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É fogo na roupa!

A Gazeta do Acre por A Gazeta do Acre
13/05/2019 - 16:08
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É fogo na roupa!

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Caminhou por atalhos densos, escusos, íngremes mesmo, por pântanos a perder de vista. Passeou pela vida afora assobiando ao vento, com as mãos nos bolsos da jaqueta bem talhada, sempre coçando alguns ou muitos vinténs que nunca lhe faltaram. Depois, passou a velejar por mares ainda mais remotos, tendo como orientação o velho astrolábio deixado pelo avô Belizário da Conceição Oeiras, o marinheiro.

Ainda subia a ladeirinha da telefônica quando, de repente, um vento frio lhe bafejou as fuças prazenteiras. Ergueu as vistas e divisou a alma penada predileta que, logo à frente, cerca de dez passos, corcoveava sobre pernas invisíveis e parecia dançar algo como o flamenco. Passou então a caminhar bem devagarinho, mas a imagem do além túmulo não se fez de rogada e ficou a esperar. Cumprimentou efusivamente, fez mesuras de um mundo e de uma época que já vão longe, festejou mesmo, uma vez que se avistavam a cada dois ou três meses, há dez anos. Já eram bem conhecidos e quase amigos, é certo.

Como ele sabe já das preferências literárias do poeta metido a gostoso, passou a recitar, em forma de poema, o parágrafo lá de cima, dando ênfase teatral quando citou o nome do avô morto, no Brasil, em combate, na guerra contra os paraguaios.

Na parada de ônibus, então, uma velha matrona ficou espantada e fez o sinal da cruz, e persignou-se, quando o viu e ouviu falar de si para si mesmo, uma vez que se dirigia à alma do outro mundo, invisível aos olhos dela, uma mera mundana insensível, no bom sentido, é claro:

– Meu boníssimo Astrogildo Berimbau… Sujeito dos cacetes! Vossa Mercê e as suas ponderações acerca da alma humana. Sempre muito brilhante. Prossigamos!

Como sempre, ele fez companhia até a entrada do mercado dos peixes da estação. Era segunda-feira madrugadinha, ainda sem sol. Havia feirantes e fregueses tagarelando para todos os lados. Dona Máxima, a simpatia e simplicidade em pessoa, fez cumprimento sorridente. Como sempre, de saída, já o espírito sacana que faz companhia não foi visto, mas o poeta veio para casa com a sacola de tambaqui nas mãos e remoendo as palavras do doido mais transversal do mundo dos sensitivos.

E agora, pensando na inteligência e na argúcia do Astrogildo Berimbau, o trovador atônito percebe não saber como é que o sujeito morre na Espanha, a tiros, num beco escuso da Rambla, em Barcelona, e vem bater aqui, nos confins da Amazônia, já na subida dos Andes, enquanto ser espiritual, para tornar-se o seu melhor amigo das nuvens. Certo é que ele se afeiçoou a ele e às suas tiradas sempre jocosas que aliam o fervor dos espanhóis com a tagarelice e a pabulagem dos nordestinos do Brasil.

Foi aí que o doidivanas pontuou Aristóteles que dizia algo parecido com o aforismo segundo o qual a música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição.

Segundo o senhor Berimbau, o avô, cearense de Aracati, pertencia à marinha mercante e ancorara em portos do mundo inteiro. Como homem do Ceará, exagerava nos relatos rocambolescos em meio aos lençóis e fronhas e alcovas e puladas de muro por aí afora. Ficava acordado e dormia e sonhava e arrochava laços de prazer com mulheres dos mais variados matizes e culturas diversas.

Pinga fogo que era, em Marselha, uma vez, se encantou por uma moçoila morena trigueira de vinte e poucos anos. Ela nascera ao norte da França, mas, de origem humilde, trabalhara, desde criança, nos olivais da região de Alsácia e Lorena.

Depois, vivera enquanto criada nos arredores de Paris, quando aprendeu a ler, na Malmaison, onde ainda viviam alguns descendentes de uma antiga proprietária, Josephine, a crioula da Martinica que botou chifres homéricos em um marido efeminado, nada mais nada menos que Napoleão Bonaparte.

De tanto ouvir ao gramofone enquanto zelava os aposentos de uma madame qualquer, aprendeu a cantarolar com alguma qualidade modinhas trazidas da infância em meio aos vinhedos.

Foi com a base assim bem calculada que Théréza se tornou afinada e afamada cantora de baladas na região do porto de Marselha. Segundo o Astrogildo, lembrando essa paixão frugal, mas não passageira, o seu avô sempre cantarolava Vous Qui Passez Sans Me Voir, de Jean Sablon.

Ao redor das penteadeiras de Madame Julie Clary, em Malmaison, Théréza ouviu falar nos perfumes tão bem elaborados em Paris. E foi assim que ela partiu para o trabalho de cantora. Era preciso algum dinheiro. Roupas, calçados e perfumes sempre são muito caros. Se aparecesse alguém que lhe bancasse pelo menos parte de todo esse gasto, a vida, enfim, voltaria a lhe sorrir, como na infância.

Não se sabe ao certo como uma moça pouco atirada poderia ter ensandecido as saliências e a libido do marinheiro Oeiras. O bardo, enfim, lembra ter o Berimbau dito mais ou menos que um dia chegaria a hora de separar as meninas das mulheres, da forma mesma como são separados os homens dos garotos.

Certo livre pensador português relata-nos que uma aventura vale na medida em que é perigosa. Por conta da cantora, Belizário se meteu em muita pancadaria, onde a capoeira dava o tom dos seus golpes sempre muito violentos e bem aplicados.

O lirismo da música na voz da francesa tornava o ar muito mais respirável, pelo menos enquanto ele ficava em Marselha, às vezes, por semanas, à medida que o navio era carregado e/ou descarregado no porto mais movimentado da época.

Problema único a resolver foi que o odor próprio dela era mais forte que os mais fortes perfumes de toda a perfumaria francesa. Fazer o quê?

Até que uma vez, limões taitianos passaram a ser usados nas axilas, dia sim, dia não, em casa. No intervalo, sabão puro era empregado durante toda a tarde. Certo é que, em uma semana de terapia intensiva, o bom marinheiro tinha nas mãos a moça mais cheirosa de toda a França continental.

Numa das suas tiradas mais sarcásticas anotadas pelo bardo lunático, em resumo, o bom Astrogildo Berimbau acrescentou algo parecido com a assertiva a seguir:

– Menina é menina e não cheira, mas também não fede, ou pode até ter maus cheiros debaixo dos sovacos, aos vinte e poucos anos, porque ainda não é mulher o suficiente. Ao contrário, as damas cheiram porque os seus princípios femininos assim o exigem. Elas misturam um certo odor feminino natural pós-banho com os mais variados perfumes de todas as origens, e tudo fica angelical. Considere-se, por outro lado, que há algumas mocinhas de pouco mais de quinze voltas que cheiram encantadoramente, isto porque já nasceram com a alma de madame. Uma verdadeira maravilha!

Pela falta de um grito se pode perder toda uma boiada. Um bom brasileiro arranjou um jeitinho a mais. Foram felizes, sim. Théréze veio para o Brasil e aqui permaneceu por apenas três meses, no Recife. Foi quando Belizário, aos quarenta anos, se viu na obrigação de alinhar-se ao exército de Tamandaré e Caxias.

Uma pena! O marinheiro foi atingido por um projétil na Batalha do Riachuelo, na confluência do Rio Paraguai.

 

CLÁUDIO MOTTA-PORFIRO*

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