Lembro-me como se fosse hoje o dia em que meu pai, José Mastrangelo, me ensinou o que seria COERÊNCIA. Despertou-me para o conceito, utilizando, como sempre, de uma atitude sábia e lúcida.
Pois bem, eu costumava sempre fazer uma coisa que considerava normal, porém achava pouca adequada para fazer com meu pai vendo. No dia em que fui fazer diferente porque ele estava perto, ele olhou firme pra mim e disse: -HIPOCRISIA NÃO. E nada mais. Pronto. Foi o suficiente para eu entender que tínhamos que ser coerentes.
Senti na própria pele que para ter apreço pelas minhas convicções, elas teriam que estar enlaçadas com minha ação diária, e também observei que, sem isso, nós nos tornamos falsas representações de personas, não conseguimos comunicar a nossa verdade.
Por outro lado, há uma fundamentação presente de que a coerência, esse conceito filosófico moral, se baseia em interesses quase sempre individuais, que impactam e se relacionam com o coletivo, com o enfrentamento do paradoxo da incoerência, do contraditório, que permeia toda a existência dos homens.
Observo, contudo, que a coerência tão assistida pela Filosofia, pela Psicologia, pela Linguística e outras ciências, e pelas religiões, foi aos poucos perdendo o espaço como um critério valioso de autoanálise; e os lugares nos quais se exercia o trabalho de estimular o entendimento e debatermos os meios de auto-observação foi se relativizando de tal maneira que não conseguimos mais acessar questionamentos que proporcionem o autoconhecimento e a “vigília” constante de nossas ações pessoais. Ficamos, assim, no obscurantismo de teorias especulatórias.
Nesse contexto, aponto uma educação para consciência, autonomia, discernimento, afeto, como caminhos que nos levem a combater a hipocrisia de ser, estar e fazer em dissonância da oratória proferida. Aponto um verdadeiro trabalho interno e uma perspectiva coletiva como elementos importantes do processo.
Visualizo meios como perguntas: você é coerente? O que você fala e acredita fazem parte das tuas ações mínimas diárias? Você vê o outro? Você consegue, vez ou outra, praticar a auto-observação? São questionamentos pertinentes para se educar para a consciência, sem vigias externos, mais com muita presença e conexão. Desse modo, poderemos viver no tão usualmente lembrado e falado que é viver com PROPÓSITO.
Viver pelo propósito não admite mais a mentira, a superficialidade, a desconexão. Viver pelo propósito nos convida há “advogarmos” por nós, sem perder a razoabilidade e as “provas” do nosso “processo” de condutas. Olhemos com verdade para nossas coerências e incoerências da vida.
“Viver pelo propósito não admite mais a mentira, a desconexão”.