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A Standard Oil e o ouro negro do Juruá

No início dos anos 30 – e até mesmo antes do começo da Era Vargas – já existiam especulações sobre a possibilidade da existência de petróleo na Região do Juruá, na fronteira com o Peru, no Moa. Em 1931, já circulavam relatórios do Serviço Geológico e Minerológico Brasileiro confirmando tais indícios.
No início da referida década, a exploração de Petróleo no Brasil era praticamente nenhuma. O que existiam eram iniciativas isoladas e primitivas em algumas regiões do Brasil, como é o caso da Região de Lobato, na Bahia. Fora isso, nada mais havia de substancial.
Com a chegada de Getúlio Vargas (1930), o quadro começou a mudar após a criação do Departamento de Produção Mineral. Daí em diante, já nos primeiros anos de criação do órgão, o Acre passou a figurar como uma das primeiras regiões  escolhidas pelo governo para a realização de estudos.
E foi pelo fato de que já existiam pesquisas relativamente avançadas na região realizadas por geólogos estrangeiros. E também, obviamente, por estarmos localizados numa bacia sedimentar.
Os primeiros estudos – digamos, mais sérios, com investimento forte, programação e tudo – foram realizados entre 1935 e 1937 e confirmaram a identidade geológica do Alto Juruá com a região fronteiriça, na época, já identificada como de potencial petrolífero.
Em 1937, diante dos resultados, o Ministro da Agricultura de Vargas chegou a apontar o Acre como zona prioritária para a exploração.
No entanto, setores ligados ao Ministério  das Relações Exteriores pensavam diferente. Enquanto isso, o geólogo Pedro de Moura, Chefe do Departamento de Produção Mineral, mesmo apontando dificuldades de transporte e o elevado custo das prospecções, seguia no mesmo otimismo sugerindo o aprofundamento dos estudos.
À medida que as pesquisas avançavam, influenciado pelas boas notícias que o geólogo trazia do Juruá, Getúlio Vargas mostrava-se cada dia mais e mais entusiasmado.
Na fala oficial do ex-presidente, o Acre aparecia quase sempre como zona prioritária para as sondagens em busca do “ouro negro”. Reinava um forte clima de otimismo e expectativa na época.
Para o bloco ligado ao Ministério das Relações Exteriores, o mais viável seria investir em regiões com melhores condições de transporte, como a Bahia, à título de exemplo, onde já se tinha um ambiente levemente mais avançado em razão da existência de uma empresa privada de exploração fundada pelo escritor Monteiro Lobato.
De início, Vargas não se mostrava inclinado tanto assim à Bahia, mas se deu por vencido tão logo viu o petróleo jorrar naquela região. Em 1939, na Bahia, inaugura-se então o processo de exploração de petróleo no Brasil.
Com a euforia baiana, o Acre começa então a ficar de lado e só volta a ser lembrado quando tem início no país a campanha “O Petróleo é Nosso”.
Em 1945, com a renúncia de Getúlio, chega ao poder Eurico Gaspar Dutra, que cria o Estatuto do Petróleo e com isso abre as portas do país para o domínio estrangeiro do petróleo brasileiro por meio de contratos de concessão exploratória.
Daí em diante, começa a campanha ‘O Petróleo é Nosso” e o Acre volta a ser lembrado como possível área de exploração, mas sempre enfrentando resistências internas e externas.
Em 1951, agora pelo voto, Getúlio volta à Presidência da República e a campanha “O Petróleo é Nosso” ganha um reforço decisivo. Em 1953, Vargas cria a Petrobras e a ela entrega o monopólio da exploração do petróleo no país.
O Acre volta então a ser objeto de estudos, mas aí entra em cena a figura do geólogo Walter Link, que a “convite” da Petrobras, deixa o cargo que ocupava na gigantesca petrolífera americana, ‘Standard Oil’. e assume o setor de prospecção da empresa brasileira.
Um ponto curioso é que a Standard Oil já tinha estudado a região do Moa pelo lado peruano anos antes e já mantinha contratos de exploração nas proximidades onde Pedro Moura (o geólogo brasileiro) concentrou os trabalhos, no caso, há 40 quilômetros da fronteira peruana.
E é aí onde entra a crise. Foi o Walter Link, geólogo da Standard Oil, a figura  que influenciou a Petrobras a suspender as pesquisas que até então vinha realizando no Acre.
O mais curioso ainda é que notícias veiculadas nos jornais locais, datadas de 1928, sugerem que geólogos estrangeiros realizavam estudos de prospecção no Moa muitos anos antes sem autorização do governo brasileiro.
O que quero dizer com isso é que Walter  Link, quando sugeriu em 1960 que a Petrobras suspendesse a ideia de procurar petróleo no Juruá – no que foi atendido – já sabia da sua existência na região e o fez para proteger a ‘Standard Oil’ e seus contratos do outro lado da fronteira ou até mesmo do lado de cá, já  que logo em seguida a empresa garantiu vários contratos de exploração no Brasil.
O “Relatório Walter Link” sofreu duras críticas. No entanto, segundo dizem os especialistas, suas sugestões à Petrobras estavam certas.
A síntese do pensamento de Link é o seguinte: como a Petrobras era ainda uma empresa nova a ela seria interessante concentrar os esforços nas regiões onde os custos seriam menores.  No caso, Bahia, Sergipe e a Plataforma Continental.
Link, em verdade, não chegou a sugerir à Petrobras que desistisse do Acre em definitivo. Sugeria que a empresa primeiro se fortalecesse no mercado, em razão dos custos que teria com as prospecções no Acre.

Fabiano Azevedo: