O autônomo Juvenal Farias de Souza, de 31 anos, ficou desempregado por quase dois anos. Fez curso de eletricista, entregou currículo em estabelecimentos que estavam à procura de trabalhadores e até em locais que não estavam contratando. Foram dias e dias à procura de um trabalho com carteira assinada.
Sem respostas das empresas, Souza decidiu fazer trufas de chocolate para vender nos sinais e bairros de Rio Branco. O bombom custava R$ 1 e com o pouco dinheiro que juntava conseguia sustentar a família.
Até o dia em que sua esposa engravidou e os gastos da família aumentaram. Com experiência em panificação, Souza decidiu inovar nas vendas e fabricar pães caseiros.
“Comecei vendendo em uma bicicleta no bairro onde eu moro, depois comprei uma moto, e aí foi melhorando. As pessoas foram gostando e aí surgiu a oportunidade de comprar um carro”, conta.
Hoje, há quase quatro anos trabalhando com a fabricação e venda de pães, o autônomo trabalha apenas um período por dia em um ponto fixo, localizado em frente à Contax, na Via Verde, em Rio Branco.
Questionado se aceitaria um emprego formal com carteira assinada, Souza diz que não. “Hoje, a minha intenção é abrir uma firma MEI. Não compensa financeiramente aceitar um emprego formal. Também tem a questão do tempo. Como eu só trabalho com o pão caseiro, tenho tempo livre e posso trabalhar em casa”, relata.
A história de Souza é apenas uma das milhares contadas por brasileiros que fazem “bicos” para obter renda. Na capital acreana não é diferente. O trabalho informal é a alternativa encontrada à falta de vagas com carteira assinada.
Acre tem queda na geração de emprego
Não é preciso ir muito longe para ver o crescimento do mercado informal em Rio Branco. Os sinais das principais vias da Capital quase sempre estão ocupados por pessoas vendendo desde alimentos até acessórios para carros.
O cenário tem sido reflexo da economia brasileira em geral. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o Brasil fechou mais de 43 mil vagas de emprego com carteira assinada em março deste ano.
O número é a diferença entre as contratações (1.216.177) e as demissões (1.304.373) no mês. Este também foi o pior saldo para o mês desde 2017, quando mais de 62 mil trabalhadores foram demitidos. Ano passado, no mesmo mês, 56.151 de pessoas foram contratadas.
O Acre também acompanha a queda nacional e registra um saldo negativo de 1,47% na geração de emprego, ou seja, mais pessoas foram demitidas do que contratadas. No setor de construção civil, a queda na oferta de trabalho foi de 6,85%. Os serviços industriais e a agropecuária também tiveram baixas.
No comércio, a redução foi de 2,64%. Os únicos setores que apresentaram resultado positivo, porém pequeno, forama indústria e serviços com 0,66% e 0,01%, respectivamente. No geral, o mês de março fechou com o saldo de -0,41% na geração de empregos.
“Os números são reflexos do que não está acontecendo”, diz economista
Para o economista Carlos Franco, os índices apresentados pelo Caged refletem a falta de implementação de políticas públicas e ações para movimentar a economia por parte do Governo Federal e Estadual.
“Nós estamos vivendo um cenário parecido com um período pré-eleitoral, de falta de boas expectativas. A economia funciona com dois critérios: a realidade objetiva com informações e a expectativa que essa informação gera. Essa expectativa pode ser positiva ou negativa. Então, quando sai um resultado ruim, o empresariado e a sociedade não conseguem ter a crença de que o governo vai melhorar a situação.”
Franco destaca o índice de desemprego da população entre 18 e 24 anos, que chega a 27%. “É um número absurdo para a faixa etária que está mais sujeita a problemas sociais. Não é preocupante, é extremamente preocupante. Não quero ser pessimista, mas impressão que eu tenho é que nós estamos em abril e já perdemos o ano de 2019”.
Com a baixa oferta de empregos formais, o economista confirma que o mercado informal é uma alternativa para quem busca uma renda mensal.
“Como não aumenta a oferta de emprego, as pessoas se veem em uma situação de não conseguir um emprego formal e buscam alternativas e investem na criatividade. Essa é uma característica desse cenário de aumento de desemprego”, explica.
Contudo, Franco alerta que o crescimento de trabalho informal impacta na arrecadação de impostos e na geração de novas vagas no mercado formal.
“Não é um problema, é uma solução improvisada. O ideal seria um emprego formal, que gera imposto e outros empregos. Ela é uma alternativa à crise, mas não é a melhor solução. O ideal seria a pessoa ter confiança e credibilidade de estar em uma atividade formalizada. Essas pessoas estão buscando uma alternativa de sobrevivência, é o que esse tipo de trabalho representa.”
Por fim, o economista afirma que o saldo negativo reflete até em planejamentos de vendas para o final do ano com relação à expectativa dos empresários.
“Vamos pensar como um grande empresário, que tem capacidade para fazer grandes investimentos. Eles estão na expectativa do que vai acontecer no futuro, para que caminho esse governo vai seguir, mas o governo não consegue colocar em prática nada, nenhuma proposta que mostra expectativa de melhorias futuras da economia. O país ainda não consegue visualizar como estará em dezembro ou no início do ano que vem”, conclui.