”.

  “Hoje, muitos funcionários, talvez eu até seja um deles, estão indo trabalhar por obrigação”

 

Diretor fala das dificuldades e acredita em melhorias a partir da próxima semana

Em entrevista ao A GAZETA, o diretor do Huerb, Welber Lima, falou sobre o déficit de funcionários, falta de medicamento e insumos, dentre outros assuntos. Segundo ele, a falta de medicamento se dá, principalmente, por causa da distância geográfica entre o Acre e os estados fornecedores. Ele explica que a compra de materiais feita no final de janeiro está prevista para chegar ainda esta semana.

“O Acre é muito longe. Está chegando três carretas com insumos, mas infelizmente, geograficamente, nós ficamos impossibilitados de fazer a compra do insumo e no outro dia estar aqui”.

Lima acrescentou que a situação deve ser normalizada no final deste mês, sendo que os estoques em todas as unidades de saúde da capital devem ser renovados a cada dez dias. “Essa parte de insumos eu tenho acompanhado muito e estou vendo que o problema não foi o governo, mas a burocracia e a distância. Até o final do mês não teremos mais problemas de insumos.”, afirma.

Sobre o déficit de profissionais, o diretor explica que aguarda o parecer da Procuradoria Geral do Estado (PGE) liberando um processo simplificado para a contratação de cerca de 350 profissionais de saúde.

Ainda de acordo com Lima, a superlotação da unidade é ocasionada por falhas no atendimento nas unidades básicas de saúde do Município.

“Se nossos postos de saúde funcionassem, se o Município abraçasse a causa e fizesse saúde, o Huerb não estava lotado. O problema é a falta de atendimento. Muita gente recorre ao Huerb porque diz que no posto só dá 20 fichas. Então, é falta de atendimento do Município. Isso é notório. Recebemos pacientes de todo o Estado, de Rondônia, de Boca do Acre, Envira e Amapá. Como é que um hospital desses vai suportar toda essa demanda? A superlotação recai no Huerb e não tem pra onde mandar”, relata.

O diretor destaca que, com a entrega da obra do novo Huerb, a situação deve melhorar.

“Temos uma perspectiva de terminar a verticalização em 60 dias. Conversamos com a empresa e faltam alguns retoques finais. Eles estão trabalhando dia e noite e eu estou fiscalizando. Irão funcionar os ambulatórios, enfermaria masculina e feminina, ortopedia e a nova UTI, que estamos vendo como vamos implementá-la. Até porque material e equipamento existe”, conclui.

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