Um segundo. Às vezes até menos. Basta apenas uma fração deste tempo para tudo mudar. As pessoas não se dão conta do quanto à vida é frágil. A sensação que temos de nós mesmos é que somos indestrutíveis. Que nada pode nos abalar. Mexer com o nosso mundo. Mas é só passarmos por um instante difícil, uma tragédia, uma adversidade que toda a virilidade de uma vida inteira se esvai em meio à vulnerabilidade do corpo humano.
O número de acidentes que estão sendo registrados nos últimos tempos é a maior prova disso. As pessoas podem tentar controlar tudo e todos ao seu redor. No entanto, há algo que ninguém pode mudar: somos consequências dos nossos atos. Das nossas escolhas. Vítimas do destino iminente e imutável que esboçamos para nós mesmos. Ou aquele que o acaso nos impõe.
Um acidente, por sua definição, não é planejado. Ele simplesmente vem para aqueles que mais abusam da sorte. Para aqueles que mais contrariam os limites aceitáveis do zelo e da cautela. Os acidentes são indesejados, mas imparciais. Podem acontecer com qualquer um. E os estragos que eles provocam são incalculáveis. As possibilidades são infinitas. E, dentro desta margem de danos ilimitada, há aquelas consequências que são reparáveis e as irreparáveis.
A morte é irreparável. A invalidez em partes dos nossos corpos é praticamente irreparável. Só que ninguém pensa nelas na hora de pegar um carro e agir de forma imprudente atrás do volante. Nestas horas a adrenalina substitui a racionalidade. As pessoas só pensam que dirigir é um ato comum, rotineiro. Pensam que acelerar é legal, mas desconsideram os riscos crescentes por trás de cada marca que o ponteiro de velocidade do carro/moto (e agora até ônibus) ultrapassa.
Pior ainda é que nenhum motorista pensa que pode causar em outra pessoa, alguém inocente, estes prejuízos imutáveis. A gente até sabe que dirigindo, pelo tal do acidente, podemos acabar ferindo alguém. Mas será que temos a consciência de que podemos, de fato, tirar vidas? Que seremos o monstro para uma família que chora a perda de um ente querido! Ou para um pai que enterra seu filho! Creio que não. Só que não é a nossa descrença no ruim que faz com que estes riscos sejam extintos. É a nossa atenção. Nossa prudência. E isso está em falta no Acre.
Cada motorista deve fazer uma reflexão. Uma escolha pela vida. Ao conduzir um veículo e enfiar o pé no acelerador irresponsavelmente, cruzamos uma linha tênue entre a vida e a morte.
* Tiago Martinello é jornalista.