Muito infelizes essas declarações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante visita ao Acre nesta semana. Mostrou que estamos mal representados em Brasília, nesta área que é de tamanha importância para as nossas futuras gerações.
Sem melindres, e com um ar altivo da mais pura indiferença, Salles, em uma nítida tentativa de diminuir as bandeiras de luta de uma adversária política (Marina Silva), teve a audácia de desmerecer o legado de uma das maiores figuras acreanas. Disse que não sabia direito quem era Chico Mendes. A obra do ativista de Xapuri é reconhecida mundialmente, mas parece que não tem significado suficiente para o ministro que, pasmem, é do meio ambiente. Eu sou daqueles que defende que até pra criticar, é preciso um mero conhecimento a respeito.
Posicionamentos como esse dão um imenso desgosto para qualquer acreano que acompanhou os conflitos agrários que formaram grande parte do Acre que conhecemos hoje. Dão esse tom desanimador do que nos espera pela frente.
Salles também fez questão de enfatizar que modelos de gestões passadas no tocante ao meio ambiente, como a florestania, foram todas equivocadas, infrutíferas. O fato é que é muito fácil criticar o que já passou. Mas, enquanto essas políticas públicas eram executadas, onde mesmo estava Ricardo Salles? O que ele fazia de tão bom para o Acre? Mesmo agora, além de uma visita recheada de gastos do erário público, qual é a grande obra Sallesiana deixada para nós?
A sensação é que alguém acabou de entrar no ônibus e já quer sentar na janela.
Mais absurdas ainda são comentários feitos pelo ministro de que “o problema ambiental está nas cidades”. Então, quer dizer que nas zonas rurais tá tudo sussa? Vamos só fechar os olhos e fingir que não existe desmatamento, queimadas rurais, atividade ilegal de caça, invasão de terras indígenas, madeireiras clandestinas? Talvez assim essas coisas desapareçam.
As falas do ministro só comprovam que ele é, de fato, “um bom soldado”. Aparentemente, não destoam em nada da visão do nosso queridíssimo, mas já não tão unanimamente aprovado presidente da República. Jair Bolsonaro andou dizendo por aí, durante encontro do G20 em Osaka, no Japão, que o que o Brasil sofre é de “uma psicose ambientalista”.
Foi mais além e convidou o presidente Francês, Emmanuel Macron, para sobrevoar a floresta amazônica, a fim de provar pra ele “que não existe o desmatamento” no Brasil da forma como é propalado. Resumindo: parece que é só mostrar umas árvores plantadas na Amazônia e pronto, tá tudo bonito, o mundo é verde de novo, e não temos mais com o que nos preocupar.
A verdade é que os discursos como o do ministro Ricardo Salles e do Bolsonaro só escancaram o esforço de ambos em fazer essa tosca política “para causar”, cheio de críticas, mas nenhuma solução e com uma preocupação zero no que realmente importa: o meio ambiente.
*TIAGO MARTINELLO