A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) atingiu mais de um milhão de investidores pessoa física no mercado de renda variável em abril. Foram mais de 63 mil novos CPFs, se comparado ao número registrado em março. Em abril do ano passado, eram pouco mais de 660 mil investidores pessoa física.
O Tesouro Direto também aumentou o número de investidores e alcançou 1 milhão de pessoas. Só este ano, a Ibovespa atingiu os 100 mil pontos do índice do mercado. Ao considerar os números, é notório o contínuo aumento de investidores, sobretudo jovens, segundo especialistas.
Se antigamente a maioria dos investidores tinha cerca de 40 anos, hoje a realidade é outra. Cada vez mais jovens de 18 a 30 anos mostram interesse em aprender sobre o mercado financeiro e investimentos.
É o caso o engenheiro civil e estudante Kelmy Aguiar, de 30 anos, que começou a estudar sobre como investir em 2015, após assistir ao filme O Lobo de Wall Street. Depois de quase cinco anos, ele decidiu começar a investir na Bolsa de Valores.
“Eu pesquisei na internet, fui fuçando… naquela época quase ninguém falava disso. Hoje tem um monte de youtubers falando disso. Eu procurei na internet por gente que falava sobre o assunto. Li uns materiais, assisti muito vídeo no Youtube”, conta.
Assim como milhares de brasileiros, o estudante achou que ficaria rico rápido como Bettina Rudolph, que ficou conhecida após fazer uma propaganda de uma consultora de investimentos em que falava: “Oi. Meu nome é Bettina, eu tenho 22 anos e 1 milhão e 42 mil reais de patrimônio acumulado”. Na época, o assunto virou motivo de chacota e chegou a ser o assunto mais comentado nas redes sociais.
“Eu queria investir em Bolsa de Valores para ficar rico rápido igual o cara do filme ou igual à Bettina. Mas a verdade é que não é essa maravilha toda. Eu não tive prejuízo porque treinava no simulador. Investi pela primeira vez esse ano. Claro que dá um certo medo porque é renda variável. A gente está acostumado com a estabilidade da renda fixa”.
Aguiar é um pequeno investidor e afirma que, no momento, não pretende aumentar o investimento, sobretudo devido à instabilidade política que o país vive.
“Tem que investir bem pequeno e tem que ser um dinheiro que você não precise. Investir maiores valores nem pensar! O cenário hoje não é favorável, mas quem sabe no futuro se as coisas melhorarem”.
“É uma tendência nacional”, diz economista
Mesmo não querendo arriscar mais dinheiro por enquanto, o engenheiro acompanha uma tendência nacional de investimentos no mercado financeiro. Segundo o economista Carlos Franco, o aumento no número de investidores é influenciado, sobretudo, pela crise econômica que ainda assola o Brasil.
“Com a crise, as pessoas estão com medo de investir em atividades produtivas. Então, elas vão para o mercado financeiro”.
Franco explica que as pessoas estão percebendo outros instrumentos financeiros que trazem retorno melhores do que a poupança, por exemplo.
“Tem aplicativos que você simula o funcionamento da Bolsa de Valores. Quando as pessoas veem o resultado de rentabilidade, começam a estudar. Tem muita gente que está crescendo como investidor individual. As pessoas estão perdendo o medo, estão estudando o funcionamento da bolsa pra investir”.
E por falar em Bolsa de Valores, o economista afirma que apesar do grau de risco de perder dinheiro, a B3 oferece a melhor rentabilidade anual.
“A bolsa tem dado uma rentabilidade nos últimos anos muito acima do que a média de outros investimentos. Há dois anos, a bolsa pagou 39% líquido no ano. A bolsa, na média, é uma aplicação que dá uma rentabilidade média muito boa. O problema é que isso é uma média. É o investimento que tem maior risco é o da bolsa, você não tem garantia nenhuma que você vai ganhar. A B3 é recomendada para o investidor que aceita correr um risco alto”.
Uma pesquisa intitulada ‘Ecossistema do Investidor Brasileiro’ aponta que a decisão sobre quais investimentos comprar também segue tendências, ou seja, produtos que estão em alta. Neste caso foram citados o Tesouro Direto, a LCI e LCA, as ações, nos fundos de investimento e até bitcoins.
Com uma infinidade de possíveis investimentos, pode ficar difícil escolher o melhor. A recomendação do especialista é: identificar o perfil do investidor. Afinal, como Franco diz: “A pior coisa é deixar o dinheiro parado, porque não tem riscos, mas também não ganha nada”.
E acrescenta: “Tudo depende do perfil do investidor. Se é um investidor mais conservador, que tem medo de correr risco, ele tem que ir para investimentos mais seguros. Agora, se for um investidor que aceita correr risco, ele pode investir na Bolsa de Valores. O que muito provavelmente deve dar uma rentabilidade esse ano ainda bem melhor do que investimentos mais conservadores”.
Na contramão dos investidores
Há ainda aquelas pessoas que optam pela segurança da caderneta de poupança e deixam a possibilidade de obter ganhos maiores. É o que mostra um estudo feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
A pesquisa mostra um verdadeiro abismo entre o conhecimento de finanças do brasileiro e o interesse por investimentos de risco. Pior ainda, mais da metade dos entrevistados não investem em nada.
Cerca de 57% da população das classes A, B e C não investem em nenhum tipo de aplicação nem na poupança, sendo que 44% sequer cogitam a possibilidade de começar a poupar.
“É a pior decisão possível. Se você não investe, fica com o capital parado. A pessoa tem que ver qual o perfil como investidor, se aceita correr um risco maior ou se aceita um investimento mais conservador. A ideia é que ele ganhe pouco, mas ganhe alguma coisa”, conclui o economista ao aconselhar que as pessoas procurem poupar dinheiro ou investir em algum tipo de aplicação.