Como o Brasil é altamente miscigenado, a influência dos imigrantes na gastronomia se faz notar de maneiras diferentes em cada região. Confira algumas das tradições de cada local.
Europeus, africanos e asiáticos. Não é preciso ter um alto conhecimento de história para saber que a população brasileira é altamente miscigenada. Basta notar que, ao contrário de outros países, não há uma única feição que caracterize a população do país: brancos, negros, pardos e asiáticos são todos marca registrada da nação. Do mesmo modo, boa parte das pessoas têm traços de mais de uma etnia, o que ajuda a mostrar o rico caldo de cultura que faz parte da realidade do país.
Além disso, é interessante considerar que os fluxos migratórios não influenciaram somente a aparência da população: os costumes também foram fortemente moldados por esse fator. As receitas trazidas pelos imigrantes são um bom exemplo disso: em todo o país, é possível degustar a culinária das mais diversas regiões do mundo.
Por mais que isso se faça notar em todos os locais, é interessante considerar que a imigração aconteceu de maneiras distintas em cada região. Consequentemente, a influência culinária de cada povo se deu de maneira diferente em cada local.
Inspiração africana marca culinária nordestina
Acarajé, vatapá e até mesmo o tradicional quindim. Todos esses quitutes são especialidades da cozinha nordestina, marcada pela presença de ingredientes como o coco, a tapioca, e, claro, a pimenta.
Apesar de a presença de determinados itens na região ser um fator que influenciou fortemente a culinária do Nordeste, há outra variável que não pode ser deixada de lado: a imigração africana. Com o fluxo de negros escravizados para o Brasil, houve, também, o contato com seus costumes – e sua culinária. O acarajé, por exemplo, é usado em rituais de religiões afrobrasileiras, sendo, nesse contexto, considerado sagrado. Ele é tão importante que o ofício das baianas de acarajé é registrado como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Entre os pratos que também são oferecidos como oferendas, estão as moquecas, a farofa de dendê e até mesmo a feijoada.
Há, ainda, pratos que estão relacionados com outros aspectos da cultura nordestina. É o caso do caruru, cozido que leva quiabo e camarão seco: ele é tradicionalmente servido no dia de São Cosme e Damião, em setembro.
Receitas européias são marca registrada da culinária sulista
Se no Nordeste a presença africana é a que mais se faz notar à mesa, no Sul os pratos tradicionais europeus são os que mais marcam as refeições. Alimentos como cucas (ou cuques, dependendo da região), massas, salsihas e até mesmo vinhos caseiros costumam estar presentes em diversas ocasiões.
O motivo por trás disso foi o intenso fluxo migratório de europeus na região que se iniciou logo após a abolição da escravatura, quando os fazendeiros locais precisavam de mão-de-obra barata, e se prolongou até meados do século XX, devido às duas guerras mundiais. A distância da terra natal e o apego à cultura fizeram com que os imigrantes preservassem as tradições de seus países de origem, incluindo a culinária.
Vale ressaltar que, por mais que a presença européia se faça notar no sul de modo geral, cada região é influenciada por pessoas provenientes de diferentes países. Por exemplo: enquanto que a serra gaúcha preserva mais tradições italianas, em Santa Catarina os alemães são o povo que mais se faz notar, culturalmente falando. No Paraná – mais especificamente, na região de Curitiba – há uma forte presença de descendentes de imigrantes do leste europeu, como poloneses e ucranianos.
No Norte, fusão entre imigrantes e brasileiros cria tradição culinária inconfundível
A presença de frutos do mar, peixes de rios e de frutas tradicionais da região, como o açaí e o cupuaçu, são os elementos que fazem lembrar a culinária do Norte do Brasil. A abundância desses ítens na Amazônia facilitou o aproveitamento pelo povo nortista.
Apesar disso, também é interessante considerar que o Ciclo da Borracha atraiu pessoas de diversas partes do Brasil e do mundo, que estavam atrás da fortuna prometida pela mercadoria. Com isso, europeus, japoneses, árabes e muitos outros povos se estabeleceram na região. Um dos resultados disso é a culinária que une as tradições desses povos aos insumos disponíveis na região, como no caso do arroz de pato e as diversas maneiras de preparar peixes, camarões e o caranguejo.
No Acre, a grande mistura cultural de povos indígenas, nordestinos e boivianos é percebida na culinária. A grande quantidade de rios ffaz com que os peixes sejam os principais ingredientes refletidos em pratos como o Tucunaré recheado e o Pirarucu à casaca. A posse do território que hoje corresponde ao Acre, que antes era da Bolíia, trouxe a saltenha, um dos principais salgados do estado. Os quibes de arroz e mandioca traduzem a influência árabe na região.
Fusão internacional marca o sudoeste
São Paulo é considerada uma das grandes metrópoles globais da América Latina. Lá, japoneses, árabes, portugueses, italianos e pessoas de muitas outras nacionalidades estabeleceram suas raízes, normalmente em busca de melhores condições de vida.
Culinariamente falando, isso significa que, na cidade, não apenas é possível provar pratos de boa parte do mundo, como, também, eles podem ser mesclados, resultando em combinações únicas. Por esse motivo, quando se fala do sudeste, o grande destaque não é de um povo, mas sim o fato de que as tradições dos mais diversos países se combinam de uma maneira única e impressionante.
No Rio de Janeiro já é um pouco diferente. As comidas cariocas estão muito ligadas à culinária portuguesa. Desde 1763, a cidade foi capital do império português, recebendo muitos imigrantes que trouxeram junto o gosto e as tradições lusas na comida, além de indígenas e africanos. Não é a toa que os pratos mais tradicionais da cidade são a típica feijoada carioca, mas também pratos à base de bacalhau, sardinha e frango, entre outros.