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Quais prisões que você se coloca?

Quantas vezes você se sentiu imobilizado? Quantas vezes você se sentiu sufocado por situações que nem ao menos compreendia direito? Quais as prisões que você se coloca, mesmo sem “grades” que forcem a tua permanência?Pensemos.

Observando a natureza, os ciclos e a impermanência das coisas, tenho pensado sobre o movimento natural da vida e suas relações. E aí, questiono sobre a essência de estar em algum lugar, fazer parte e ser parte, assim como uma lagarta no casulo e sua lenta e gradual libertação para a beleza de ser uma linda borboleta e ter asas coloridas para voar no jardim. Penso na vida, inquieta com a possibilidade de ser forçada a alguma coisa ou ficar presa sem o valor mais importante pra mim, que é o da liberdade.

Liberdade a partir da Filosofia, diz o dicionário: é a “capacidade própria do ser humano de escolher de forma autônoma, segundo motivos de sua consciência.” Ocorre que há momentos na vida que nos sentimos condicionados, seja consciente ou inconscientemente, a tomarmos decisões ou escolhermos posições e lugares que não tem nada a ver com o nosso “propósito”. Digo isso com relação a tudo que concerne a viver e a se relacionar.  Exemplo: casamentos que não tem mais sentido; profissões que não tem a ver com o que a gente quer fazer; amizades que não dialogam mais com nossa intimidade; projetos que nem sequer começaram a ser executados, mas que nos prendem a partir de uma ilusão do porvir.

Nestas ponderações, cheguei a uma questão que me fez refletir sobre as prisões que não nos damos conta (e que nem, de fato, existem), mas nas quais nos sentimos completamente encarcerados.

Reflito sobre os apegos que temos com relação às pessoas e coisas e, nestes cárceres, muitas vezes, somos nós mesmos os nossos carcereiros implacáveis. Temos dificuldades para entender dos movimentos próprios do processo de ir e vir da vida.

Em tempos que se fala em desapegar-se, desiludir-se, autoconhecer-se e evoluir, precisamos nos conectar com a nossa essência, nossa consciência com responsabilidade, mas, principalmente, com discernimento para entender maduramente dos desapegos ao longo da vida que precisamos fazer para conseguir o nosso verdadeiro e fiel “alvará de soltura”. Entregarmo-nos para o fluir dos processos da existência, talvez, seja uma das maiores liberdades condicionais que podemos nos conceder.

 

POR MARCELA MASTRANGELO

 

A Gazeta do Acre: