Com essas palavras do título, a pastora Mariama White-Hammond, da Igreja AME, em Boston, sintetizou uma verdade biológica: qualquer espécie animal ou vegetal precisa fazer isto ou vai para extinção. Mas, ela estava focalizando nos sistemas que a humanidade tem construído e usou este conceito para analisar o que estamos fazendo para a próxima geração poder sobreviver bem neste planeta.
Uma afirmação desta levanta a pergunta: como estamos fazendo coletivamente para não ser um sistema falido? A resposta é mista: Por um lado, a pobreza extrema no planeta tem baixado relativamente, a expectativa da vida aumentou e muitos insumos são mais baratos em termos de aquisição por seres humanos. A revolução tecnológica está permitindo a qualquer pessoa com celular acessar informação do mundo inteiro via a internet. O poder crescente de telecomunicações permite a interação de milhões de pessoas e a disseminação de ideias e soluções numa velocidade incrível.
Por outro lado, temos o colapso da biosfera natural com reduções drásticas nas populações de plantas e animais. Quem acha isto uma lástima, mas considera que isso faz parte do progresso, deve parar de respirar durante um minuto para refletir sobre a nossa dependência do funcionamento da biosfera. Afinal, o oxigênio que vai sentir falta é o resultado de milhões de anos de acúmulo e regulação da mesma biosfera. Estamos mexendo com os reguladores não só de oxigênio, mas também os da estocagem de carbono em solos e florestas e do bombeamento de água e da distribuição das chuvas. Cerca de metade da chuva na Amazônia vem via reciclagem nas próprias florestas. Mexer na floresta Amazônica significa mexer na distribuição das chuvas, não só na Amazônia, mas também em regiões como São Paulo e sul do Brasil.
A humanidade triplicou a população desde que eu nasci em 1951 e, provavelmente, vai alcançar quase 10 bilhões de habitantes até 2050, dentro da vida esperada de um jovem adulto de hoje. Vamos precisar encontrar emprego, educação, abrigo, saúde e bem-estar para mais dois e meio bilhões de pessoas nas próximas décadas. Se isto não for um desafio suficiente, podemos levantar ainda a situação de mudanças climáticas.
Adoraria ser um cético convicto sobre a influência humana sobre o clima porque já temos crises suficientes para lidar, como vocês podem ver, mas os fatos não me deixam. Nos últimos cem anos, os períodos mais quentes ocorreram nos últimos anos, em 2015, 2016, 2017 e 2018. Nos últimos cinquenta anos, um gás de efeito estufa – gás carbônico ou CO2 – está aumentando rapidamente sinalizando que as temperaturas vão continuar a subir. O IPCC – Painel Governamental de Mudanças Climáticas – que reúne as pesquisas mais recentes, só conseguiu ser otimista no seu último relatório quando comparou os desastres associados com o aumento de 1,5 graus C versus os desastres de 2,0 graus C. Os desastres de 1,5 graus C seriam menores, mas mesmo assim seriam bem mais fortes do que estão acontecendo atualmente.
E o que estamos fazendo para preparar a próxima geração para lidar com tudo isto? Não faltam avisos de que muita coisa está mudando. Talvez uma lista poderia ser útil.
- Educação. Afinal, a preparação da próxima geração, como a pastora Mariama colocou, deve ser uma prioridade e a educação formal é tipicamente considerada como uma resposta para esta prioridade. A pergunta central é o que estamos fazendo para preparar alunos para o século 21, do qual quase 20% já era? Eles e elas sabem como aprender, ser autodidatas? A internet é uma mina de ouro de informação, mas pessoas precisam saber como usá-la. Os formandos de ensino médio sabem usar matemática, escrevem bem em português, entendem espanhol falado (afinal, mais de trinta milhões de bolivianos e peruanos vivem dentro de 750 quilômetros do Acre) e saber ler inglês que aumenta por um fator de dez ou mais o acesso à informação na internet? Eles entendem as tendências atuais e suas implicações para o futuro? Eles aprenderam como ser ativos em controlar os seus destinos com moralidade?
Duas disciplinas transversais ajudariam muito a preparar alunos para o que resta do século 21: problemologia e solucionologia. A primeira, definição correta do problema, é a chave para a segunda. Estamos na época de “Fake News”, ou seja, pode-se encontrar apoio na internet para qualquer opinião, mesmo sendo longe da realidade. Preparar alunos para separar fatos de mentiras é essencial para poder definir o que precisa ser solucionado. Mas, as tarefas não param com o problema definido; soluções têm que ser criadas, muitas vezes, para situações que não existiam no passado. Ajudar alunos a aprender como buscar soluções. A solucionologia, vai ser essencial perante os desafios que enfrentamos.
- Políticas Públicas. Como no caso de educação, podemos fazer perguntas sobre as políticas públicas e a próxima geração. Qual é a política de Estado para lidar com eventos extremos do clima que estão causando danos sérios à economia regional e que promete aumentar no futuro? Para lembrar alguns eventos nos últimos cinco anos: 2014, o isolamento do Acre pela inundação do Rio Madeira que impediu a circulação de 800 milhões de reais na economia do estado; 2015, a inundação histórica de Rio Branco que causou entre 200 e 600 milhões de reais de danos e custos; 2016, a seca baixou o Rio Acre para a menor cota em 40 anos e quase colapsou o abastecimento de água oriunda do Rio Acre para a cidade de Rio Branco.
A tendência é ter eventos mais extremos do que os de 2014, 2015 e 2016. Diante disto, alguns governos nacionais, como o de Trump, estão usando soluções dos séculos 19 e 20 para os problemas do século 21. É o equivalente a prometer telefones fixos quando todo mundo quer usar celulares. Outros países estão antecipando as mudanças. A China, por exemplo, tem um PIB efetivo per capita similar ao do Brasil, investe cerca de 50% mais na educação em relação ao PIB, e valoriza professores da rede pública, além de querer dominar a tecnologia de energias renováveis.
As tendências são somente estas, tendências e não destino. Para preparar a próxima geração para sobreviver num admirável mundo novo em crise, podemos trabalhar para mudar as tendências – manter e restaurar a biosfera da qual dependemos, aproveitar as tecnologias de comunicação para ser mais eficiente e conservador de recursos, fechar os ciclos de elementos e compostos para eliminar a toxificação do meio ambiente. Usando as palavras da pastora Mariama: “Se transformem nas pessoas pelas quais estávamos esperando”. A próxima geração lhes agradecerá.
*Foster Brown é pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, docente da Pós-graduação e pesquisador do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre. Coordenador do Projeto MAP-Resiliência.