*As inscrições para o edital já estão abertas e são feitas exclusivamente pelo site do programa que neste biênio vai investir mais de R$ 15 milhões nos projetos a serem contemplados.
*A Caminhada Rumos chega ao Acre no dia 16 de setembro, do corrente ano, com Edson Natale e Adriana Moreira, da Comissão de Seleção do Itaú Cutulral
O Itaú Cultural lançou na manhã de segunda-feira, dia 2, em sua sede em São Paulo, o programa Rumos biênio 2019/2020, com a presença de 43 jornalistas do país, do diretor da instituição, Eduardo Saron, da gerente de comunicação, Aninha de Fátima, e da curadora e pesquisadora de Belém-PA, Vânia Leal. “Aqui, no lançamento do Edital Rumos, é uma hora em que a gente se mobiliza muito e é um momento especial, pois estamos com 43 jornalistas do país inteiro trocando idéias. Então, além da divulgação, tem a interação com a sociedade através do jornalismo cultural. E com alegria reafirmamos que historicamente esse programa, que está na sua 19ª edição, se torna o mais longínquo fomento de arte e produção cultural brasileira. E o nosso compromisso é com a cultura”, disse Eduardo Saron.
O edital do biênio 2019/2020 já está com as inscrições abertas desde 00h01 do dia 3 de setembro, tem a participação gratuita e devem ser feitas exclusivamente pelo site rumositaucultural.org.br. São mais de 15 milhões a serem distribuidos nos projetos contemplados.
CAMINHADA CHEGA AO ACRE DIA16 DE SETEMBRO
As Caminhadas Rumos são mantidas no calendário da instituição, percorrendo as 27 capitais do país. As pessoas que compõem as equipes que fazem as Caminhadas são membros da Comissão de Seleção do Rumos. Elas apresentam o edital aos artistas, pensadores, pesquisadores e gestores da cidade. Explicam, esclarecem, tiram dúvidas e trocam informações sobre a cena cultural local.
Em Rio Branco, no Acre, a equipe da Caminhada Rumos vai estar na cidade no próximo dia 16 de setembro e tem à frente Edson Natale, músico, autor de livros infantis, é gerente do Núcleo de Música do Itaú Cultural, e Adriana Moreira, gerente do Núcleo financeiro e controladoria.
Um programa de parceria
O Rumos não é um programa de patrocínio, mas sim um programa de parceria, de acordo com o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron. O serviço prestado à sociedade vai muito além de apenas investir recursos. É tornar acessível a arte com projetos de todos os estados brasileiros, inclusive alguns países do exterior.
O cuidado com cada projeto selecionado mostra o compromisso que o programa tem com a cultura brasileira, que é tão diversa e com vários rostos.
Durante o percurso até a exposição dos projetos, há um árduo trabalho de reconhecimento dos problemas para que o resultado final seja nada menos que ótimo.
“A gente já se viu em uma situação não só de reduzir valores quando fazemos uma análise técnica, mas de aumentar o valor que o parceiro se propõe, quando a gente percebe que não mensurou questões da dinâmica do próprio projeto. Como é que a gente amplifica a dignidade do seu projeto, a dignidade do artista? Às vezes, as questões exigem mais recursos. Então, tem essas questões que eu exemplifico bem que é uma parceria. Até itens, como, por exemplo, direitos autorais. Às vezes, a gente não consegue mensurar o tamanho das questões que vão nos abater”, comenta.
O artista tem autonomia sobre o projeto do qual é autor. Ele deve conhecer até que ponto é possível seguir com o trabalho. “Sempre a decisão final é de quem nos propõe o projeto. É disso que se trata a parceria ou mesmo de quando vai desenvolver o projeto em termo de algo com mais tecnologia, que é um tema muito forte. Às vezes, o proponente desmembrou esse caminho, já vivenciou, já viu que não dá certo, e a gente foi por outro
caminho juntos. Isso é também algo muito importante”, destaca Saron, sobre saber reconhecer o momento de mudar a direção do projeto.
O Rumos Itaú Cultural propõe uma parceria, que, certamente, não se dá numa via de mão única, como o próprio Saron destaca. “A gente oferece nossa experiência, a estrutura, a dinâmica e a dimensão do Itaú Cultural a serviço do projeto. Essa parceria também se dá do projeto para nós. Muitas das vezes, o Rumos nos indica o caminho, nos impacta, nos afeta”.
Além da parceria, que é forte neste contexto, não se pode deixar de destacar a importância da memória, que é um dos três eixos do Rumos. E que memória seria essa? A da arte da cultura brasileira, explica Saron. Ele afirma que esse foi um clamor do país.
“Isso é tão impactante para nós, que resolvemos dar mais dimensão para esse tema, tanto que ano que vem, já dando um spoiler, a gente vai ter um chamamento público além do Rumos só para projetos de memória. A relevância estava ficando tão grande no Rumos que resolvemos desassociar. É claro que as pessoas podem e devem continuar escrevendo projetos de memória dentro do Rumos. A gente vai com um chamamento público, no modelo do Rumos, muito mais focado, para projetos de fiscalização de acervo, organização Cutulralde acervo e mapeamentos de acervo, porque a gente foi muito afetado pelo Rumos”, justifica.
Jornalismo cultural em pauta
Quase todos os anos, o Itaú Cultural reúne jornalistas de vários estados brasileiros para o lançamento de uma nova edição do Rumos, em São Paulo. Durante o encontro, a cultura entra em pauta e muitos projetos são apresentados. Esses olhares atentos da comunicação levam, por meio de textos, áudios e imagens, aos seus leitores, ouvintes e expectadores mais da arte viva.
Essa ponte entre a notícia e a sociedade formada pelo jornalista é de extrema importância em dias como esses atuais. Ciente disso, o Itaú Cultural continua a apostar no trabalho de quem trata a comunicação de forma comprometida e séria.
O diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, falou ao A GAZETA e aos demais veículos de comunicação presentes no lançamento da nova edição, ocorrido no dia 2 de setembro, em São Paulo, sobre questões relevantes do programa.
Para ele, o país enfrenta um momento de necessidade em reafirmar sua pluralidade, e é esse um dos objetivos do Rumos. O diretor destacou ainda a importância do jornalismo cultural. “Parte desse processo é fundamental porque resiste, por mais complexo que sejam as redações, que vocês vivam as tensões da crise do papel, do novo digital. Termos um jornalismo cultural é fazer parte deste mundo, desta mediação cultural, entre arte e o público, cultura e a sociedade. Esse processo do Rumos só pode ter uma rede fortalecida, com diálogo com os estados brasileiros, com os artistas, com quem vai nos procurar.
Segundo Saron, reunir jornalistas de todo o Brasil é uma ação pensada em alcançar o maior número possível de pessoas e tornar a arte acessível. “Fazemos questão em começar o programa conversando e sendo provocados por vocês [jornalistas]. Algumas mudanças foram provocadas por vocês. Aqui é uma divulgação de como será o edital, qual o período da caminhada, as questões que mudam. É uma interação com a sociedade. Há dificuldades de deixar seus estados e virem para cá. Esta dinâmica é parte fundamental do sucesso, da força do programa, que já tem 22 anos”.
O edital tem sido um dos programas de maior sucesso do país, quando se trata de cultura. Assim, Saron reafirmou os sucessos do Rumos. “Com esse edital nos tornamos um dos programas mais longínquos de fomento e democratização do acesso, estímulo à participação e fruição da arte e da cultura brasileira no nosso território nacional. São 22 anos de muita experimentação e troca. Acima de tudo, 22 anos reafirmando a potência da produção cultural brasileira, do artista. Isso já vale este novo edital”.
Mudanças no programa
Diante de 43 jornalistas de todo o Brasil convidados a conhecer a nova edição do Rumos, a gerente de Comunicação do Itaú Cultural, Aninha de Fátima, falou do orgulho da equipe ao garantir acessibilidade durante o ato da inscrição, que é feita também em libras.
As mudanças positivas realizadas no programa já foi uma conquista apontada pelos jornalistas durante conversas como essas, além de ter tido grande contribuição dos proponentes. “Vamos aprendendo e melhorando o programa a partir disso”.
Pequenas mudanças são concentradas no ato da inscrição, aponta Aninha de Fátima. Uma delas é a possibilidade de a pessoa colocar seu nome social. A outra grande mudança é a de declarar um valor máximo para quem se inscreve e quem continua como pessoa física.
Quem se inscreve como pessoa física continuará assim durante todo o contrato com o Itaú Cultural. “Para pessoa física eram poucos os que ficavam até o fim, porque os descontos são maiores que os seus valores. Então, eles ficavam com projetos menores, e tínhamos uma média. Quem se inscrever como pessoa física e quiser continuar assim tem o valor máximo de até 70 mil [reais], valores brutos. Quem quiser se inscrever como pessoa jurídica não tem valor máximo”, explica.
Vale destacar que a mudança de proponentes não será possível. O artista se inscreve do jeito que quer continuar a relação contratual com o programa.
“Além disso, é uma novidade (que parece pouca coisa, mas para a comissão de seleção ajuda muito) que a gente não exigia, não exige, não é obrigatório, não demandava que quem se inscrevia nas categorias de audiovisual, por exemplo de fazer filmes ou peça de teatro, não exigia roteiro, nem ficha técnica. Dessa vez, a gente está recomendando que coloque, sim, o máximo de informação que tiver sobre seus roteiros e ficha técnica. Por quê? Porque quando estamos ali, lendo o projeto, às vezes, não visualizamos o que o filme vai dar conta lá na frente. É uma recomendação apenas, não é critério para derrubar projetos, mas que seja feito”, destaca.
Estrutura das comissões
A gerente de Comunicação do Itaú Cultural, Aninha de Fátima, frisa que as comissões de avalição fazem um trabalho brilhante.
Inicialmente, 40 pessoas do país inteiro, que não têm suas identidades reveladas para o grande público, fazem esse trabalho de avaliação. “Eles que dão “o rumo do Rumos”. Distribuímos esses projetos que garantam pelo menos uma leitura de especialista e pelo menos mais três olhares para aquele projeto. Isso é o mínimo, porque os projetos podem ter mais leituras”, aponta.
Encerrada essa fase, a comissão de avaliação se reúne e conta da experiência. O próximo passo já fica por conta da a comissão de seleção, que é formada por 24 pessoas. Treze dessas pessoas vêm de fora, o restante são gestores do Itaú Cultural.
Na segunda fase chegam, em média, 700 projetos. A leitura desses projetos é feita via sistema. Depois, os avaliadores realizam uma reunião, chamada de imersão, na qual apontam as defesas dos finalistas.
“Saímos com uma centena de nomes de projetos. No total, quem chega nessa segunda fase tem pelo menos 27 leitores do seu projeto. O projeto é efetivamente lido, avaliado com carinho e feitas todas as avaliações. Queremos que o Brasil esteja representado. Justificar nota, descrevendo-a. Justificar o porquê da nota mínima e da nota máxima. As modalidades continuam as mesmas”, declara Aninha de Fátima.
São três modalidades: criação e desenvolvimento (tudo envolvendo desde a concepção de um projeto); documentação e preservação de acervos e pesquisas (processos de pesquisas acadêmicas ou não); dos critérios de avaliação, que não são muito matemáticos, pois se trata de arte e cultura, portanto, eles trafegam na subjetividade, mas falam basicamente de singularidade (que é essa atividade de inovação, algo que só o projeto trouxe pra seleção), de relevância (o quanto ele é importante para a sua região, para as pessoas envolvidas); e a consistência (a viabilidade, se o projeto vai realmente se concretizar).
O olhar amazônico na avaliação dos projetos do Rumos
A curadora e pesquisadora Vânia Leal é uma das avaliadoras do programa Rumos. Sua terra natal é Belém/PA. Toda a sua trajetória de vida foi inserida no contexto da Amazônia. Mas foi a partir da sua atuação como avaliadora no Rumos que sua relação com a região amazônica se expandiu. Vânia conta, aliás, que um dos cernes deste edital do programa é justamente trazer à tona essa questão da diversidade cultural, e que esta só pode ser colocada em prática a partir do respeito particular dedicado a cada comunidade que participa deste projeto.
“Quero fazer um breve recorte para a Amazônia. É o lugar onde eu vivo, trabalho, e que já passou por todo um processo de ocupação, mas que ainda está envolta de mistérios. Existe um termo usado para designar as dificuldades de se viver lá, que é “Inferno Verde”. Temos um clima tropical, extremamente quente e úmido. O que isso tem a ver com a produção artística e cultural? Tem tudo a ver. O clima mexe com os nossos sentidos, a forma de pensar. O que a Amazônia passou e as constantes ocupações resultaram em um continente amazônico que, na verdade, é um território ímpar, e isso merece nossa atenção”, ressaltou a avaliadora.
Nesse sentido, Vânia Leal conta que a sua jornada como avaliadora do Rumos a fez enxergar a região em que vive como um lugar complexo em seu cotidiano, que chega a ser duro e que está longe de um patamar de igualdade. Mas que a vivência em conhecer projetos de toda a região mudaram a sua geografia humana, sua forma de enxergar o povo amazônico. Para ela, o edital do Rumos provoca essa aproximação de realidades, e muda as formas de pensar.
A professora recorda que um projeto lhe marcou muito, enquanto avaliadora. Ele veio da Vila Céu do Mapiá, comunidade próximo à Boca do Acre/AM. “Aquilo me tocou profundamente nos sentidos. Quem mora naquele lugar, distante, tem sonhos e quer realizar seu projeto. O que te soa estranho, em um primeiro momento, é como se fosse a chave para compreender quem somos, do ponto de vista cultural, estético, artístico, social, antropológico. Me nutriu de uma inteireza que mudou todo o meu modo de ser”, completou Leal.
Por fim, a curadora enalteceu a democratização do edital do programa Rumos Itaú Cultural. Ela enxerga que o edital do Rumos é simples, tira a complexidade que existe na “Era de Editais”, pois atua quase que como uma conversa, chamando os outros a participar. A participação dela nas rodas de avaliação também foi uma formação a mais para a sua vida profissional. Vânia Leal frisa que o contato e a troca com outros avaliadores, profissionais de diversas áreas, lhe demonstraram que é salutar as diferenças de opiniões, olhares e singularidades.
“Minha experiência enquanto avaliadora no Rumos foi enriquecedora. Foram duas edições consecutivas, 2015-2016, 2017-2018. Agora me colocaram como avaliadora na seleção final. Isso é motivo de muita gratidão. Externa o conhecimento que viemos adquirindo e o quanto faz a diferença na gente, no sentido de pensar a educação. Através do Itaú Cultural, me foi possível conhecer toda a região Norte viajando e conhecendo a produção local de cada lugar. Terminei minha jornada molhando os pés no Rio Tocantins. Foi uma mudança de paradigma em tudo o que eu vi e vivenciei na Amazônia”, concluiu a professora.
“Quero fazer um breve recorte para a Amazônia. É o lugar onde eu vivo, trabalho, e que já passou por todo um processo de ocupação, mas que ainda está envolta de mistérios. Existe um termo usado para designar as dificuldades de se viver lá, que é “Inferno Verde”.