Final da tarde do dia 3 de outubro de 1.226, Francisco faz da morte uma celebração, uma liturgia, um trânsito. Por ser ela um fato humano, uma realidade “da qual homem algum pode escapar”. Porém, quando ouvimos falar de “trânsito” logo pensamos em carro e nos engarrafamentos das grandes cidades, mas, no caso do Trânsito de São Francisco, quando falamos em “trânsito” falamos em “passagem”, ou seja, da passagem desta vida para a outra, isto é, de sua morte, acontecida na tarde do dia 3 de outubro de 1226, um sábado.
A morte não é ela a mensageira de uma fatalidade, embora homem vivente algum dela possa esquivar-se, não é destruidora da tessitura (organização) da vida e separadora de corações e dos elementos naturais. Não é uma criatura deformada, repelente, intrusa ou alheia à criação de Deus. Ela é também uma criatura nascida, como todas, da bondade de Deus.
Se para Francisco todas as criaturas são irmãos e irmãs, também a morte é a irmã, aquela que nos toma pela mão e nos conduz por este trecho do caminho, misterioso e sombrio. Mas a certeza que ela nos leva ao encontro com o Senhor da Vida, o Amado, o Santíssimo, o Altíssimo e Todo Poderoso Deus. Tudo o que da morte sabemos é algo exterior a nós, algo que nos chega de fora.
Por isso, não a conscientizamos. E, consequentemente, não a incorporamos à nossa história, procurando afastá-la. E como não o podemos fazer biologicamente, fazemo-lo mentalmente: recusamo-nos a pensar nela e dela falar. Rejeitamo-la. Sombrio, porque as civilizações e as culturas encheram este caminho de nuvem e sombras assustadoras. Temos famílias que Deus nos livre de falar da morte ou a perda de um ente querido.
Se a morte é irmã, isto significa que entre ela e o homem existe um parentesco, portanto não se trata de algo estranho, algo punitivo, algo fatal, algo inimigo. Também aqui aparece uma dimensão diferente: o desapego foi libertando o homem, até desejar apenas a realização no plano eterno de Deus. Tudo é bem. Tudo é dádiva. Tudo é gratuidade. Por isso ele usa a expressão: bem-vinda!
Para a Igreja, para o Papa e para a humanidade, São Francisco tornou-se inspiração daqueles valores mais essenciais do Evangelho. Por isso, sua mensagem atravessou os séculos, e continua a despertar no coração da humanidade aquilo que de melhor ela pode realizar, até mesmo falando da morte.
Por isso, no ano 1999, dez anos antes de terminar o milênio passado, a revista “Times” fez uma grande pesquisa entre seus leitores para saber qual seria a personalidade mais marcante e mais importante do milênio que terminava. Surpreendentemente – será que esse termo seria correto? – São Francisco ficou em primeiro lugar.
É surpreendente e não é. Da ótica da revista “Times”, que é secular (não cristã) e da maioria dos concorrentes que não eram personalidades religiosas, é surpreendente. Mas se considerarmos a influência deste santo na cultura mundial, não é surpreendente.
Embora o título “Homem do Milênio” não combine com São Francisco, que escolheu a humildade mais profunda e a pobreza, trata-se de um título justo. São Francisco, com efeito, influenciou profundamente todo o segundo milênio. Influenciou mais do que ninguém, principalmente a Igreja.
Enfim, ele soube como ninguém, agradecer e se preparar para a chegada a “irmã morte”, sendo submisso à toda criatura. Mormente à disposição de Deus. Daí a entrega final, generosa e alegre, fraterna e pacificada.
No seu “Cântico das Criaturas” ele diz: “Louvado sejais, meu Senhor, por nossa irmã, a morte corporal, da qual homem algum pode escapar. Ai dos que morrerem em pecado mortal, felizes aqueles que ela encontrar conforme a vossa santíssima vontade, pois a segunda morte não lhes fará mal”.
Morreu no dia 3 de outubro de 1226, com menos de 45 anos, depois de escutar a leitura da Paixão do Senhor. No domingo seguinte, 4 de outubro, foi sepultado na igreja de São Jorge, na cidade de Assis, mas o cortejo fúnebre passou antes pelo mosteiro de São Damião, para que Santa Clara, sua grande amiga, pudesse se despedir.
E que neste dia 04 de outubro, São Francisco de Assis possa interceder por todos(as) os(as) brasileiros(as), de modo especial pelos ribeirinhos, seringueiros, colonos, indígenas e todo o povo simples de Deus, que vivem na Amazônia, bem como a abertura do Sínodo da Amazônia, dedicado ao nosso pai São Francisco de Assis, para que todos nós, homens e mulheres, possamos amar a Igreja e ao Senhor, como Francisco fez e nos convida a cada dia. Paz e Bem.
Adaptado conforme: http://www.ofmscj.com.br/?p=7033
(*) Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap. Guardião do Convento Nossa Senhora dos Anjos em Itambacuri – MG. Colaborador do Núcleo em Formação da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular-OFS, na Diocese de Rio Branco – AC. Encontro todo 3º domingo do mês na Paróquia Santa Inês, às 7h.