Ir além das quatro paredes de uma sala e compartilhar conhecimentos com a comunidade. Foi exatamente isso o que a Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO) se propôs a fazer com a elaboração do projeto “Meio Ambiente: Educar para Viver”. Na última sexta-feira, 21, um grupo composto por acadêmicos do curso de Direito do 4º ano (DIR4VA), professor e orientadora da instituição realizou uma apresentação na Escola de Ensino Fundamental e Médio Antônio de Oliveira Dantas, localizada em Mâncio Lima.
Essa foi a primeira vez que a FAAO levou um projeto ao município. A iniciativa visa cumprir a função social da instituição de ensino.
O projeto foi idealizado pelos professores Cícero Sabino e Igor Clem e executado pelos acadêmicos do curso de Direito Brenna Amâncio, Jamylly Correia, Nicole Cordeiro e Tiago Martinello. A equipe contou, ainda, com a orientação e apoio da mestre em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais pela Ufac, Iracema Moll.
Em pleno século XXI, é notória a necessidade urgente de ações práticas a fim de proteger e prevenir a degradação do meio ambiente. Tendo o Acre uma localização geográfica importante nesse contexto e mantendo em suas raízes ainda muito viva a cultura do fogo e do desmatamento, os acadêmicos do Curso de Direito tomaram a frente do projeto de extensão cujo foco foram as condutas cotidianas no meio ambiente e suas consequências jurídicas, com o objetivo de tentar romper esse comportamento meramente guiado por uma cultura tradicionalista e contraproducente do uso indiscriminado do fogo.
Olhares atentos
A ideia foi ousada. Sair de Rio Branco para levar conhecimentos sobre o meio ambiente ao município de Mâncio Lima nunca havia sido pensada antes na instituição. Um projeto que nasceu em 2018 saiu do papel e ganhou vida na manhã do último dia 21 de junho.
Ao todo, quatro turmas do ensino fundamental participaram da apresentação do projeto Meio Ambiente: Educar para Viver, na Escola Antônio de Oliveira Dantas.
Olhares atentos e um tanto curiosos. Os alunos ouviram com atenção o recado dado de forma bem descontraída pelo grupo da FAAO. E, apesar de parecer um tema exaurido, os alunos revelaram que praticam muitas condutas que acabam por degradar e poluir o meio ambiente.
“Esses jovens serão multiplicadores das informações adquiridas. É por meio de práticas preventivas que poderá haver uma mudança eficaz”, disse o professor e orientador do projeto, Igor Clem.
Emocionada por voltar à escola que estudou, a professor Iracema Moll ressaltou estar muito feliz por ter participado do projeto. Ela relembra do quanto aprendeu ali naquelas salas de aula da Escola Antônio de Oliveira Dantas, e o quanto é gratificante poder voltar e retribuir à comunidade, levando aos alunos essa mensagem de lutar por um futuro melhor para eles e para as próximas gerações.
Condutas cotidianas
Em Rio Branco, de acordo dados disponibilizados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia), no dia 13 de agosto de 2018, os principais crimes ambientais cometidos em Rio Branco são: as queimadas, água servida/esgoto, poluição sonora, disposição inadequada de resíduos e atividades não licenciadas.
O projeto levantou informações e algumas delas apontam que condutas que degradam o meio ambiente em Rio Branco estão sujeitas a sanções, de acordo com a Lei Municipal 1.459/02. As multas são classificadas em leves, graves e gravíssimas, e revertidas ao Fundo Municipal de Meio Ambiente.
Os valores das multas expressas na lei são estabelecidos em Unidade Fiscal do Município de Rio Branco (UFMRB), e corrigida anualmente.
No Acre, um dos maiores problemas está ligado ao período de estiagem. O verão amazônico, que vai de julho até setembro, é quase que convidativo aos que praticam as queimadas. Com chuvas escassas, a umidade relativa do ar fica baixa em alguns desses meses e a presença do fenômeno “friagem” torna o meio propício para queimadas desenfreadas. O grande desafio é fazer as pessoas se conscientizarem que recusar esse convite para queimar, e se empenhar um pouco mais em métodos alternativos para o fogo, é um ganho sem igual para a qualidade do meio em que vivem.
Com efeito, em 2017, os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), conforme dados registrados no BDQueimadas, apontaram 35.270 focos de calor (perímetros que englobam desde as áreas queimadas até as com risco de fogo) em toda a extensão do Acre. Em 2018, preocupantemente, esses dados (que já eram bem altos) subiram para 41.077 focos de calor.
Neste ano, do dia 1º de janeiro até o dia 20 de junho, foram contabilizados pela ferramenta apenas 468 focos. Mas, nem de perto se trata de um número a se comemorar, pois foi auferido em período fora da estação das queimas. Pelo contrário, agora é que começa o árduo trabalho, repressivo e educativo, contra as queimadas. Dos 41.077 focos registrados em 2018, por exemplo, 98,5% destes ocorreram entre julho a dezembro.
Em outras palavras, o que nos espera nos próximos seis meses?
Transformar essas preocupações em problemas do passado é possível. E foi exatamente este pensamento que o projeto tentou levar aos estudantes do ensino fundamental, em Mâncio Lima. “O papel que você joga no chão, a água que se desperdiça no banho, as folhas queimadas no quintal, o uso irracional do plástico e muitas outras ações que acabam se cruzando no nosso dia a dia devem começar a serem severamente rebatidas”, conversou Brenna Amâncio, com os estudantes.
Outra acadêmica realizadora do projeto, Nicole Cordeiro, por sua vez, frisou o quanto a atividade foi enriquecedora para ela, e da sua expectativa de que fique guardada com carinho pelos alunos. “Eu lembro que tive momentos parecidos quando criança, e que essas ações me marcaram muito. Espero que possamos, agora, marcar essas crianças aqui, especialmente para que elas ajam diferente em suas casas, comunidades, no colégio, e que sejam ativas para transformar as suas atitudes” completou Nicole.
Outras atividades
Os integrantes do projeto elaboraram um artigo científico com dados sobre as principais condutas responsáveis por degradar o meio ambiente em Rio Branco. Este material produzido serviu de base para o projeto, e foi centrado na importância que a Educação Ambiental deveria ter como protagonista no ensino brasileiro, além de destacar outra vertente, que são as principais sanções para reprimir as condutas mais nocivas ao meio ambiente.
“Nosso trabalho nos leva até essa dicotomia. Preservar o meio ambiente é algo que devemos fazer. Todo mundo tem ciência disso. Mas a rotina e a correria do dia a dia nos afastam desse compromisso, e, às vezes, até favorecem as condutas mais degradantes à natureza, porque são mais rápidas, mais baratas, mais viáveis. E aí como podemos combater estas práticas? De um lado, temos o caminho educativo, com iniciativas como essa que tivemos para transmitir essa boa mensagem às crianças. Do outro, se os hábitos ruins prevalecerem, temos uma via mais dura, que são as sanções ambientais”, destacou Tiago Martinello, um dos acadêmicos participantes do projeto.
Outra acadêmica participante da ação, Jamylly Correia, comentou o quanto a experiência contribuiu para a sua formação enquanto estudante de Direito. “O projeto terminou com essa atividade destinada às crianças, mas que também serviu de muito aprendizado para nós, acadêmicos. Foram meses de pesquisas e muito estudo sobre essa parte do Direito que é o ambiental, e que nem sempre é prioridade nos cursos e concursos que teremos pela frente, mas que já serviu para nos tornar profissionais mais completos”.
Em setembro de 2018, no Dia da Amazônia, o grupo falou sobre o projeto no programa Planeta FM, na Rádio Gazeta FM 93,3, com a apresentadora Degeane Santos.