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Semana Santa não é feriado prolongado

Caro (a) leitor (a) do jornal A GAZETA, no próximo dia 14 de abril, será Domingo de Ramos, dia que marca o início das comemorações do ponto mais alto da nossa fé: Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Como você deve saber, a Quaresma é um tempo rico de quarenta dias preparatórios para a semana da Páscoa Vitoriosa de Jesus sobre a morte. Jesus é mais que a morte. Ele ressuscita e continua vivo até hoje em cada um dos que O aceitam e dão continuidade à sua missão sacerdotal, profética, construindo o Reino de Deus baseado na paz, na justiça, no amor e na misericórdia. Jesus vive aqui e agora na Igreja, nos Sacramentos, na sua Palavra de vida, na Família e nas pessoas que vivem a misericórdia realizando obras de caridade.

Devido a Tradição Apostólica que tem origem no próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal a cada oitavo dia, no dia chamado o “Dia do Senhor ou Domingo”. O dia da ressurreição de Cristo é ao mesmo tempo “o primeiro dia da semana”, memorial do primeiro dia da criação e o “oitavo dia”, em que Cristo, depois do seu “repouso” do grande sábado, inaugura o dia “que o Senhor fez”, o dia que não conhece acaso. Por isso a festa da Páscoa não é simplesmente uma festa entre as outras: é a “Festa das festas”, “Solenidade das solenidades”, como a Eucaristia é o Sacramento dos sacramentos. Santo Atanásio (295-373) a denomina “o grande Domingo”, como a semana santa é chamada no oriente “a grande semana”.

A Igreja cristã herdou de Israel a sua festa de Páscoa; esta, porém, na passagem de Israel para a Igreja, mudou de conteúdo; tornou-se memorial de outro fato. ”A Páscoa de Israel era uma recordação e uma ação de graças pela grande emigração do Egito: ação libertadora do Senhor que tira seu povo da Escravidão, dando-lhe uma identidade: ser seu povo; passagem do povo pelo Mar Vermelho. Também significa a purificação da alma; passagem de toda paixão para o que é inteligível e divino” (Fílon de Alexandria). Passamos, pois da Páscoa, Judaica para a Páscoa Cristã.

Mas eu pergunto a você querido(a) leitor(a) com um pouco mais de vivência: lembram como eram vivido o tempo da Quaresma e da Semana Santa no tempo de seu pai, sua mãe, seus avós? Tenho aqui alguns relatos que presenciei e ouvi de muitos irmãos e irmãs: as casas não eram varridas, o cinema não funcionava, os casais não namoravam, e os poucos aparelhos de rádio eram desligados. Nada de diversão. Não se ouvia o sino da igreja, somente as matracas. Para temor da criançada, que nada entendia, os altares e imagens da Igreja eram cobertos com panos roxos, tom de voz das conversas era sempre mais baixo do que o comum, respeitava-se o jejum, fazendo apenas uma refeição – peixe e um pouco de arroz, rezava-se mais do que o costume, dentre outras coisas.

E hoje, como tem sido num mundo tão agitado e desprovidos de valores éticos, morais, cívicos, religiosos? Como os adultos e jovens católicos vivem neste período? As pessoas aproveitam para viajar, fazer feriadão, preocupam-se mais em passear. Claro, a semana santa vale para os católicos, mas quantos daqueles que se dizem “Católicos”, são influenciados pelos não católicos e descrentes? Infelizmente, feriado da semana santa virou feriadão prolongado.

Lembro a cada ano neste período e com tristeza, da frase de nosso pai São Francisco de Assis, que certa vez afirmou: “O Amor (Jesus) não é amado. O Amor não é amado”. As coisas do mundo vão parecer muito mais atrativas, muitos shows vão surgir, muitos convites para baladas, para viagens com amigos: praia, chácaras, fazendas, colônias, sol, churrascos, bebidas, diversões. Não quero nem entrar aqui na seara dos “ovos de chocolates” que nada tem haver com o sentido real da Páscoa do Senhor e nem da fartura de peixes, moquecas, bacalhau, camarão…

Mas é preciso que fique claro, que se trata da última semana de Deus em sua humanidade. E, como cristãos, é nosso dever participar junto com nossos irmãos de todas as solenidades da Paixão de Cristo. É preciso respeitar esses dias que são de jejum, penitência e silêncio.

Enfim, faço um convite do fundo do meu coração: após a procissão, não fique no sepulcro com o Senhor na sexta-feira da Paixão, ressuscite com Jesus. Não deixe Ele no sepulcro como muitos irmãos e irmãs fazem todos os anos. Deixe o Senhor também retirar a pedra do seu sepulcro interior, pois será a Páscoa, onde surge à vida, onde se vive a caridade no serviço do próximo. Estes são os sinais de que Jesus Cristo continua ressuscitando hoje.

E que na Vigília Pascal, você possa proclamar: Cristo ressuscitou e caminha com seu povo, a Igreja do Ressuscitado! Aleluia, aleluia!

Uma abençoada Semana Santa com Cristo Jesus. Paz e Bem.

 

 

*Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.

Guardião do Convento Nossa Senhora dos Anjos em Itambacuri – MG.

Colaborador do Núcleo em Formação da Fraternidade da Ordem Franciscana.

Secular-OFS, na Diocese de Rio Branco – AC.

Encontro todo 3º domingo do mês na Paróquia Santa Inês, às 7h.

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