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ARTIGO: Fumaça no Acre não é do Acre

Há mais de 30 anos pesquisamos diária e ininterruptamente o comportamento da atmosfera no Acre e em toda a América do Sul. Temos conhecimento suficiente dos fenômenos meteorológicos observados e estudados por nós, o que nos permite ter uma boa base para discorrer sobre o assunto. Nosso objetivo é mostrar e ensinar a verdade à população, tal qual Galileu fez quando afirmou que a Terra não era o centro do sistema solar, como se acreditava naquela época, mas que girava em torno do Sol.

Assim, temos a absoluta convicção de que a maior parte da fumaça que atinge o Acre, cerca de 90%, tem origem nas queimadas em território da Bolívia, do Peru e de Rondônia.

As imagens de satélite nos mostram os focos de incêndio concentrados nas planícies bolivianas e ao longo da rodovia peruana que liga Inapari, na fronteira com o Brasil, ao sopé dos Andes, passando pela cidade de Porto Maldonado. Outra concentração de incêndios ocorre em Rondônia.

É fundamentalmente necessário conhecer as leis da Física que regem a dinâmica da atmosfera. A fumaça, assim que ocorre a combustão, é rapidamente elevada por convecção do ar quente, e, na sequência, conduzida para lugares distantes antes de esfriar e, consequentemente, baixar até a superfície, onde nos encontramos.

Portanto, a fumaça ocorrida, por exemplo, em Rio Branco, eleva-se e é conduzida pelos ventos até cerca de 500km/h distantes, antes de começar a descer e chegar à superfície. Essa distância pode variar entre 300 e 700km/h ou mais dependendo da velocidade do vento acima de 100m de altura.

Assim, quando os ventos sopram do sul e suas variações sudeste e sudoeste, a fumaça oriunda da Bolívia, do Peru e de Rondônia atinge o Acre, principalmente o leste e o sul do estado.

Quando os ventos mudam de direção e passam a soprar de oeste, de noroeste ou do norte, ou seja, do interior do Acre e do Amazonas, o ar fica limpo, após 48 horas. Todos os anos observamos este fenômeno.

Nesta sexta-feira (23/8/2019), a incursão de ar polar vai trazer muita fumaça da Bolívia, deixando o céu da capital acreana bastante poluído. No entanto, a partir da tarde de sábado, os ventos mudam de direção e passam a soprar de noroeste e do norte. Assim, no domingo e, principalmente, na segunda-feira, quase toda a fumaça que estará sobre o Acre será devolvida para a Bolívia.

No entanto, deve-se combater veementemente qualquer queimada, seja urbana ou de áreas agrícolas e florestais, principalmente no inverno, a estação da seca no Acre. Nosso objetivo é tão somente mostrar a verdade científica sobre a dinâmica da fumaça.

 

*Davi Friale é pesquisador e professor, atualmente coordena o site de meteorologia O Tempo Aqui.

 

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