Na época do Acre Território, o trânsito de figuras importantes da política nacional não era coisa rara por aqui. Em 2 de março de 1955, em substituição ao então governador Francisco de Oliveira Conde, aqui chegou um desses tantos exemplos. Chamava-se Paulo Francisco Torres, o Paulo Torres, que permaneceu à frente do governo até 4 de abril do ano seguinte, quando foi substituído por Valério Caldas de Magalhães.
Paulo Torres era militar e participou da campanha da Itália, integrando a Força Expedicionária Brasileira, esforço militar que ajudou a combater as potências do Eixo na Segunda Guerra Mundial.
Sete meses antes de chegar ao governo do Acre, Torres havia marcado presença importante no agosto sombrio de 1954, que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas após a pressão do inquérito que apurou o atentado sofrido por Carlos Lacerda, episódio conhecido como Atentado da Rua Toneleros (5/8/1954).
Naquele momento, o ex-governador acreano encontrava-se no comando do 3º Regimento de Infantaria, com sede em Niterói, mas poucos dias após o atentado a Lacerda foi nomeado – a contragosto de Getúlio e de Tancredo Neves (Ministro da Justiça) – para ocupar o cargo de chefe do Departamento Federal de Segurança Pública (espécie de Polícia Federal da época).
A presença de Paulo Torres à frente do órgão foi fundamental para garantir a fiel e integral apuração e identificação dos autores do atentado sofrido por Lacerda que culminou com o fim da Era Vargas 19 dias depois.
Após o suicídio de Vargas, o ex-governador acreano foi quem conduziu o inquérito que apurou as circunstâncias da morte e que concluiu por ter sido realmente suicídio. Ou não! Ainda há quem conteste!
Poucos meses após o agosto sombrio de 1954, Paulo Torres, a pedido, deixa o cargo de chefe da Polícia Federal (vou chamar assim) e pede para vir ao Acre, onde chega em março de 1955.
Aqui chegando, após identificar uma série de irregularidades, supostamente praticadas por quatro ex-governadores, articula a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os possíveis desvios.
Pressionado e ameaçado de morte, Paulo Torres pede exoneração do cargo e volta ao Rio de Janeiro, com pouco mais de um ano de governo.
Após deixar o Acre, Paulo Torres foi ainda governador do Rio de Janeiro (64/66); senador pelo Rio de Janeiro (67/75); presidente do Senado Federal (73/75) e deputado federal pelo Rio de Janeiro (79/83).
Faleceu, com 96 anos, em 12 de janeiro de 2000.
(*) Edinei Muniz é advogado e articulista do Jornal A GAZETA.