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Secas e inundações: construindo soluções globais na nossa região

A nossa região sudoeste da Amazônia tem sido palco de três secas severas (2005, 2010 e 2016) e três inundações históricas (2012, 2014 e 2015) nos últimos quinze anos com custos e danos estimados em centenas de milhões de reais.  A ciência indica que nas próximas décadas esta tendência continuará com secas e inundações mais frequentes e mais severas.   A menos que queiramos sofrer além do necessário, seria bom pensar em como lidar com eventos semelhantes.

Com intuito de evitar o erro de fazer apenas parte do trabalho – definir os problemas e não chegar às soluções – o Parque Zoobotânico, um centro integrador da Universidade Federal do Acre (Ufac), organizou um seminário trinacional na Ufac para colher sugestões de soluções.  Os problemas que enfrentamos obviamente tem aspectos locais, mas também acontecem em outras partes do planeta.  Portanto, é importante pensar nos aspectos globais das soluções para secas e inundações.

O seminário juntou mais de cem participantes da região MAP, ou seja, de Madre de Dios/Peru, Acre/Brasil e Pando/Bolívia nos dias 23 e 24 de abril no Centro de Convenções da Ufac.  O Ministério Público do Acre (MPAC) participou da organização do evento que teve seis mesas redondas.

O título do seminário “Secas e Inundações: Construindo Soluções Globais a Partir da Região MAP” parece algo mirabolante, literalmente tentando abraçar o mundo com as pernas.   Mas de fato, secas e inundações são problemas globais – nos últimos anos, o mundo tem perdido em eventos extremos mais de cem bilhões de dólares cada ano. Soluções construídas na região MAP poderiam ser relevantes para outras regiões internacionais.  Podemos pensar este seminário como um passo para frente de uma longa caminhada.

Seguem algumas soluções propostas no seminário: capacitar professores do município de Rio Branco em meio ambiente e gestão de risco; desenvolver um plano trinacional de gestão de riscos de desastres trinacional da Bacia do Alto Acre; formar uma rede de pesquisadores nas universidades regionais trabalhando sobre a qualidade do ar;  capacitar e empoderar grupos da sociedade civil em gestão de risco de desastres; alinhar o planejamento estratégico dos Ministérios Públicos do Acre, Pando e Madre de Dios.  Obviamente, precisamos muito mais do que estas propostas, mas o seminário serviu como um início.

Estas propostas de soluções já estão sendo implementadas, algumas vão ter sucesso e outras talvez não. Afinal nem todos os chutes fazem gols. Uma solução, porém, está avançando: o monitoramento da qualidade do ar no estado do Acre. As queimadas de pastos e florestas nas épocas secas severas produzem quantidades de fumaça que faz a qualidade do ar em algumas partes da Amazônia ficar pior do que a em São Paulo.  O monitoramento da qualidade do ar é essencial para poder saber a magnitude do problema.

No seminário a Coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público do Acre (MPAC), Procuradora de Justiça Rita de Cássia Nogueira Lima, anunciou uma expansão de quinze vezes da rede existente de sensores de qualidade do ar que agora funciona em todos os 22 municípios do Acre.  Esta expansão da rede foi uma iniciativa do MPAC apoiada pela Ufac e pela Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino e Pesquisa e Extensão (Fundape), ou em outras palavras, um trabalho de equipeinterinstitucional.

A expansão também dependia de uma revolução tecnológica que baixou o preço de sensores dezenas de vezes.  A Internet facilita o monitoramento em tempo real, permitindo qualquer pessoa acessar as informações via sites como www.acrebioclima.pro.br e www.purpleair.com. Quando a cor do sensor muda de verde e amarelo para tonalidades de vermelho é para se preocupar.

Teremos uma avalanche de dados, o próximo passo é a sua sistematização, análise e utilização para ações objetivas para mitigar os efeitos das queimadas no Acre. Precisamos avançar na sensibilização da sociedade sobre as questões ambientais que todos sofremos, além de criar uma cultura de busca de soluções.

Esta colaboração entre pessoas de entidades diversas, junto com avanços tecnológicos, poderia servir como modelo para ajudar a encontrar outras soluções.   Problemas temos em abundância – não só ligados a secas e inundações – vamos trabalhar juntos para encontrar as soluções.

 


Foster Brown é pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, docente da Pós-Graduação e pesquisador do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre (Ufac). Coordenador do Projeto MAP-Resiliência.

Mariane Pita de Sá é formada em Engenharia Florestal na Ufac.

Andréa Alechandre é professora da Ufac e coordenadora de pesquisa e extensão do Parque Zoobotânico da Ufac.

Elaine Lopes da Costa tem mestrado em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais da UFMG e formada em Engenharia Florestal na Ufac.

Quéren-hapuque Rodrigues de Luna é discente do Instituto Federal do Acre.

Cristina Boaventura é diretora do Parque Zoobotânico da Ufac.

 

 

 

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