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Pela primeira vez, espetáculo de teatro com audiodescrição será exibido na Capital

 

O espetáculo Alegria de Náufragos, do grupo paraibano Ser Tão Teatro, chega ao Acre neste mês. A peça, patrocinada pelo Programa Petrobras Distribuidora de Cultura 2017/2018, será apresentada nos municípios de Xapuri, Senador Guiomard e Rio Branco.

Em Xapuri, o espetáculo será realizado no dia 16 de abril. No dia seguinte, 17 de abril, é a vez de Senador Guiomard receber a peça de teatro. As apresentações encerram em Rio Branco, no próximo sábado, 20, no Teatro Plácido de Castro (Teatrão). A entrada é gratuita e a classificação indicativa é para maiores de 12 anos.

Pela primeira vez, o Ser Tão Teatro garante a acessibilidade em duas plataformas: audiodescrição, por meio da distribuição de 20 fones de ouvido, e presença em cena de uma intérprete de Libras, o que também garante a integração de pessoas com deficiência auditiva.

Essa é a primeira vez que pessoas cegas ou com baixa visão poderão acompanhar e usufruir a cena de um espetáculo de teatro, no Teatrão, na capital. O equipamento “traduz” simultaneamente as ações, aparência, linguagens corporais dos personagens, vestimentas e cenário, entre outros aspectos da peça.

Para a presidente da Associação dos deficientes Visuais do Acre (Adevi-AC), Lidiane Mariano, de 38 anos, o recurso representa uma oportunidade para as pessoas que não enxergam com os olhos, mas podem acompanhar com outros sentidos acompanhem a peça.

“A audiodescrição é muito importante por que ajuda a compreender as imagens, o filme ou a peça de teatro”, diz.

Deficiente visual desde o nascimento, Lidiane conta que nunca assistiu a um espetáculo de teatro. A única vez que foi ao cinema precisou da ajuda de sua irmã para descrever algumas cenas.

“Foi bom, mas se tivesse audiodescrição seria muito melhor tanto pra ela como pra mim, que poderia ter autonomia de assistir ao filme sem a descrição dela”, recordou.

A jovem Thaís Carvalho da Silva, de 24 anos, também possui deficiência visual e acredita que o evento será a oportunidade dela assistir, pela primeira vez, um espetáculo de teatro.

“Queria muito que os cinemas e teatros fossem acessíveis por que ainda falta esse tipo de acessibilidade. Já assisti a show de humor, assisti filmes em amostras, mas nunca a uma peça de teatro. Essa é uma ótima iniciativa, vai ser maravilhoso”.

Políticas públicas e inclusão

Inclusão na sociedade, igualdade de oportunidades e acessibilidade ainda são algumas das dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiências. Apesar de o Brasil ter avanço nesta área, ainda há muito que fazer.

É o conta a representante da Fundação Dorina Nowill para Cegos, Perla Assunção, que está em Rio Branco para participar da programação em alusão ao Dia Nacional do Braile, comemorado na última segunda-feira, 8.

Assunção destaca a necessidade de implantação e construção de políticas públicas. “Temos uma legislação que precisa fazer valer e acontecer de fato. Esse é um grande passo. Criou-se a lei com muita luta, mas precisamos efetivar isso nas políticas públicas e pensar esses espaços culturais para que seja promovida essa inclusão com esses recursos [audiodescrição, por exemplo]”.

Para Assunção, recursos como audiodescrição e intérprete de libras são instrumentos de cidadania. “É um instrumento para as pessoas terem acesso à cultura, a educação. Não é entretenimento, embora, se fosse entretenimento, estava valendo por que é uma questão de direito. Essa é uma possibilidade dessas pessoas acessarem todo o conteúdo imagético”.

 Sinopse Alegria de Náugrafos

Alegria de Náufragos traz em seu centro o emérito professor Nicolai Stepianovitch de Tal, que se depara ao final da sua existência, com uma inevitável análise de si mesmo. Apesar de seu currículo impecável, de ter constituído família e de ser um “homem feliz”, ele gradativamente é submetido a um doloroso processo de falência interior e começa a adquirir clareza sobre o lado patético da sociedade e de suas instituições.

A montagem é fruto de um livre diálogo do coletivo com a obra de Anton Tchekhov, Uma História Enfadonha, na tentativa de estabelecer pontes entre esse discurso literário de mais de um século e meio com contundentes questões da nossa própria época. Aos préstimos desses olhos enfadonhos e desesperançosos de Nicolai, os atores incidem sem concessões sobre o presente e a geografia, não livrando nem a si mesmos deste crivo, com doses generosas de acidez e humor.

 

 

Categories: Flash
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