O ser humano nasceu para viver em sociedade, em contato um com o outro. Mas, no correr da vida, com o advento da “modernidade”, as pessoas passaram a viver cada dia mais sozinhas. Os motivos são variados, não iremos falar deles neste artigo, mas tão somente do mal que é solidão na vida. O filósofo alemão e existencialista Martin Heidegger (1889-1976) disse, no livro Ser e Tempo, que “Estar só é a condição original de todo ser humano”, assim cada um de nós é sozinho no mundo. Essa é uma visão filosófica, sendo a solidão olhada como um aspecto natural do viver.
À parte esse olhar de Heidegger, há recente estudo da Brigham Young University (Estados Unidos) que reforça uma antiga tese do filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), quando afirmou que o ser humano é um ente social e, assim sendo, precisa conviver com outros semelhantes. Do contrário, vira solitário. E a solidão é sempre um grito, contido ou não, de quem vive fechado no seu eu. Mesmo cercado por milhares de pessoas, cada uma no seu individualismo, sem dar atenção e afeto ao outro.
Segundo esse recente estudo americano, a solidão e isolamento social são fatores de risco para a mortalidade. Significa dizer que uma vida solitária pode acarretar consequências imediatas na saúde das pessoas e, assim, diminuir a longevidade delas. Ademais, o estudo enfatiza que a solidão, na vida humana, aumentou, progressivamente, nessa era dos seres sociais e hiper-relacionados através das redes. Quando as pessoas usam as redes sociais para enriquecer as interações pessoais, isso pode ajudar a diminuir a solidão. Mas quando servem de substitutas de uma autêntica relação humana, causam o resultado inverso.
O estudo, liderado pela professora Julianne Holt-Lunstad, do departamento de Psicologia da universidade, é uma meta-análise da base de dados de saúde de três milhões de pacientes. Os pesquisadores concluíram que a solidão e o isolamento social são tão nocivos para a saúde quanto à obesidade ou o vício em drogas, por exemplo. O resultado foi publicado na revista científica Perspectives on Psychological Science.
Qualquer pessoa poderá sofrer de solidão: uma criança de 12 anos que muda de escola; um jovem que depois de crescer em uma pequena cidade e mudar-se para outra; uma mãe que ficou sozinha após o crescimento e casamento dos filhos; um homem que ficou viúvo; uma mulher separada do esposo; uma jovem sem namorado; uma mulher divorciada; uma executiva ocupada demais com sua carreira; um pesquisador que vive debruçado em estudos. São alguns exemplos dentre milhares de outros. O fato é que vários estudos internacionais indicam que mais de uma em cada três pessoas, nos países ocidentais, sente-se sozinha habitualmente ou com frequência.
As estatísticas da solidão e o mal que causa às pessoas é algo estarrecedor. Os testes biológicos realizados mostram que a solidão tem várias consequências físicas: a) elevam-se os níveis de cortisol – o hormônio do estresse; b) a resistência à circulação de sangue aumenta e certos aspectos da imunidade diminuem; c) excesso de irritabilidade; d) impaciência; e) insatisfação com a vida; f) tristeza; g) melancolia; lentidão nas ações. Assim, os efeitos prejudiciais da solidão não terminam quando se apaga a luz. A solidão é uma doença que não descansa, aumenta a frequência dos pequenos despertares durante o sono, e faz com que a pessoa acorde esgotada. A solidão se tornou um mal social que pode levar a promiscuidade, gula, alcoolismo, uso de drogas e até mesmo suicídio. A solidão, de fato, é um dos grandes males da vida humana, como confirmam mais de 70 estudos combinados, com mais de três milhões de participantes: a solidão aumenta o risco de morte em 26% da população, dizem os cientistas.
Infelizmente, para muitos, falar com sinceridade sobre a solidão continua sendo difícil, porque é uma condição mal compreendida e estigmatizada. No entanto, dada sua frequência e suas repercussões na saúde, teria que ser reconhecida como um problema de saúde pública. Deveria receber mais atenção nas escolas, nos sistemas de saúde, nas faculdades de medicina, em asilos e nas famílias, para garantir que os professores, os profissionais de saúde, os trabalhadores de creches e de abrigos de terceira idade saibam identificá-la, abordá-la e cuidá-la. Enfim, o Governo do Brasil, a exemplo de outros países, como, por exemplo, o Canadá, o Reino Unido e a Dinamarca, deveria dar atenção ao problema da solidão, bem como criar espaços para o convívio entre essa massa solitária que está morrendo, a cada dia, sem que ninguém faça nada.
Olhemos as estatísticas da solidão no Brasil: As mulheres, maioria entre os idosos, são 50,3% entre as pessoas que vivem em arranjos unipessoais; os homens, 49,7%. No total, 15,7% das pessoas que têm mais de 60 anos não têm companhia em casa. O número médio de moradores dos domicílios no País era de 2,87 pessoas em 2015, frente a 3,20 em 2005. (Dados publicados no Jornal Estadão). A geração ganguru – aquela que vive atrelada aos país (voltaram para casa depois de fracassos matrimoniais) – está acometida pela solidão. Segundo o IBGE esses gangurus representavam 21,7% da população; em 2015 passou a 25,3%.
Solução eu não apresento, trago o tema para ser apreciado pela política brasileira, no sentido de a solidão ser olhada como um caso de saúde pública. Não se pode deixar, em pleno século XXI, um país tão populoso como o Brasil, ter esse alto índice de pessoas solitárias que estão morrendo sem que nada seja feito. O Brasil existe para os brasileiros. Então é urgente cuidar da qualidade de vida!
DICAS DE GRAMÁTICA
TÃO POUCO ou TAMPOUCO?
TÃO POUCO – é o mesmo que “muito pouco”, como no exemplo “Ganho tão pouco que não dá nem pro cafezinho”.
TAMPOUCO – é o mesmo que “também não”, como no exemplo “Não comi a salada tampouco a sobremesa”.