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ARTIGO: A superficialidade nos conduz

Às vezes, eu fico pensando coisas do tipo: será que as pessoas conseguem/buscam conhecer e sentir as coisas/situações/pessoas/reações na sua emaranhada e profunda complexidade? Tá bom, deixa eu ser mais clara: será que estamos preparados e observantes ativos que tudo tem uma razão de ser? Que tudo dentro dos seus contextos se equilibram entre si? Que por mais difícil de aceitar somos movidos como “bichos” diante da sobrevivência? Será que conseguimos ir à fundo nas questões e de fato compreendermos o que está por “debaixo dos panos”? Polêmico, inquietante, sim… Porém necessário.

Pois bem, sinto hoje muita falta de conversas e reflexões onde vejo que as pessoas se esforçam para compreender além dos que os “olhos nus” a princípio podem ver. Primeiramente, preciso deixar claro que é importante e saudável sermos pessoas leves e brincalhonas e até muitas vezes não precisarmos compreender profundamente todas as questões, até porque têm movimentos e situações que não precisam e nem nos cabe uma profunda e especulativa tentativa de entendimento.

Por outro lado, o que não me conformo e sempre me pego refletindo e avaliando é o quanto sem muito conhecimento e nem ao menos um trabalhoso debruçar sobre as diferentes matizes fudantes e específicas da questão em pauta, os indivíduos esboçam opiniões e defende-as com muito apreço e, por vezes (quase sempre), movidas com um cruel e “despretensioso” preconceito, sem conseguir um olhar mais amplo e sistêmico.

Embora concorde que não é tarefa de todos, sinto que com essa “democratização” dos espaços públicos de emissão de opinião, leia-se as redes sociais e tantas outras ferramentas da internet, o famoso “território sem lei” que já é não tão assim, vide legislações recentes, estamos enfrentando um momento bem propício para debatermos essas questões relativas a superficialidade que nos conduz, efeito próprio da faceta social do homem, temos algo além e invisível que nos move o inconsciente coletivo.

Entretanto, como antídoto desse movimento do ser humano, que é bem próprio de sua natureza, acredito como a educação formal e informal pode nos ajudar. É necessário convidar exaustivamente as crianças, jovens e adultos a refletirem sempre com base em perguntas fomentadoras de respostas mais abertas pra outros entendimentos, exercício que costumo fazer que me ajuda muito a buscar ir além, exemplo: o que não estou vendo nessa situação? O que estou sentindo?  O que preciso compreender dentro dessa realidade? O que essa pessoa representa pra mim? O que não entendi ainda? Eu sei falar sobre esse assunto? Posso emitir opinião? Preciso mesmo ficar dando “aula” sobre o que é certo ou errado para o outro? Em qual contexto essa pessoa, situação, problema estão inseridos? O que estou ouvindo? O que o outro tá tentando me dizer? Respiro.

Sem formato de tutorial, risos, mostro de como podemos acessar maneiras mais profundas de se viver e de se conectar com outro, estabelecermos relações sadias e respeitosas, deixando ir um velho e operante modo de sobrevivência do ataque, volto a dizer do quão irracionais podemos ser quando vivendo na superficialidade da vida.

 

 

A Gazeta do Acre: