Caro (a) irmão (ã), leitor(a) do Jornal A GAZETA, Paz e Bem! Retomo neste número artigo, mais uma sequência de reflexões sobre a vida deste homem medieval, que ainda hoje, tem a força testemunhal, de tocar corações nos diversos seguimentos da humanidade: Francisco de Assis. Ele rompeu com o gênero de vida que levava: psicologicamente se sentiu insatisfeito; desmoronou-se o universo em que vivia; trocou de caminho, foi uma mudança total, transformando também na vida interior e exterior; poder do Encontro com o Evangelho Vivo. Não foi o primeiro, nem o último. O Espirito Santo, que vivifica as letras do Evangelho, sopra ainda hoje pelo mundo, transformando vidas e ascendendo nas almas o santo temor do Senhor.
Diz Francisco: “O Senhor me concedeu a mim, Irmão Francisco, iniciar uma vida de penitência” (Test. v.1). Segundo Francisco, não foi ele, mas foi o Senhor que tomou a inciativa de muda-lo. O grande sopro transformador arranca Francisco de uma vida cristã de aparência e sem fermento, cultural, ritual, mergulhando-o num processo constante de conversão, relendo a historia e os sinais dos tempos, optando por um estilo de vida conforme Jesus e os apóstolos, fazendo assim, brotar a espiritualidade franciscana.
Essa é antes de tudo, uma escola de santidade. Francisco, com seu exemplo e com seus ensinamentos, colocou o fundamento de um grande edifício que os teólogos franciscanos, logo concluíram com suas especulações. O que trouxe, também, uma grande contribuição na historia da evangelização universal.
O dia 29 de fevereiro de 1209, festa de São Matias, é a data mais importante na vida de João Batista Bernadone, chamado depois Francisco. Neste dia recebeu na Porciúncula a “Revelação-Sopro” do Evangelho Vivo. Não somente como letra e rito, mas como VIDA que ilumina e transforma: “devia viver exatamente como os apóstolos, segundo se lia no texto sagrado”.
Para que não ficasse dúvida do que havia escutado e ouvido, com o coração, pediu ao sacerdote, depois da Missa, que lhe explicasse o texto evangélico. Ouvindo o sacerdote que tudo isso se referia aos que desejavam ser discípulos de Cristo, vibrou de santa alegria, cheio do Espírito Santo, e exclamou: “ É isso que que quero, é isso que procuro e é isso que eu, com todo o coração, me proponho cumprir de agora em diante”(1Cel 22).
Imediatamente, pôs mãos à obra: sem bastão e alforje, descalço, com uma túnica, põe uma corda no lugar do cinto e começa ai mesmo, a pregar a paz. Francisco aceita aquela Palavra para si! Toma posse dessa revelação que será capaz de fazê-lo mudar toda a sua compreensão de vida, tornando-se discípulo ardoroso de grande Rei. Ele muda a visão que tinha de si mesmo; muda a visão que tinha sobre as outras pessoas, muda a visão que tinha sobre a Igreja e muda a visão que tinha sobre a natureza.
Quantos ritos de missas, procissões, ações litúrgicas, Francisco deve ter participado sem experimentar a força viva do Evangelho, muitas vezes transformado somente, em letras e ritos. Havia 1209 anos da encarnação do Filho de Deus e da vida peregrina de sua Santa Igreja.
Como sabemos, havia as grandes questões teológicas, os Concílios, as Cruzadas, as catedrais, o início das famosas universidades, as heresias, as guerras, o surgimento do capitalismo, as conquistas de povos, as mudanças sociais e políticas, a liturgia sacra. Tudo isso pode ser entendido somente como manifestações culturais, rituais e mágicas, mas sem transformar a vida das pessoas; sem iluminar os corações gerando conversões, sem fazer surgir discípulos tocados pelo Senhor.
Com Francisco foi diferente: transformado, nos faz entender que “Não se nasce cristão, se torna pelo chamado: vem e segue-me”; Jesus exige uma ruptura e uma entrega incondicional, conforme as exigências aos profetas do Antigo Testamento. O Mestre Jesus, está rodeado de seus discípulos, que vêem o que Ele faz, vivem como Ele. O discípulo só pode ter um mestre: Jesus. Não pode servir a dois senhores! Existe uma grande intimidade entre o Mestre e o discípulo: são chamados de amigos. Não pode voltar atrás! Não se pode colocar-se no lugar do Mestre. È uma vocação que absorve a pessoa! Tudo isso para que o discípulo seja enviando como Apostolo do Senhor.
Meus irmãos e irmãs, vejamos nossa vida cristã, como anda em nossas paróquias! Vejamos se não estamos querendo roubar o lugar do Mestre; se não estamos buscando servir a nós mesmos! Vejamos, se a fé que professamos realmente é um valor em nossa vida, ou uma mera tradição familiar. Vejamos se o Evangelho é uma força viva transformadora, ou um mero livro, que enfeita as estantes, ou que usamos somente para informar os outros. Vejamos se fomos tocados por uma força viva, que brota das Palavras de Jesus, ou se levamos uma fé morta e estéril. Vejamos se a Palavra viva nos convida a uma cultura orante que transforma nosso modo de pensar, de agir, de celebrar. Vejamos se nossas ações são reflexo daquilo que cremos, como discípulos de Jesus a caminho do apostolado. Primeiro precisamos ser discípulos para sermos apóstolos, a exemplo de São Francisco, homem cristão transformado pelo Evangelho Vivo. Paz e Bem.
(*) Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.
Guardião do Convento Nossa Senhora dos Anjos em Itambacuri – MG
Colaborador do Núcleo em Formação da Fraternidade da Ordem Franciscana
Secular-OFS, na Diocese de Rio Branco – AC
Encontro todo 3º domingo do mês na Paróquia Santa Inês, às 7h.