Queridos irmãos e irmãs, permita-me transcrever aqui, a carta da Conferência da Família Franciscana do Brasil – CFFB, entidade que congrega as Três Ordens fundadas por São Francisco de Assis, onde estiveram reunidos na celebração da XVIII Assembleia Geral Ordinária Eletiva, nos dias 22 a 25 agosto, em Brasília, DF. Onde iluminados pela reflexão feita a partir das perguntas: Que Mundo? Que Igreja? Que Franciscanos? E interpelados pela realidade sócio-política e econômica do nosso país, que em nossos dias se revela ameaçadora à população brasileira, especialmente os seguimentos que se encontram em situação de vulnerabilidade e indignados pelos últimos acontecimentos devastadores que se abateram sobre a Amazônia, sua gente e seu ecossistema, reafirmamos nossa incondicional comunhão com o legitimo sucessor de Pedro, o Papa Francisco e seu magistério.
Ao Papa Francisco, somos agradecidos por trazer Francisco de Assis para nossos dias, sobretudo, através de seu devotado amor pelos últimos da sociedade e por sua capacidade de diálogo inter-religioso; pela publicação da Encíclica Laudato Sì; pela convocação do Sínodo Pan-Amazônico, que será realizado em Roma, em outubro de 2019, cujo objetivo é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, frequentemente esquecido e sem perspectivas por causa da crise da Floresta Amazônica e do encontro Economia de Francisco, a realizar-se em Assis, Itália, de 26 a 28 de março de 2020 e que tem por objetivo despertar para a urgência de uma economia de inclusão, que promova a dignidade da humanidade, diante de uma economia neoliberal que exclui, concentra riqueza e devasta a Casa Comum. Outrossim, em sua Exortação Apostólica Evangelii Guadium, o Papa nos convoca a vivermos a grande profecia franciscana, que é o retorno ao Evangelho.
O Crucificado de São Damião que disse a Francisco: “vai e reconstrói a minha casa”, continua a convocar-nos para reconstruirmos sua casa nas mais diferentes realidades onde a vida clama por justiça e paz.
Como afirma o Papa Francisco em entrevista ao Jornal La Stampa-Vatican Insider, em 09/08/19, a Amazônia “é um lugar representativo e decisivo, contribui de modo determinante para a sobrevivência do planeta. Grande parte do oxigênio que respiramos é proveniente dali. Eis o motivo porque o desmatamento significa matar a humanidade”.
Na recordação especial e dolorosa pela morte de indígenas, somos solidários/as aos nossos irmãos e irmãs franciscanos/as presentes nesta região que, recentemente, sediou o Fórum Franciscano para o Sínodo Pan-Amazônico, o qual nos fez ouvir o grito dos povos originários e de todos os amazônidas, que denunciaram a devastação da Floresta Amazônica, a poluição das águas, a desvalorização da vida e o preconceito com relação às culturas nativas, numa terra sagrada e abundante de graça e beleza. Sensíveis a este clamor e, comprometidos/as com nosso carisma francisclariano, que nos convoca a uma conversão ecológica, unimos nossas vozes em defesa da Amazônia e do seu povo, no cuidado da Criação.
Com profunda indignação, cobramos atitudes dos governantes que detêm as ferramentas públicas para tal fim. Dados científicos oficiais do próprio Governo Federal comprovam a corresponsabilidade dos poderes constituídos com relação ao aumento significativo da devastação da floresta, seja pelas queimadas, seja pelo avanço do agronegócio ou pela flexibilização das leis para a exploração de minérios e madeiras, sobretudo, em terras indígenas e reservas florestais.
Neste sentido, queremos ainda reiterar a posição precisa e corajosa da Igreja: “Em sintonia amorosa e profética com a convocação do Papa Francisco, no cumprimento da tarefa missionária e da evangelização, o Sínodo é sinal de esperança e fonte de indicações importantes no dever de preservar a vida, a partir do respeito do meio ambiente” (Nota da CNBB – Levante a voz pela Amazônia, agosto de 2019).
Do lugar onde estamos, Casa de Retiros Assunção, reforçamos o nosso compromisso com a Mãe Terra e com a Criação e rogamos a Nossa Senhora que assunte essa realidade de dores e nos ajude na construção de uma sociedade justa e fraterna. Reafirmando nossa comunhão e nosso apoio incondicional ao Papa Francisco, acolhemos com alegria a realização do Sínodo dos Bispos para a Amazônia e rezamos para que este seja um novo Pentecostes para a Igreja na compreensão da realidade da Amazônia.
Finalizo, com a imagem (em destaque) do grande e incansável defensor da Amazônia: Frei Paolino Baldassari, OSM (1926 – 2016), desconhecido por muitos, mas que tive a alegria de conhecer em vida na Diocese de Rio Branco: um legado de amor, humildade e santidade, além de uma linda história pautada no Anuncio do Evangelho no interior do Acre. Falar da Amazônia, impossível não lembrar dele, da sua defesa e amor pela floresta e seus povos: seringueiros, ribeirinhos, indígenas, colonos, gente simples e pobre que vivem nos interiores das florestas, mas que ele fazia questão de visitar, passando meses visitando-os cada um deles. Um verdadeiro santo na Amazônia. Paz e Bem.
(*) Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap. Guardião do Convento Nossa Senhora dos Anjos em Itambacuri – MG Colaborador do Núcleo em Formação da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular-OFS, na Diocese de Rio Branco – AC. Encontro todo 3º domingo do mês, na Paróquia Santa Inês, às 7h.