X

O manejo da agenda e seus efeitos colaterais

?

Muitos costumam dizer por aí que o Governador Gladson Cameli não tem palavra e que costuma dizer uma coisa para em seguida encaminhar de modo diferente.

Dizer que tal vício, ao menos de certo modo, não é verdadeiro, lamentavelmente, não é possível.

No entanto, quanto a tal falha em específico, a culpa não é totalmente do Gladson. Sendo mais preciso, Gladson não chega nem ao menos a responder por 50 % da referida culpa.

O problema, na parte que lhe toca, é que o governador maneja a própria agenda como se fosse prefeito do pacato Município de Santa Rosa do Purus.

Ou seja: age confiando na própria memória, coletando demandas de passagem ou de relance, sem o menor cuidado com a obediência ao rito político e administrativo que, sem nenhuma possibilidade de escapatória, se faz totalmente necessário para o exercício do poder na dimensão que o mesmo detém no tocante à complexidade e ao volume das demandas.

Em relação às obrigações posturais que cabem às outras partes – no caso, a sua equipe de assessoria e os terceiros interessados – faz bem lembrar, especialmente quanto aos primeiros, que o governador precisa ter à sua disposição uma equipe de ‘filtragem’ para análise e preparação dos encaminhamentos das demandas que, procedentes ou não, batem diariamente nas portas do governo.

Quanto aos terceiros interessados, é necessário a superação da ilusão de acharem que o congestionamento do WhatsApp do governador – ou conversas de passagem, às pressas em meio à correria – serão suficientes para que seus pleitos sejam efetivamente resolvidos.

As coisas não são assim e as negativas que muitos recebem ao não terem “o sim” confirmado, não deixam de ser sintomas decorrentes da forma precária como os problemas chegam ao governador.

Na imensa maioria das vezes – não adianta teimar -, a negativa ocorre exatamente porque o “sim” foi obtido por meio de evasivas que se fazem, muitas vezes, convenhamos, necessárias.

O que muitos não percebem, ao encaminharem intempestivamente e/ou precariamente os pleitos ao governador, é que muitas vezes o “sim” foi apenas a estratégia disponível para livrar-se da chatice que é o sujeito encontrar-se numa reunião de trabalho, debatendo, à título de exemplo, pautas de grande envergadura, tendo que ouvir intermináveis ‘bips sonoros’ no WhastsApp vindos da chatice de um aliado que não aprendeu que tudo tem o seu tempo debaixo do sol. Data Vênia!

De igual modo, não se pode, em meio ao trânsito apressado entre uma agenda e outra, por meio de falas de escape, achar que daquele ambiente brotará uma decisão robusta e definitiva. Não mesmo! Existe um rito político e administrativo e a integral atenção a tal ditame vincula tanto o governador quanto os interessados.

Vejam um sutil exemplo: no presente instante, como se sabe, o governador encontra-se nos Estados Unidos da América cumprindo agenda política estratégica juntamente com o Presidente Jair Bolsonaro, Paulo Guedes e outras importantes autoridades da República. O debate sobre o sexo dos anjos ou algumas miudezas provincianas locais não devem ser o foco das tratativas do governador.

Mesmo assim, plenamente congestionado por pautas de grande monta, não tenho dúvidas, o WhatsApp de Gladson segue recebendo assédios vindos dos vícios de intempestividades decorrente do provincianismo local.

Serei mais didático, para tanto, descreverei um cenário 100% possível. Vamos imaginar um pouco a realidade que injustamente ou com injustiça parcial leva Gladson a ser interpretado como um “sem palavra” por alguns.

Imaginemos que o Governador Gladson encontre-se, no presente instante, ao lado de Paulo Guedes, o Ministro da Economia, numa necessária conversa sobre a agenda fiscal do Acre e/ou em relação aos pleitos do governo dependentes do Tesouro Nacional.

No meio da conversa, alheio ao rito eclesiástico do encaminhamento das demandas políticas e administrativas, um sem noção (eles existem às  pampas) começa a entupir o WhatsApp do governador com mensagens, como se, naquele instante, um “despacho” fosse possível.

O que esperar do governador diante de tão sufocante, apelativa, invasiva e intempestiva tentativa de estabelecimento de diálogo? É óbvio, muito óbvio, que daí nada brotará!

Em cenários assim, quando muito, visando livrar-se da chatice que tudo isso representa, o governador, quando é possível manter a educação, responde por meio de um “ok”, “tranquilo”, “beleza”, “tá bom” e por aí vai.

O que muitos não percebem é que tais falas não são decisões. E, convenhamos, ainda bem que não são!

De qualquer sorte, não temos como dourar a pílula, essa foi a educação que Gladson ofereceu aos seus. Muitos agem assim porque pelo meio correto encontram dificuldades de efetivação.

Cabe a Gladson, após reeducar-se politicamente para tal, fazer o mesmo com aqueles que possuem demandas exigindo  tratativas com o governo.

Em síntese: o governador precisa profissionalizar a própria agenda, distanciando-se mais e mais daquelas situações que poderiam ser facilmente resolvidas pela equipe de suporte administrativo que, por sinal, existe para tal.

*Por Edinei Muniz

A Gazeta do Acre: