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ARTIGO: Queima silenciosa

Uma semana recheada de emoções no mundo político. Assim pode ser considerada esta que estamos vivendo. A troca repentina de liderança do governo colocou mais lenha na fogueira, que já ardia com a derrubada dos vetos pelos deputados.

Ontem, quarta-feira, 25, o clima estava mais tranquilo na Aleac. Era como se entrasse em roçado no dia seguinte à sua queima. Ficaram somente as cinzas, poucos viventes, troncos ainda ardendo nas chamas, de modo que basta o soprar dos ventos que as chamas retornam. Assim tem sido a rotina da Aleac nesse governo intempestivo, em que tudo muda como as nuvens mudam de lugar.

Mas, uma queima silenciosa segue nos bastidores. Agora, o entrave é com a promulgação dos vetos. Deputado Nicolau Júnior, presidente da Aleac, já disse que vai promulgar e se o governo quiser que questione na Justiça. Não pretende ficar de mal com os colegas deputados e nem desmoralizado perante a opinião pública.

Eu lembro bem que caso semelhante aconteceu em 2018. Havia umas matérias a serem votadas, e uma delas era o projeto do então deputado Raimundinho da Saúde, que pedia a legalização do Pró-Saúde. Foi aprovado mesmo com o governador Tião Viana sendo contrário. Tanto o presidente, à época, Ney Amorim, quanto os parlamentares mantiveram a aprovação. A matéria se tornou lei e ficou para o Judiciário julgar a constitucionalidade ou não da matéria. Foi derrubada no TJ-AC, mas a Aleac não recuou. Não podia. Agora, a situação é semelhante. Não há mais espaço para recuo.

Quem é deputado sabe, são vitrines, espelhos. São vigiados, dia após dia, pelo olhar popular e da imprensa. O momento de evitar qualquer apontamento foi na hora em que os vetos foram votados. Como diz no bom acreanês: “se está dentro, deixa”. Cabe, apenas a Nicolau promulgar. Está amparado pela Constituição.

Pois bem, quanto à troca de líder… Este é um direito que é facultado ao governador. Mas, a forma que o deputado Luís Tchê (PDT) foi tratado, pensaria duas vezes em permanecer no governo. Adotaria uma linha independente, assim como fazem Roberto Duarte (MDB), Calegário (Sem Partido) e Meire Serafim (MDB).

Nada contra o novo líder, deputado Gehlen Diniz (PP). Sensato, coerente. Grosso quando tem que ser e fino quando a ocasião pede. Líder tem disso, não só diz “amém”. Ele sabe que terá trabalho para reunir toda base em torno de um propósito.

Para finalizar, penso que o governo poderia ter evitado tudo isso. Parece coisa apenas da política, mas que implica diretamente na vida do cidadão, do seu Zé e da dona Maria lá da Foz do Breu. Pesquisa do Valor Econômico, um dos mais conceituados jornais do País, aponta a queda nos investimentos no Acre. Não se observam frentes de trabalho, apenas obras pontuais em continuidade e a passos de cágado. E, mais que isso, o que se observa é uma imprevisibilidade, o que é muito ruim para o governo.

 

José Pinheiro é jornalista graduado pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e atua na imprensa acreana desde 2012.

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