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Ambiente interno do governo Gladson afeta com extrema gravidade o interesse público e não sairá impune

Disputas internas entre forças integrantes do mesmo bloco de poder, claro, são comuns, necessárias e, obviamente, úteis à consolidação de bons níveis de maturidade política e gerenciais, por sinal, vitais e indispensáveis a qualquer governo, do Oiapoque ao Chuí, no Talibã ou na Suíça.

Em maior ou menor grau, como vetor cuja presença é inevitável, já que trata-se de uma condição inerente à própria política, sempre existirão divergências, choques de opiniões, interesses contrariados e até mesmo defecções, cisões e rachas. E que bom que as coisas são assim!

É, mas existem riscos perigosos na dura convivência com essa verdade. E tais riscos podem ser fatais, especialmente,  quando não se tem nenhum controle ou a exata medida da direção para onde os conflitos internos irão conduzir as coisas, como parece ser nitidamente o caso do atual governo.

Em meio aos choques de interesses –  repito, inevitáveis e úteis quando os atores conseguem compreender o valor do bem conquistado -, o que irá definir a utilidade ou a não utilidade dos tensionamentos internos,  é o grau ou nível de afetação no tocante ao interesse público que, no caso, deve ser o palco das disputas mas jamais poderá ser o alvo de eventuais balas perdidas disparadas do campo de batalha das disputas internas.

E é exatamente aí, no ambiente do interesse público, onde reside o pecado mais grave do governo de Gladson Cameli. O interesse público, que deveria encontrar-se à salvo das contendas – e que só poderia ser atingido acidentalmente –  vem sendo desconsiderado e, não raro, utilizado como instrumento de manejos, cujos objetivos são danosos ao cerne do mesmo interesse público.

As disputas internas, diga-se de passagem, nascidas bem antes da posse em primeiro de janeiro, já insinuavam que o referido bloco de poder enfrentaria dificuldades no ambiente da acomodação e do saneamento dos conflitos de interesses.

Estou me referindo aos eventos relacionados às dificuldades semeadas em terra árida ainda na composição da chapa majoritária que, meses depois, conquistaria o direito de despachar os destinos do povo acreano em meio à agenda administrativa duríssima que viria logo mais à frente.

Aliado a tal fato, como força agravante extrema, Gladson optou por empoderar atores carentes de experiência política e, quando não, amplamente piorado por elementos sem legitimidade para a garantia de sobrevida no clima acirrado e previamente anunciado da convivência política interna.

Tal fato, escandalosamente visível, acabou por tornar a base política e parlamentar volúvel e incapaz de colaborar com a agenda administrativa, estratégica e gerencial da atual gestão, criando, sem pena e sem dó, as barreiras que hoje nos impedem de avaliar que existe, de fato, um governo instalado no Acre.

Deve doer em alguns essa verdade. Em mim, particularmente, a dor é extrema, até porque foi esse tipo de argumento que passamos longos vinte anos combatendo.

Falo da retórica repetitiva e covarde dos nossos reais adversários – os petistas e seus satélites – que, por diversas vezes, extraíram vantagens numéricas nas urnas aproveitando-se, cirurgicamente, dos choques internos de interesses que corriqueiramente levávamos à praça pública sem nenhuma preocupação com os efeitos negativos que provocariam no seio da opinião pública. No caso, as derrotas sucessivas diante de eleições ganhas foram os seus inevitáveis efeitos.

Nunca foi um fato raro na boca do Jorge Viana, a voz que durante anos à fio mostrou-se como a mais ouvida e a mais influente no tocante à retórica a ser replicada pela militância deles, o fato de que, em meio às  dificuldades de meio termo nas disputas internas, seríamos incapazes de montar um governo com garantia de oferta de padrões mínimos de governabilidade.

Jorge Viana, pelo que temos visto em cores vivas desde os primeiros dias da gestão de Gladson Cameli, reconheçamos, até que optem por produzir provas contundentes de civilidade e razoabilidade política em sentido contrário, estava coberto de razão quando manejava, mesmo que com segundas intenções, tal argumento.

Por mais dolorido que seja reconhecer, é fato inconteste que o atual grupo está deixando de lado os potenciais políticos conquistados a duras penas nas urnas e vem optando, conscientemente ou não,  por seguir semeando divisões que nos afastam dos reais interesses do povo acreano.

Não sejamos tolos de achar que sairemos impunes no dia fatal em que o tempo presente for submetido a julgamento nas urnas.

Ainda que já quase sem nenhuma esperança, até porque a agenda política eleitoral já contaminou com bactérias novas o que já encontrava-se visivelmente podre de nascença, não deixei de acreditar que o governo Gladson ainda é possível.

 

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