A crise entre o governo e sua base aliada na Aleac chegou ao ponto mais crítico. A briga pela liderança do governo foi o ponto central dos debates entre os deputados que utilizaram a tribuna da Assembleia Legislativa, ontem, 24. O primeiro a tocar no assunto foi o ex-líder, deputado Luís Tchê (PDT). Para o pedetista, o governo de Gladson Cameli sofre com a falta de representatividade diante da sua base.
Tchê disse que o progressista Gehlen Diniz, reconduzido à liderança, não representa os interesses do governo, mas sim de apenas uma pessoa: o secretário José Ribamar Trindade, chefe da Casa Civil. Ele também frisou que Ribamar mentiu ao dizer aos deputados que Tchê, Nicolau Júnior e Luiz Gonzaga foram até o governador Gladson Cameli pedir as exonerações de todos os cargos dos deputados em troca da derrubada dos vetos.
“Eu quero dizer: temos dois líderes na Assembleia. O líder do Ribamar, o Gehlen Diniz, e o líder do governador, Luís Tchê. Quem me conhece sabe. Dizer que eu fui com o presidente da Assembleia Legislativa, com o secretário da Assembleia, deputado Luiz Gonzaga, que fomos ao governador e dizer que nós pedimos para exonerar os cargos dos deputados. Não! Aqui no meu colo, aqui não. Respeito! O cargo de líder é um cargo litúrgico no governo. Não é para se demitido de qualquer jeito”, retrucou o pedetista.
Ao responder o colega, Gehlen Diniz (PP) foi duro. Não mediu palavras para desconstruir a versão dada por Tchê. Foi enfático ao dizer que votou enganado, não só ele, mas toda a base, sob a orientação de Tchê para que os vetos fossem derrubados. Para ele, Tchê faltou com a verdade ao não falar a real situação sobre a derrubada dos vetos e a conversa que teve com o governador Gladson Cameli naquela tarde de terça-feira, 17, dia da derrubada dos vetos.
“Uma orientação, no mínimo fraudulenta. Eu fui enganado. Cada parlamentar votou enganado e eu ouvi isso ontem de cada um. Fomos enganados por aquela pessoa que deveria nos orientar, nosso então líder do governo deputado Tchê. A partir daquele momento, com aquelas exonerações, eu soube que o líder não tinha mais o mínimo de condição de permanecer na liderança”, pontua.
A derrubada dos vetos veio mesmo para abalar as estruturas tanto do Palácio Rio Branco quanto da Aleac. Uma história que envolve pelo menos três atores diretos. Não se sabe se Tchê entendeu errado o aperto de mãos de Gladson Cameli ao dizer que poderiam derrubar os vetos, ou se Tchê foi inocente a ponto de acreditar que não haveria retaliação com tal atitude. Nesse sentido, o deputado Roberto Duarte (MDB) disse à Mesa Diretora que não pode se colocar em suspeição. Ele também lamentou que não haja um limite com o teto de gastos e destacou que foi contrário à criação de mais 400 cargos na estrutura de governo.
A sessão foi prorrogada por mais uma hora para que todos os parlamentares pudessem se expressar acerca da mudança de líder. O autor do requerimento foi o deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB), que teve apoio quase unânime dos demais colegas presentes no plenário. Apenas o deputado Gehlen Diniz (PP) votou contrário à distensão do horário. Em dias normais, a sessão começa às 10 horas e encerra às 13 horas.