O texto trata da relação entre a linguagem e o poder, permeada pela a importância da leitura, além de frisar o poder de libertação que a leitura proporciona, libertação no sentido de autonomia do sujeito que lê. Além disso, são frisadas as vantagens da leitura em relação a não-leitura como, por exemplo, o enriquecimento de vocabulário e o exercício da imaginação humana.
Ler é uma atividade mediadora entre o conhecimento empírico adquirido e o conhecimento do mundo que os técnicos querem científico, entre o ser humano de experiência vital e o mundo técnico. Ler passa a ser a filtragem do conhecimento humano, desde sua acepção mais simples, até as formas complexas de entendimento. As chaves do conhecimento passam pela leitura, análise e crítica do visto e do vivido, do pesquisado e analisado, da forma do pensamento, da leitura.
De outra parte, a leitura exercita a imaginação, enriquece o vocabulário, preenchendo certos espaços mentais que são esquecidos na vida veloz do mundo moderno. Com isso, quero dizer que a leitura é meio e não um fim em si mesmo, que deve servir para alguma coisa mais do que a simples informação experencial de cada um, não sendo apenas um entretenimento fútil de alguns, nem exercício cabal, como acreditam outros. Pelo contrário, a leitura um meio vital para o conhecimento da linguagem de cada pessoa, dela em si mesma e com o outro, no seu mundo ou no mundo do outro. Por isso a leitura modifica o mundo, tornando-o mais rico e mais compreensível, na medida em que prolonga a vida em todas as suas formas.
E por último, a leitura é hoje não só a pedra de toque de inúmeras interelações do conhecimento, como guarda também aquela sensação prazerosa que vai muito além da precisa informação: àquela que é feita numa poltrona, quando se está lendo um bom livro de poemas, uma obra de aventura, um romance. Essa leitura enriquece a alma, a vida das pessoas pela observação atenta dos personagens, dos lugares, comportamentos, ações, cultura, linguagem, vocabulário. São tantas informações — tantas coisas a notar, experenciar, sentir, refletir, apreender – que levam a viagens, a devaneios, a análise da vida alheia e da sua própria vida.
Ademais, não se pode esquecer que a leitura é PODER e que o PODER tem relação direta com a informação e com a percepção da informação, tanto no que diz respeito aos sinais do tempo, como os sinais da economia, da política, da cultura. Assim, o PODER se nutre da informação sigilosa e da análise contínua, feita por leitores, pesquisadores que deduzem e ensaiam a verdade a ser vendida. Nesse ponto, o mercado da informação ultrapassa a fronteira da escrita, para cair novamente no círculo de pensamento.
Conclui-se dizendo que o jovem de hoje tem inúmeras possibilidades de leitura. Possui a Internet, o ciberespaço que tantas transformações trás ao mundo. Mas antes de tudo é preciso compreender que também a Cibernética prescinde do conhecimento humano, trazendo uma salada de conhecimento tão volumoso que ao usuário do computador fica apenas a tarefa de ser mero repetidor de fórmulas pré-apresentadas pelo cérebro eletrônico. Justamente ali aparece o lugar que deve ocupar o estudante moderno, com o eu pensamento. É lendo o mundo de forma empírica, pela sua experiência particular que o estudante deve procurar selecionar o material vendido como informação e ler somente aquilo que é bom, aquilo que vai ajudá-lo a ler melhor o mundo e a compreender as necessidades e os valores da vida. Assim, a leitura torna-se um caminho para a felicidade.
DICAS DE GRAMÁTICA
A QUE PONTO CHEGAMOS – AO PONTO – A PONTO DE – PONTO
1) Ao ponto.
Diz-se de carne medianamente passada: “Quero minha picanha ao ponto“.
2) A ponto de.
- a) Locução que significa prestes a; em perigo de; segue-lhe um verbo no infinitivo:
- O jovem estava a ponto de afogar-se quando chegou o salva-vidas.
- Estivemos a ponto de comprar a casa que ruiu na última enchente – sorte nossa.
- Estávamos a ponto de sair de casa quando chegou uma visita.
- b) Locução de valor consecutivo [uso das conjunções consecutivas: tão… que, tal… que, tanto… que, tamanho… que], com sentido equivalente a a pique de; também seguida de um verbo no infinitivo:
- O homem ficou furioso, a ponto de agredir fisicamente o árbitro (que esteve a ponto de perder sua imparcialidade).
- O escândalo petista é tão grande a ponto de o presidente trocar alguns ministros para compor a base do governo.
3) Ponto.
Substantivo com o sentido de ‘limite, situação extrema’e que pode ser definido (o ponto, esse ponto, que ponto, tal ponto etc.); muito usado com o verbo ‘chegar’:
- Bateu na mulher – nunca pensei que fosse chegar a esse ponto.
- O desequilíbrio o levou ao ponto da violência física.
——-
Luísa Galvão Lessa Karlberg – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Presidente da Academia Acreana de Letras; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro perene da IWA.