Moradores encontraram acidentalmente um fóssil pré-histórico às margens do Rio Acre, em Brasileia. Curiosos com a descoberta, o grupo enviou a foto para a Universidade Federal do Acre. Uma equipe de professores coordenados por Jonas Filho está no local para a escavação e retirada da peça.
De acordo com o professor Jonas Souza Filho, coordenador do Laboratório de Paleontologia da Ufac, trata-se de um fóssil de Purussaurus, antepassado do jacaré e que viveu na região amazônica no período mioceno, há 8 milhões de anos.
“O professor Evandro me passou um vídeo e o contato. Pela imagem já dava para identificar o material. Tratava-se de um conjunto de mandíbulas. Não tinha um crânio, apenas a mandíbula esquerda e direita de um jacaré gigante, que é o Purussaurus e significa “lagarto do Rio Purus”. Essa espécie viveu aqui na Amazônia há 8 milhões de anos. Existem outros exemplares desse que vivem no laboratório de Paleontologia da Ufac. Contudo, esse não deixa de ser um achado relevante. É mais um achado do Purussaurus que demonstra o quão gigante esses animais eram”, destaca.
A equipe da Ufac, formada por quatro professores, chegou ao local nesta terça-feira, 16. Com o apoio da Prefeitura de Brasileia, que disponibilizou servidores para ajudar na escavação, o trabalho de remoção do fóssil do local tem previsão de ser concluído hoje, 17. Também acompanha de perto todo o procedimento a Secretaria de Cultura do município.
“Os pesquisadores da Ufac já se encontram em Brasileia para a retirada da peça. Nós iniciamos o trabalho na presença do seu Francisco e do seu José, que foi a pessoa que o identificou com o seu filho. Ele fez o começo de retirada, mas como não tinha os materiais devidos, a peça ficou em parte danificada. Sem nenhuma crítica, pois ele fez um trabalho excelente. No entanto, chegou um momento que ele não podia mais ter mexido, pois ele precisaria do envolvimento em gesso. Fizemos uma proteção de todo o crânio em gesso. Aí começou a chover. Colocamos uma lona para cobri-lo. Nesta quarta-feira iremos reiniciar o nosso trabalho de coleta”, relata.
Esse não é o primeiro achado em Brasileia. O Sítio Cachoeira do Bandeira, no município, é extremamente importante, garante o professor Jonas Filho. “Brasileia tem se mostrado um grande território de achados de fósseis e é uma área propícia para os trabalhos de paleontologia. Tem potencial turístico. Nem sempre encontramos o fóssil inteiro. Na maioria das vezes são fragmentos. O crânio do Purussaurus que temos lá na Ufac é o mais completo que existe”.
Além da mandíbula, que é a parte do fóssil totalmente visível às margens do Rio Acre, o coordenador da ação acredita que o crânio também esteja soterrado em algum lugar próximo. “Pela variação que nós fizemos, é possível que o crânio esteja lá também, próximo às mandíbulas. A gente vê alguma coisa. Se isso for um fato, representa o segundo achado mais completo de um Purussaurus. Estou achando que o crânio dele se deslocou mais para o lado, dentro do barranco, então tem que escavar. Ainda temos que avaliar. Pode ser uma espécie nova de Purussaurus. Só os trabalhos seguintes vão poder dizer do que exatamente esse bicho se trata”, aponta.
De acordo com Jonas Filho, depois de retirado o material, o fóssil será levado para a Ufac. Em seguida, será estudada a possibilidade de expor o material em Brasileia ou de torná-lo parte do acervo da Ufac. “Isso é uma coisa para decidir mais adiante. O certo é que ele não pode ficar na beira do rio”, disse.
Pai e filho realizam sonho de encontrar fóssil de dinossauro
A região do Alto Acre já rendeu grandes achados aos paleontólogos. Talvez, por isso, o carpinteiro José Militão de Brito, 58 anos, e o filho Robson, 11 anos, tenham nutrido o sonho de serem os próximos a descobrir um fóssil importante.
E de tanto desejarem algo assim, o sonho acabou se tornando realidade. Os dois, no último dia 11, durante uma pescaria no Rio Acre, acabaram se esbarrando no destino tão almejado.
“A gente estava pescando na beira do rio. Eu e ele temos essa brincadeira de sempre procurar essas coisas, de achar um dinossauro. Somos muito ligados a isso. Demos a sorte de ver algo parecido e fomos cavar para ver. No outro dia cavamos mais e descobrimos que era uma ossada”, conta eufórico.
Sem saber exatamente o que fazer, José pediu ajuda ao primo, o servidor público Francisco Assis, 38 anos, que entrou em contato com o professor Evandro Ferreira, da Ufac.
Logo, uma equipe de docentes foi enviada ao município para a escavação e retirada do material pré-histórico.
José Militão e Francisco Assis acompanham todo o trabalho de perto. Graças a eles, o material será salvo e irá enriquecer ainda mais a história do Acre.
“A gente ficou feliz e tivemos um sonho realizado. Sempre tivemos a ideia de encontrar algo importante, desses bichos antigos. Esse era um sonho meu e do meu filho”, conta José.
Espécie foi descoberta no Acre em 1892
Com mais de 12 metros de comprimento e um peso de 8 toneladas, o Purussaurus brasiliensis está entre os maiores crocodilianos que existiram. Era habitante de terrenos pantanosos e grandes lagos. O seu tamanho gigantesco o mantinha no topo da cadeia alimentar, já que nenhum predador rivalizava com ele. Segundo pesquisadores, a mordida do Purussaurus era duas vezes mais forte que a do Tiranossauro Rex, o mais notório dos dinossauros.
O nome Purussaurus é a junção da palavra Purus, que faz referência ao Rio Purus do Acre onde os primeiros fósseis da espécie foram encontrados, e a palavra saurus que significa réptil em grego. O nome da espécie é brasiliensis por ter sido descoberto no Brasil.
Descrito pela primeira vez a mais de 100 anos, o Purussaurus é conhecido da ciência há muito tempo, chamando a atenção o seu tamanho colossal. O primeiro registro da espécie se deu no ano de 1892, por meio de texto publicado por João Barbosa Rodrigues em nome do extinto Museu Botânico do Amazonas. Nesta publicação, escrita em francês, o autor descreve o achados de fósseis répteis ao longo do Rio Purus, no Acre, e em outras localidades, depois de ter sido feito uma expedição pela região.